Minhas malas já estavam prontas e esperando no hall da pensão. Meu coração acelerado pela chegada de um dia que eu nunca imaginaria que fosse chegar. Bem, pelo menos não tão cedo.Martina insistiu em fazer um café da manhã reforçado para mim. Ela pôs a mesa mais caprichada do que de costume, haviam até mesmo flores amarelas no vaso que ficava no centro. Ela não me permitiu ajudar, então tive que ficar sentada à mesa observando seus passos rápidos, mas graciosos. Enquanto eu imaginava como Martina devia ter sido em sua juventude, Lorenzo chega trazendo consigo sacolas de mercado.
Ele passa devagar por mim enquanto diz:
— Bom dia, Camila. — Os olhos verde pinho em contraste com os cabelos dourados.
— Bom dia, Lorenzo — respondi educada.
— Achou o que pedi, querido? — Martina remexeu nas sacolas.
— Achei sim, — Ele suspirou cansado. — do outro lado da cidade.
A senhora deu uma risada ao tocar o ombro do neto e afastá-lo da cozinha. Lorenzo passou novamente por mim, dessa vez concentrado em tirar o casaco. Um perfume indecifrável, mas bom, se desprendeu da peça e ficou pelo ar. Era a mistura de algo doce com algo refrescante, algo mais acentuado e algo mais sutil.
Balancei a cabeça imediatamente para recobrar os sentidos. Eu não estava louca ao ponto de ficar analisando o perfume de Lorenzo, estava? Não, era apenas sensibilidade causada pelas emoções dos últimos dias.
Tomamos café da manhã juntos como se aquele fosse o último, porque era. Mas algo dentro de mim acreditava no oposto. Talvez fosse esse o motivo pelo qual eu não estava chorando rios de lágrimas, a sensação alojada em meu peito que dizia que aquele não era o fim.
Entretanto, eu precisava aceitar que era. Que tudo aquilo, a Itália, a pensão, meus amigos, Martina, e até Lorenzo, ficariam para traz assim que o avião fosse ao céu. Tinha de aceitar que algumas coisas aconteciam porque simplesmente precisavam acontecer.
Eu tinha sido feliz ali, é claro que tinha.
Me lembraria para sempre do cheirinho de lavanda daquela casa, dos papéis de parede um pouco gastos, dos móveis de madeira escura e principalmente da cozinha que sempre exalava aromas espetaculares do que era cozinhado.
Se Martina tinha insistido no super café da manhã, eu insisti para que eles não me acompanhassem na ida para o aeroporto, caso contrário seria muito mais difícil partir.
O taxista e Lorenzo colocavam minhas malas no porta malas do veículo amarelo enquanto Martina me amassava em um abraço apertado.
— Ligue quando chegar no aeroporto, quando estiver no avião e assim que chegar no Brasil — disse passando as mãos pelas mangas do meu casaco para esticar o tecido. Ela tinha no rosto aquele mesmo olhar de quando a vi pela primeira vez, receptivo e carinhoso.
— Sim, senhora! — respondi. — Vai ficar tudo bem.
Ela assentiu beijando os dois lados do meu rosto e me guiando até a porta do táxi, que já esperava.
Antes de entrar, meus olhos insistiram em focar no rapaz loiro de semblante sério. A postura perfeita dele sequer dedurava a confusão que era sua personalidade. Lorenzo parecia não gostar de demonstrar o que sentia, por isso mantinha sempre os muros que ele mesmo erguera ao seu redor. E odiei isso naquele momento, porque eu queria, mais do que tudo, saber o que se passava em sua mente, o que aquele coração instável sentia, que emoções explodiam dentro de seu peito.
Eu nunca saberia, nunca mais.
Não adiantei o inevitável, entrei no carro e acenei pela janela, uma deixa para que o motorista começasse a dirigir. Tudo o que vi depois foi a imagem distorcida das ruas, borradas pelas lágrimas que ameaçavam cair.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Mila
RomanceCamila é uma garota alegre, esperançosa e aventureira que possui muitos sonhos, ela viaja para a Itália em busca de realizar um deles, abrir um restaurante e fazê-lo famoso. Ela conhece Lorenzo, que ao contrário dela é realista e busca apenas por co...