Ao contrário do que eu gostaria, meu final de semana foi resumido em idas ao hospital.Uma febre severa havia acometido meu corpo uma semana após o meu aniversário. Eu havia acordado com tremores e com a sensação de estar no Alasca em meio a uma tempestade de neve. Por sorte, eu tinha uma médica a um andar de distância.
Ela não tinha dito nada, mas o seu olhar já bastava. Minha mãe estava super preocupada comigo.
Eu não havia mencionado nada sobre a minha decisão de voltar para a Itália, agora, com a minha saúde de vidro piorando, seria bem mais difícil abordar o assunto e convencê-los a me deixar ir.
Abafei uma tosse. O quarto do hospital estava frio demais e com um cheiro enjoativo de algum produto de limpeza. Estremeci mais uma vez.
Minha mãe e eu aguardávamos o resultado da bateria de exames a qual fui submetida durante a minha internação de três dias. Minha mãe estava sentada numa poltrona enquanto lia algo no celular, um belo jeito de disfarçar sua agonia pela espera. Já eu ficava olhando para todos os lados, mexia no esparadrapo que mantinha o acesso na minha mão, e que já coçava, tentava me concentrar no programa que passava na televisão e tudo o que fizesse o tempo passar mais rápido.
Se havia uma coisa que eu detestava essa coisa era esperar.
Quase dei um pulo quando a médica, que acompanhava meu caso desde sempre, entrou no quarto. Estudei seu rosto em busca de respostas. Seu olhar para mim era piedoso e quase senti raiva disso.
— Você parece melhor — comentou ela em um tom de voz brando.
— Eu me sinto melhor.
A médica sorriu.
— Isso é bom.
Então ela entrou em um diálogo médico com a minha mãe, o que não me permitiu entender quase nada. Mas, pela expressão delas, não era algo muito bom.
— Pode simplificar? Qual é o resultado dos exames? Como está o meu corpo? — disparei nervosa.
A médica engoliu em seco antes de dizer:
— Infelizmente o aneurisma se mantém inoperável, e nos últimos dias teve um pequeno "colapso", o que fez o seu corpo enfraquecer e ficar sujeito a qualquer tipo de doença — explicou, olhando fundo nos meus olhos. — Também não tivemos sucesso no tratamento que poderia retardá-lo.
— Isso quer dizer que não tem mais jeito? — resumi.
A mão fria da minha mãe encontrou a minha rapidamente.
— Querida, não fale assim...
— Mas é exatamente isso, não é? — Minha garganta fechava com a ameaça de choro. — Eu não vou sobreviver a ele por muito tempo.
A médica apertou o prontuário junto ao peito, como se temesse dizer a coisa errada. Como se, com uma palavra, ela pudesse me quebrar.
— Você ainda vai ter uma vida muito feliz, Mila. — Sorriu. — Têm muitas pessoas que a amam e receberá todo carinho possível. Nós daremos uma assistência exclusiva e continuada à você.
— Nada lhe faltará, meu amor. — A voz da minha mãe estava embargada.
Lágrimas quentes e pesadas despencaram dos meus olhos. Eu me sentia enjoada e mole.
— Resumindo... Será um cuidado paliativo? — indaguei.
— Sim, querida — respondeu a médica enquanto assentia. — Cuidado paliativo.
Era isso. Não tinha mais jeito para mim.
Senti o mundo desabar sobre os meus ombros, pesado demais para que eu conseguisse me erguer. Então sucumbi e me rendi ao sentimento desolador que rasgava meu peito.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Mila
RomanceCamila é uma garota alegre, esperançosa e aventureira que possui muitos sonhos, ela viaja para a Itália em busca de realizar um deles, abrir um restaurante e fazê-lo famoso. Ela conhece Lorenzo, que ao contrário dela é realista e busca apenas por co...