Capítulo - 61

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— Não. Eu não preciso disso, posso andar perfeitamente! — reclamei.

Minha mãe estalou a língua impacientemente.

— Camila, é apenas para garantir que você não faça esforços desnecessários! — ela exclamou de volta.

— Andar não é um esforço desnecessário, mãe. — Revirei os olhos. — E eu não quero deixar de usar minhas boas e velhas pernas para andar com uma cadeira de rodas — dito isso, saí do carro por conta própria.

Lorenzo e meu pai apenas acompanhavam o desenrolar da discussão, nenhum dos dois tendo coragem o suficiente para contrariar uma de nós.

Dei um passo em falso, mas logo me estabilizei.

— Mila, eu acho melhor... — Lorenzo ia dizendo, a mão estendida para me amparar caso fosse preciso, mas não continuou a falar depois que lhe lancei um olhar desafiador.

— Já disse que consigo.

Sim, foi extremamente cansativo, eu confesso. Contudo, eu me recusava a depender de uma cadeira de rodas para andar enquanto podia fazer isso perfeitamente sem o auxílio da mesma.

Respirei ofegante ao, finalmente, desabar no sofá da sala de estar da pensão.

— Cansada? — Lorenzo provocou-me, erguendo uma sobrancelha.

Fiz uma careta para ele.

— Que bom que chegaram! — Martina aparece carregando uma bandeja com fatias de melancia. — Coma isso, bambina*, enquanto termino o jantar — ela disse e tocou meu queixo.

Enquanto comia a deliciosa melancia, observei Lorenzo carregar para o andar de cima as minhas coisas que haviam levado para o hospital durante minha internação. Depois ele desceu e se juntou a mim.

— Sabe, — começou a falar entre uma mordida e outra. — você estragou alguns planos meus. — Ele balança a cabeça como se estivesse de fato frustrado com tal fato.

— Ah, é? — Ri. — Mas, bem, você é mestre em planos. Então faça planos para os seus planos, querido — retruquei arrancando-lhe uma gargalhada alta.

Disputamos a última fatia de melancia antes de Martina nos chamar para a sala de jantar.

Durante a refeição meu pai anunciou que precisaria voltar para o Brasil para ver como seu escritório de advocacia estava indo. Apesar de ele manter seu trabalho de modo virtual no momento, era imprescindível que acompanhasse as coisas de perto vez ou outra. Eu imaginava que com a minha mãe não seria diferente em alguns dias.

Foi o que me levou a dizer:

— Acho que os dois podem voltar e resolver suas vidas pelo tempo que for necessário — tentei soar despreocupada.

Papai parou de comer.

— Pequena, não podemos ficar longe de você por tanto tempo assim — disse, o olhar cheio de preocupação.

Balancei a cabeça.

— Não tem porquê se afligir, papai. De todo modo, precisarão viver e continuar suas vidas mais cedo ou mais tarde — respondi.

Mamãe limpou a garganta e bebeu um pouco de água quando a olhei, uma ordem discreta para que eu me calasse.

Lorenzo esticou a mão por debaixo da mesa e alcançou a minha.

— O que quero dizer é que não quero que parem tudo por mim. Não acho justo com vocês que parem de viver suas vidas para se dedicarem somente à minha — tentei amenizar.

Mila Onde histórias criam vida. Descubra agora