Capítulo - 54

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Em casa, costumávamos fazer um grande churrasco na virada do ano, mas daquela vez seria diferente. Assim como tudo ultimamente.

Haveria uma festa no clube de dança que Martina frequentava. Teria dança, comidas deliciosas e do segundo andar era possível ver a queima de fogos de artifício na cidade. Seria tudo tão perfeito.

Não havia tema para a festa, contudo, todos vestiram suas melhores roupas e se arrumaram com capricho.

Mamãe tinha comprado um vestido rosa de saia rodada para mim, as mangas eram curtas e caídas dos ombros, como aqueles vestidos que vemos as meninas do campo usando nos filmes. Eu tinha amado e dado pulinhos de alegria pelo presente. E é claro, eu usava o colar de madrepérola que Lorenzo me deu.

Tivemos de nos dividir em dois carros para irmos à festa. O local estava deslumbrante como sempre, um pouco mais elegante na noite de hoje. Balões dourados e prata enfeitavam a entrada e um tapete vermelho se estendia à nossa frente.

Me surpreendi com a quantidade de pessoas presentes. Não apenas as pessoas de mais idade que costumavam ir ali, mas de variadas idades e jeitos. O que só tornava tudo ainda mais lindo.

Pegamos uma mesa perto da janela, porém logo nos rendemos a pista de dança.

As danças em grupo eram as mais agitadas e engraçadas, chegava a ser difícil acompanhar os passos em meio a tanta gargalhada. E então vinham as mais lentas, o que antes me deixava desconfortável, agora não mais.

Bem como muitas outras coisas, formar um par para dançar já havia se tornado habitual entre eu e Lorenzo. De modo que apenas um olhar bastava.

Eu amava dançar com ele. Era diferente de tudo o que eu pudesse imaginar. Apesar de já termos dançado juntos várias vezes, cada uma delas era mais mágica do que a outra. Como se cada dança tivesse seu próprio encanto e charme.

Eu também amava o sorriso que tomava os lábios dele quando estávamos envoltos em melodia, amava o brilho naqueles olhos verdes e o modo como eles não desviavam dos meus um segundo sequer. Amava estar com Lorenzo.

Após tantas danças, o banquete farto foi servido. Competi com Tommaso quem conseguia comer mais mini tortas de frango, terminamos em um empate com minha mãe horrorizada com o tanto que comi e Lorenzo às gargalhadas.

Precisei descansar um pouco antes de dançar mais. Então fiquei na mesa observando meus pais dançarem juntos e Martina dando um show com Lorenzo. Era uma cena bonita de se ver e que eu guardaria enquanto vivesse.

— Ah, cara*, eu disse — ouvi alguém dizer atrás de mim. Ao me virar deparei com uma das amigas de Martina, a mesma que uma vez olhou fundo nos meus olhos e disse algo que eu não queria acreditar.

Carmela. Esse era o seu nome.

Ela continuava com aquela expressão sábia e olhos que pareciam ler a minha alma. Mas eu precisava admitir que ela estava completamente certa.

Carmela se pôs ao meu lado com uma taça na mão, havia manchas de seu batom vermelho na borda da mesma. Ela apontou para o que eu observava antes de ela chegar.

— O coração não mente — repetiu sua frase. Quatro palavras que se agarraram a minha mente contra a minha vontade durante meses, palavras essas que me assustavam por carregarem tanta verdade.

— Você tinha razão esse tempo todo — respondi dando-lhe um sorriso.

Carmela meneou a cabeça, não para se gabar, mas em compreensão pelo que eu sentia. Ou pelo que passei a sentir.

— Eu já fui jovem como você, meu bem — começou, um olhar nostálgico. — Também já amei, a diferença é que eu não soube viver esse amor, eu tinha medo. Por mais que o sentimento fosse arrebatadoramente bom, por mais que eu parecesse sentir toda a paixão do mundo, tive medo.

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