Capítulo - 49

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Bem, tradição era tradição.

Fechei os olhos e permiti que Lorenzo decidisse o próximo passo. Senti-o se aproximar, ele segurou meu rosto com as duas mãos e pude sentir sua respiração resvalar minha face de leve.

Lorenzo comprimiu os lábios contra minha testa, em um beijo cálido e gentil. E foi o suficiente para aumentar o titubear no meu peito. O gesto foi maior e melhor do que qualquer outra coisa, e carregava respeito.

Ao abrir novamente os olhos, não pude evitar o sorriso que cresceu em meus lábios, sendo acompanhado por ele.

Tomei sua mão e voltamos juntos para a sala de estar.

Minha vez de distribuir os presentes foi logo após Tommaso, que me deu um par de pantufas de patinho. Levantei-me e comecei. Para mamãe e papai, itens de pesca para ele e um perfume italiano para ela. Para Tommaso, eu daria juízo se pudesse, mas o presenteei com uma jaqueta jeans masculina. Uma bolsa de praia para Martina. E para Lorenzo um relógio prateado de pulso.

Aos poucos, mais pessoas foram embora, de modo que ao final da distribuição éramos apenas nós da pensão e meus pais. Lorenzo preferiu entregar seus presentes por último e rapidamente. Entretanto, dissera que o meu ele entregaria mais tarde.

Tommaso deu ao primo um conjunto de cordas novas para violão, coisa que levou minha mãe e Martina a pedirem para ele tocar para nós.

Eu sabia que Lorenzo não costumava tocar violão na frente das pessoas, era como se isso fosse algo apenas dele e para ele. Talvez tivesse ligação com seu passado.

Porém, apenas porque era natal, ele cedeu. Pegou o instrumento, colocou as novas cordas e o afinou de ouvido. Sentamos para assisti-lo.

Por um momento, fiquei observando Lorenzo mexer no violão. O olhar concentrado, porém relaxado de alguma forma. Seu cabelo caía sobre sua testa quando ele abaixava a cabeça. Por fim, surgiram as primeiras notas, nascidas da parceria do violão e de suas mãos habilidosas.

Meu coração deu um salto quando reconheci a melodia que me era tão familiar. Seu olhar atravessou a sala, e também qualquer barreira que pudesse haver entre nós, e focou em mim.

Lorenzo tocava "Oração" de A Banda Mais Bonita da Cidade. As mãos dos meus pais alcançaram as minhas de imediato e cantamos baixinho. Lorenzo também cantava, em um português um tanto embolado, mas de uma maneira tão suave e bela. A voz aveludada em compasso com a melodia.

Dessa vez, não consegui me conter. Lágrimas grossas desceram pelas minhas bochechas, e permiti.

Aplaudimos quando a música acabou. Tinha sido tão lindo.

Ele estendeu o instrumento para o primo, passando a função de músico para outra pessoa. Surpreendi-me ao ver que Tommaso também tocava, mas, ao contrário de Lorenzo, ele optou por algo animado e que arrancou gargalhadas e dança dos espectadores.

Lorenzo se aproximou lentamente de mim e se abaixou.

— Posso falar com você a sós? — pediu.

— Claro. — Segui-o porta a fora.

A noite estava fria, entretanto o calor do momento equilibrava o clima. Nos sentamos lado a lado na escadinha em frente a porta da pensão.

— Você me deixou sem palavras — quebrei o silêncio, apontando para a casa atrás de nós.

— Ouvi você cantando essa música uma vez e procurei na internet — explicou. — Sabia o quanto era especial para você e fiz questão de aprender a tocá-la.

Suas palavras aqueceram meu coração.

— Por que não costuma tocar na frente das pessoas? — perguntei, enfim.

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