Capítulo - 02

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Era o meu terceiro dia de trabalho, apenas três dos candidatos que competiram comigo foram contratados. Uma moça chamada Francesca, que coincidentemente era francesa, outra moça italiana cujo nome era Giordana e Filipo, um rapaz também italiano.

Eles foram gentis comigo, talvez estivessem tão assustados quanto eu, além disso foi engraçado quando eles tentaram falar o meu nome completo. Por isso sugeri que me chamassem apenas de Mila, como a maioria das pessoas fazia.

Parei minha bicicleta vintage azul, que eu havia comprado há não muito tempo ali mesmo na Itália, na parte de trás do restaurante onde ficavam a entrada para funcionários e o portão de descarregar mercadorias.

Podia ser impressão minha, mas quando entrei na cozinha havia um clima diferente do habitual. Me esgueirei por entre os cozinheiros até ver o motivo do aglomerado.

O motivo era alto, loiro e sério. E me olhou como se tivesse marcado um alvo no meu rosto.

Terminei de abotoar o dólmã e pus as mãos atrás do corpo.

— Todos aqui já devem ter uma noção básica de quem eu sou e do que exigirei de cada um de vocês... — Ele entrou em um discurso sobre o quanto o restaurante Romano's era renomado naquela área, mas também o quanto havia para conquistar. — Espero que tenham entendido. Agora vamos trabalhar.

— Certo chefe Lorenzo! — respondemos em uníssono.

Minha voz se sobressaiu por conta de como pronunciei o nome dele, e bastou isso para que ele me olhasse.

— É Lorenzo — corrigiu dando ênfase ao "r" e entoando o "zo" como "dzo".

— Lorrrrrrrenzo — tentei mais uma vez. Ele por outro lado revirou os olhos nos dando a deixa para trabalhar.

Que arrogante!

Suspirei e comecei a obedecer às ordens de Valenccio, que por outro lado foi paciente.

Enquanto eu preparava um molho com queijo e manjericão, olhei de relance para o chefe da cozinha. Ele exibia um xapô com seu nome bordado. Suas mãos se movimentavam com agilidade, como se já soubessem de cor e salteado o que fazer. Seu rosto assumiu um ar de concentração e algo mais. Porém logo se desfez quando notou que eu o olhava.

Virei o rosto para a panela à minha frente. Eu não podia me distrair, precisava ficar nesse emprego e se queimasse algo teria minhas chances de permanência reduzidas.

Mal vi as horas passando com toda a correria na cozinha. Pratos eram preparados, mais pedidos eram feitos a cada segundo, ordens eram dadas e nós nunca parávamos para nada!

Se não fosse a paixão pela culinária, eu estaria aqui? Apenas para comer, provavelmente.

Era cansativo, mas sentir todas aquelas misturas no ar, os sabores que eram formados, os detalhes e segredos de cozinha... Tudo isso era uma motivação. Sem contar a expressão que os clientes faziam a cada garfada.

— Vai ficar aí parada olhando ou vai trabalhar? — Lorenzo questiona surgindo de surpresa.

Levei a mão ao coração. Eu estava espiando o restaurante pelo vidro da porta da cozinha.

— Santo Deus... — Engoli em seco. — Eu estava apenas...

Ele cruzou os braços.

— Não me importo com o que estava fazendo, apenas volte ao trabalho — respondeu irritado.

Apertei as mãos e os lábios. Por que ele tinha que ser tão chato? Ok, eu quase o havia matado com aquelas malditas castanhas, mas eu já pedi desculpas e me expliquei! Então por que agir assim?

Mila Onde histórias criam vida. Descubra agora