Capítulo - 15

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Na segunda semana, Lorenzo continuou como estava, o que por um lado era bom levando em conta de que seu estado de saúde não havia piorado e sim se mantido estável.

Martina e eu nos revezávamos no hospital. Eu não tinha deixado Jean nos render nas escalas porque não era justo, simplesmente não era.

Ainda tínhamos que usar as roupas protetoras e tudo o que entrava no quarto ou saía tinha de ser limpo. Incluindo as flores que eu havia levado, mas elas não resistiram à desinfecção e acabaram murchando. Fiz uma nota mental para trazer outras.

Na terceira semana levamos um susto quando os sinais vitais de Lorenzo ficaram uma loucura no monitor. Senti um nó se formar na minha garganta naquele dia, e também fiquei mais tempo no hospital só para garantir que ele não estaria sozinho.

Martina parecia mais frágil de alguma forma. Ela era forte, porém dada a situação era como se algo estivesse apagando-se aos poucos dentro dela, como uma chama de esperança virando uma centelha pequenininha.

Eu me ocupava em trabalhar, ficar no hospital e cuidar da pensão e da dona dela. Então não tinha tanto tempo para pensar muito, o que de certa forma veio a calhar, porque se eu pensasse em tudo o que vinha acontecendo estaria surtando.

Jean vinha sendo um amigo como nenhum outro, é claro que Francesca, Giordana e Filipo faziam de tudo para ajudar, incluindo levar comidas para Martina e para mim e passarem horas conversando conosco para dissipar um pouco da tensão. Mas com Jean era diferente, ele parecia trazer sossego e paz quando chegava. Parecia ser capaz de absorver o clima ruim e transformá-lo em um momento bom.

Exatamente como estava fazendo agora.

Estávamos no sofá da pensão assistindo "O Melhor Amigo da Noiva" e comendo pipoca temperada. Era noite, a brisa morna entrava pela janela aberta trazendo o cheiro das árvores do jardim da frente, tornando o clima mais leve.

Em uma cena engraçada do filme fiz a besteira de beber meu refrigerante, que acabou saindo pelo meu nariz quando gargalhei.

— Me... desculpe por isso... — falei enquanto engasgava, ria e limpava meu rosto com papel toalha.

Jean gargalhava e tentava, atrapalhado, me ajudar.

Só não fiquei com vergonha porque havia sido engraçado junto com a cena do filme.

Era um pouco tarde quando acabou nosso "cinema".

— Sugestão para o próximo? — perguntei pegando o controle remoto.

Ele jogou a cabeça para trás apoiando-a no encosto do sofá.

— Eu bem que adoraria, mas preciso ir embora, ou sua protetora vai me expulsar daqui com uma vassoura em mãos — brincou se referindo à Martina.

— Deixe de ser bobo — dei uma batidinha em seu ombro enquanto sorria.

— Falando sério, preciso mesmo ir. Tenho uma reunião de trabalho amanhã e não posso me atrasar por dormir demais — explicou se levantando, sendo seguido por mim.

— Tudo bem, continuamos nosso cinema outro dia.

Peguei sua jaqueta verde musgo de onde estava pendurada e lhe entreguei, nesse momento seus olhos negros olharam bem fundo nos meus, depois desceram para a minha mão que tocava a sua acidentalmente.

Jean deixou a jaqueta de lado e pegou minha mão. Sua pele era macia e estava quente. Um choquezinho percorreu meu corpo.

Ele ainda encarava minha mão enquanto deslizava o polegar pelo dorso da mesma. Tomou fôlego e disse:

Mila Onde histórias criam vida. Descubra agora