Capítulo - 53

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Só porque eu estava em cuidado paliativo não significava que estava livre das baterias de exames e consultas médicas, sem contar os medicamentos para o alívio dos sintomas. O que era bem cansativo.

Minha mãe deu um jeito para que eu tivesse uma consulta a cada semana enquanto eu estivesse na Itália, de forma que frequentaria um médico mais vezes do que esperava.

Mas se era para tranquilizá-la, e para garantir que o sofrimento fosse menor, eu o faria. Além disso, precisaria usar isso para um acordo futuro, como uma moeda de troca.

Eu tinha alguns planos em mente, queria garantir que minha saúde fosse a melhor possível até que o momento chegasse. Caso contrário, poderia dar adeus aos planos.

Meus pais me acompanharam na consulta e exames que tomaram todo o nosso dia. Mal via a hora de chegar em casa e dormir por quanto tempo eu quisesse.

Já era de tardezinha quando fui liberada. Encontrei meus pais me esperando na sala para acompanhantes e voltamos juntos para a pensão. Tentei parecer o mais descontraída e inabalável possível, pelo menos enquanto estivesse com eles. Mesmo com uma tempestade se armando dentro de mim. Precisava passar-lhes força e confiança, mostrar que estava tudo bem, apesar de não estar nem um pouco. Contudo, por muitas pessoas e para muitas pessoas, eu tinha que ser forte.

A casa estava quentinha quando entramos. Senti-me abraçada por ela, de alguma maneira. E havia um cheiro maravilhoso de comida no ar.

Lorenzo apareceu quase que imediatamente, caminhando a passos largos até mim. Não pude deixar de ficar surpresa quando ele me recebeu com um abraço apertado, bem como eu já havia feito com ele antes. Sorri diante do gesto.

Ele cumprimentou meus pais e se inclinou para me dizer:

— Senti tanto a sua falta.

O calor aumentou nas minhas bochechas. Dei-lhe um sorriso um pouco cansado.

— Você é um péssimo mentiroso — brinquei, sabendo que ele falava a verdade, e empurrei seu braço com o meu.

Ele deu um sorriso largo, depois nos conduziu para a sala de jantar onde a mesa já estava posta.

O cheiro bom era de uma enorme lasanha disposta no centro da mesa, avassaladoramente convidativa. Meu estômago roncou alto.

— Ah, bambina mia*! — Martina veio da cozinha usando luvas de pano nas mãos. — Que bom que chegaram. Espero que estejam com fome! — Ela beijou o topo da minha cabeça quando me sentei à mesa.

— Eu estou sim! — exclamou Tommaso, aparecendo com o vinho.

Martina bateu nas costas dele com uma das mãos enluvadas.

— Não estava falando com você, menino malcriado — ela brigou, o que só o fez rir mais.

Quando todos já estavam sentados começamos a comer. Devorei a primeira fatia como se nunca tivesse comido lasanha antes, depois repeti mais duas vezes. Dei graças pela culinária italiana e seu mistério de ser tão boa.

Tornou-se costume ficarmos conversando um pouco após os jantares, não foi diferente naquela noite.

De estômago cheio e embalada pelo burburinho das conversas, fui ficando um pouco sonolenta. O dia tinha sido cheio e minha mente não parava.

Arrumamos a mesa e meus pais subiram logo depois. Fiquei para ajudar a organizar o que faltava. Martina fez perguntas sobre os exames, não me senti constrangida ou ofendida. Afinal, eu entendia que sua preocupação era como a de uma avó. Expliquei-lhe tudo com paciência.

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