Meus pais chegariam naquela manhã. Levantei cedo da cama sentindo uma animação percorrer meu corpo. Desci para o café da manhã pulando nos degraus da escada acarpetada.Martina já estava de pé e colocava a mesa enquanto cantarolava. Seu rosto se iluminou quando me viu.
— Bom dia, ragazza*!
— Ótimo dia, Martina! — Retribuí seu abraço tipicamente italiano.
Reparei nas flores que estavam no jarro sobre a mesa, eram idênticas às que recebi no dia do meu aniversário, acompanhadas do bilhete de remetente "L".
— Espero que tenha dormido bem — disse ela, dando continuidade ao seu trabalho.
— Melhor impossível — respondi com sinceridade. — Acho que a Itália é mágica.
Ela riu e balançou a cabeça.
— Os lugares se tornam mágicos quando encontramos os motivos que os tornam mágicos.
Antes que eu pudesse perguntar o que ela queria dizer com aquela frase, Lorenzo aparece na sala de jantar. Ele usava uma bermuda simples, camiseta de algodão amarrotada e as mechas de seu cabelo se espalhavam para todos os lados. Eu nunca havia visto ele tão... natural.
Não pude deixar de sorrir. Ele parecia um menininho emburrado que acabara de acordar contra sua vontade.
Quando finalmente deu pela minha presença, suas bochechas enrubesceram.
— Droga — disparou. — Eu havia me esquecido de que não estávamos mais sozinhos. — Lorenzo deixou escapar uma risada envergonhada.
Balancei a cabeça.
— Tudo bem, isso prova que você não é tão perfeito quanto acha que é — provoquei, conhecendo bem o seu ego.
Isso fez ele me lançar um olhar desafiador e rir.
Ele se sentou na cadeira à minha frente, de modo que as flores amarelas ficaram entre nós. Lorenzo também reparou, e certamente também reparou quando fiquei olhando-as.
— Obrigada — disparei baixinho. — Por ter lembrado.
Ele deu aquele sorriso, que fazia qualquer coração acelerar loucamente, e inclinou a cabeça ao agradecimento.
Eu estava pendurando algumas roupas no meu armário quando ouvi a voz da minha mãe. Saí em disparada descendo as escadas de dois em dois degraus e escancarando a porta.
Minha mãe estava com um chapéu de turista e falava em português com o pobre taxista, que não entendia uma palavra sequer enquanto ajudava meu pai a tirar as malas do carro.
— Muito obrigada, querido, dirija com cuidado nessas ruas loucas. Nunca vi tantos italianos gritarem quanto no transito daqui! — Mina mãe tagarelava acenando para o motorista.
Fui ao seu socorro e agradeci em italiano, o que fez ele sorrir de alívio.
— Oh, querida, onde estão seus sapatos? Já disse para você não andar por aí descalça como uma molequinha — ela brigou comigo. Na correria para recebê-los, mal notei que estava sem chinelos.
— É bom vê-la também, mamãe!
— Onde está a minha molequinha? — papai disse, arrastando uma mala enorme.
Ajudei-os a entrar na pensão com todas as bagagens.
— Martina foi à feira, mas volta logo... — falei, deixando a mala gigante de qualquer jeito na entrada. — Por Deus, mãe, por que trouxe uma mala tão grande?

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Mila
RomanceCamila é uma garota alegre, esperançosa e aventureira que possui muitos sonhos, ela viaja para a Itália em busca de realizar um deles, abrir um restaurante e fazê-lo famoso. Ela conhece Lorenzo, que ao contrário dela é realista e busca apenas por co...