Não foi de uma hora para a outra que eu me recompus.Ainda era difícil encarar a situação, entender que a linha do tempo não se estenderia muito para mim. Aceitar que agora eu era, literalmente, uma bomba relógio.
Dois dias seguintes à ligação de Lorenzo, saí do meu quarto. Fiz um esforço para descer as escadas cedo e preparar o café da manhã. Terminava de fazer o café quando meu pai entrou pela porta da frente. Ele ficou surpreso e estático quando me viu, segurava sacolas cheias de compras.
Dei-lhe um sorriso, que ele retribuiu.
Em silêncio, meu pai e eu colocamos a mesa. Como sempre, não precisou de palavras para que nos comunicássemos e para dizer que ficaria tudo bem.
Minha mãe apareceu logo depois, com olheiras sob os olhos e braços estendidos ao me ver.
Comemos juntos como se nada tivesse acontecido, como se fôssemos sempre felizes assim.
Quando se está doente, as pessoas tendem a querer agradar, seja com palavras ou na realização de pedidos. É claro que eu não queria usar coisas assim ao meu favor, não queria ganhar nada só porque estava doente. Mas, se precisasse, usaria essa carta na manga.
Durante a tarde, enquanto assistíamos televisão, mencionei de uma vez a minha decisão de ir para a Itália. A resposta fora um não óbvio.
— Eu quero voltar lá enquanto ainda posso...
Minha mãe abanou as mãos.
— Não. Mila, você está muito frágil, não pode se arriscar indo para o outro lado do mundo — respondeu enfaticamente.
— Mesmo se isso me fizer feliz?
— Pensei que você fosse feliz aqui — ela disse de um modo ofendido.
Balancei a cabeça.
— E eu sou, mas aquele lugar também me faz feliz — respondi.
Minha mãe suspirou alto.
— Mãe, todos sabemos que vou morrer, eu só queria fazer mais isso antes de acontecer. — Odiei o modo como aquilo foi tão verdadeiro, porque machucava não só a mim, mas todos ao meu redor.
Afinal, era isso que uma bomba causava, não era? Quando explodia, machucava sem limites tudo o que estivesse à vista.
— Por que não vai com ela? — meu pai sugeriu quando nós duas não falamos nada. Minha mãe levantou os olhos para ele. — É um desejo da nossa filha, Hellen. Já que está tão preocupada com essa viagem, e considerando que você é médica... Por que não vai com ela?
Assenti freneticamente, orgulhosa da ajuda dele. Ele tinha uma expressão calma e compreensiva.
Minha mãe massageava as têmporas, refletindo sobre os prós e os contras, os contras mais do que o outro.
— Certo — disse vencida. — Vamos para a Itália.
Minha mãe cuidou de toda a parte que envolvia minha saúde, isso incluía medicamentos e tudo mais. Papai e eu ficamos responsáveis por todo o resto.
Depois de muito insistir, convenci-o de ir conosco. Sua condição foi três dias e nada mais para ele na Itália, porque não gostava muito de ficar longe de casa.
Conseguimos as passagens separadas, de modo que eu teria de ir um dia antes deles. Mamãe quase desistiu de tudo, mas eu garanti que daria certo e que, se precisasse, ficaria a viagem todinha ao telefone com ela.
Decidi que não contaria a ninguém, queria fazer uma surpresa. Isso também integrava meus amigos.
Tudo estava pronto. E agora era oficial, eu voltaria para a Itália.
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Mila
RomanceCamila é uma garota alegre, esperançosa e aventureira que possui muitos sonhos, ela viaja para a Itália em busca de realizar um deles, abrir um restaurante e fazê-lo famoso. Ela conhece Lorenzo, que ao contrário dela é realista e busca apenas por co...