Como eu havia previsto, minha mãe se deu bem com os meus amigos. Giordana em especial.Combinamos de passear por Roma naquele dia, passando em cada cantinho e experimentando comidas por onde passássemos. Fillipo falava com minha mãe sobre alguns costumes brasileiros que ele achava incrível enquanto gesticulava enfaticamente. Giordana, com seu italiano carregado, conversava com meu pai junto à Francesca. E Jean... Ele estava ao meu lado, em completo silêncio.
Martina e Lorenzo não puderam vir, haviam questões pendentes a serem resolvidas no restaurante. Mas prometeram uma próxima saída.
Bebi grandes goles da minha limonada. Estava desconfortável apesar de estar na sombra fresca de um guarda sol na varandinha de um restaurante movimentado. Eu sabia que o que estava perturbando minha paz mental não era o calor, ou as pessoas indo e vindo na rua à nossa frente, nem a falta de açúcar no meu suco, mas sim o rapaz sentado na minha frente.
Jean estava estranho desde o final do jantar de boas vindas, o que me deixou cismada.
Eu tinha esperanças, mas acho que estou sozinho nisso. Esquece, a culpa é minha.
O que ele queria dizer com isso? O que estava nas entrelinhas que ele não queria dizer com todas as letras?
Bebi mais limonada. Captei seu olhar ao levantar meus olhos.
— Você parece irritada — disse Jean, arqueando as sobrancelhas negras.
— Talvez eu esteja mesmo — rebati, fazendo a mesma coisa das sobrancelhas.
Ele assentiu.
— Quer contar o que está acontecendo?
Inclinei-me sobre a mesa.
— Eu que deveria perguntar isso. Quer me contar o motivo da sua saída repentina do jantar naquela noite? Ou por que ficou tão transtornado quando se despediu?
Ele quebrou o contato visual e foi salvo por Giordana, que se levantou anunciando que nosso passeio continuaria no Coliseu de Roma.
A noite chegou rápido, dando fim ao nosso dia de passeio. Eu já estava cansada e não via a hora de chegar em casa, mas como bons turistas que eram, meus pais queriam ver e provar de tudo na Itália. Incluindo os cem sabores de gelato* da loja em que estávamos.
Desisti no primeiro sabor e anunciei que pegaria um táxi de volta para a pensão. É claro que houve o habitual alvoroço de todos eles me perguntando o que havia acontecido e se eu estava mesmo bem. Até cogitaram todos irmos embora, mas insisti para que ficassem e terminassem o tour.
— Eu levo você — Jean disparou, as mãos nos bolsos da calça. — Tenho trabalho amanhã cedo, não posso ficar mais tempo.
Minha mãe assentiu tocando o braço dele.
— Mandem mensagem ou liguem quando chegarem — disse ela.
Assenti, beijando sua bochecha.
— Eu estou bem — falei para afastar seu olhar preocupado.
Andamos até o estacionamento onde estava o carro de Jean e entramos em silêncio. Era estranho estar assim com ele, afinal sempre tínhamos o que dizer e algo para rir.
O caminho até a pensão pareceu triplicar-se naquela noite. Eu já ansiava pelas janelas iluminadas do casarão. Quando finalmente chegamos, saí rapidamente do carro, sendo acompanhada por ele. Jean deu a volta no veículo e parou na minha frente.
— Obrigada. — Forcei um sorriso.
— Isso não é bom. — Seu rosto assumiu um ar de preocupação e tristeza. — Isso não somos nós.

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Mila
RomanceCamila é uma garota alegre, esperançosa e aventureira que possui muitos sonhos, ela viaja para a Itália em busca de realizar um deles, abrir um restaurante e fazê-lo famoso. Ela conhece Lorenzo, que ao contrário dela é realista e busca apenas por co...