Mila

Capítulo - 22

Era algum tipo de vingança, eu tinha certeza.

Não era possível que havia tanta coisa para fazer que não pudesse ser dividida entre cada cozinheiro, não era possível que todos eles estivessem tão ocupados assim.

Lorenzo gritava ordens e mais ordens para mim na cozinha do restaurante, tantas que perdi a conta. Assim como os incontáveis pratos que ele deixou sobre minha responsabilidade.

E tinha sido assim durante quatro dias, eu mal tinha tempo para comer direito.

Enquanto eu era praticamente escravizada, meus pensamentos viajavam me lembrando constantemente de que eu tinha uma escolha para fazer. Precisava decidir se iria embora para o Brasil ou se continuaria ali deixando minha mãe furiosa e triste. Meu coração estava definitivamente dividido. E a conclusão que tive foi que o destino escolheria por mim.

Acabei deixando um molho passar do ponto e uma carne queimar no forno.

— Você precisa ser rápida! — exclamou Lorenzo.

— Eu estou tentando!

As bochechas dele estavam coradas pelo calor da cozinha e as sobrancelhas franzidas revelando seu mau humor costumeiro.

— Está estragando dois dos pratos que pedi para você fazer — ele rebateu jogando, irritado, um pano de prato sobre a bancada.

— Eu estaria me saindo bem melhor se não ficassem me apressando, ou se quem sabe dividíssemos tudo de forma justa — retruquei sem me importar com as pessoas ao nosso redor.

Os olhos dele brilharam com a fúria. Por alguma razão ele estava mais irritado do que o normal nos últimos dias.

O que havia acontecido com toda aquela história de "todo cuidado com você é pouco" e " é para o seu bem"? Rá, coisa nenhuma!

— Está contestando minhas ordens? — Ele estreitou os olhos.

— Estou expondo os fatos — respondi sem desviar os olhos dos dele.

Lorenzo riu cético e levou as mãos à cintura.

— Que tal expormos o fato de que se não fizer o seu trabalho as consequências serão severas?

Uma onda de loucura me tomou. Para mim já bastava, tudo aquilo.

— Ótimo, então vamos pular logo para as consequências. — Retirei meu avental e o deixei na bancada antes de sair da cozinha.

Meu coração batia acelerado. Minha mente agitada, meu corpo exausto. Tudo aquilo estava me sobrecarregando, e eu sabia que se continuasse assim não teria continuidade para a minha própria vida.

Me tranquei no banheiro do vestiário e senti-me desabar. Chorei e solucei pelo que me pareceram horas até eu criar coragem para me levantar e ir embora.

Estava anoitecendo e eu empurrava minha bicicleta azul como se ela pesasse toneladas até chegar na pensão. Para a minha surpresa, e completo desagrado, dei de cara com Lorenzo quando entrei.

Meu sangue ferveu.

— Podemos conversar direito? — pediu impaciente.

— Eu não tenho nada para conversar com você — retruquei tirando meu casaco e o pendurando no gancho perto da porta.

— Ah não? E o que me diz daquela cena mais cedo na cozinha?

Olhei para ele.

— Cena? — Quase cuspi a palavra. — Cena, Lorenzo? Aquilo era eu acabando com tudo e não uma cena de pirraça como as que você faz.