Capítulo - 10

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Eu preparava uma sobremesa quando recebi um pedido especial. Era um pedido de um prato brasileiro autorizado pelo chefe. Supus que Martina estivesse no salão e me pus a trabalhar.

Assim como foi com a feijoada, meus colegas de trabalho ficaram super curiosos com o que eu fazia, principalmente por conta da fragrância. Me senti em casa preparando aquela comida.

Mandei o prato para o salão ao terminar e já parti para o pedido seguinte. Apesar do fluxo intenso que estava no restaurante hoje, minha mente revivia a noite em que saí com meus amigos. Por mais que eu não quisesse admitir, eu tinha adorado conhecer Jean Claude. Talvez tenha sido a conversa leve, ou o riso fácil, ou a naturalidade de lidar com ele. Ou talvez tenha sido tudo junto.

Lorenzo entra na cozinha abotoando seu dólmã, ele me encara de expressão fechada e diz:

— Mesa 4 para você.

Fiquei sem entender nada.

— Como assim? Eu não sou garçonete — respondi limpando minhas mãos no pano.

— Ah, jura? — rebateu mal humorado.

Suspirei sem paciência para a personalidade dele.

Bati no meu próprio dólmã para limpá-lo o máximo possível e arrumei o lenço que cobria meu cabelo, depois empurrei as portas vai-e-vem da cozinha entrando no salão.

Não pude deixar de admirar o local. Conversas fluíam pelo ambiente juntando-se à melodia elegante que tocava como fundo, a pluralidade de clientes e pedidos deixavam, de alguma forma, tudo mais único. E, claro, a bela noite que se mostrava através das enormes janelas de vidro embelezava ainda mais o restaurante.

Me perguntei se o mesmo sempre fora assim, ou se Lorenzo e a avó haviam modificado algo nele. Eu conseguia imaginar o rapaz pensando em cada detalhe do seu tão querido restaurante.

Ao chegar na mesa 4 me deparo com um rapaz de cabelos pretos, as mechas amarradas para trás revelando que a parte de baixo e as laterais do cabelo estavam raspadas. Ele vestia um paletó cinza, calças pretas e um All Star. Achei graça na combinação. Quando levantou a cabeça e abaixou o cardápio vi quem era ele.

— Jean Claude — sorri surpresa.

— Eu não resisti — sorriu erguendo as mãos.

Me sentei na cadeira vazia à sua frente. O prato brasileiro que eu havia preparado estava na frente dele. Totalmente vazio.

— Então, o que achou? — indaguei me referindo a comida que ele devorou.

Jean passou as mãos pelo rosto e deu um grunhido baixo.

— Acho que tem ouro nas suas mãos — respondeu se animando. — Isso estava uma maravilha, foi a melhor comida que já comi em toda a minha vida! E olha que eu já estive em muitos lugares. — Vi seus olhos brilharem.

Senti meu rosto corar em resposta.

— Só está dizendo isso porque acabou de me conhecer — falei sem jeito.

Jean balançou a cabeça rapidamente.

— Não é não. Você sabe que estou falando a verdade — insistiu com o mesmo sorriso que ele dava na noite em que nos conhecemos.

Assenti colocando minhas mãos sobre a mesa e me inclinando levemente para frente.

— Certo, aceito o elogio. Mas "mãos de ouro" foi um pouco demais — provoquei causando risadas nele.

Um movimento há duas mesas de onde estávamos me chamou a atenção. Era Martina, que estava sentada de costas para nós.

Jean seguiu meu olhar e se inclinou para mim como se fosse revelar um segredo.

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