Martina trançava meu cabelo enquanto assistíamos a um episódio de sua novela mexicana favorita. Mas eu não conseguia prestar atenção no enredo, ou mesmo em seus dedos delicados afagando as mechas acobreadas.Tudo o que eu pensava era na sorte que tive em conhecê-la, em como tanta coisa mudou na minha vida através, e por causa, de Martina. Tinha certeza de que ela saberia aconselhar e ajudar Lorenzo no momento da dor e até mesmo após ela.
— Não desista da pensão Belini — pedi num sussurro.
Martina me encarou de repente.
— Do que você está falando, cara mia*?
Senti uma lágrima solitária deslizar pelo meu rosto.
— As pessoas precisam conhecer a pensão, precisam ter seus corações acalentados lá — insisti. Apenas sentia que precisava lhe falar isso. — Martina, quero que todos sintam o que senti durante o tempo em que morei na pensão Belini. Não desista disso...
Ela balançou a cabeça e limpou minha bochecha.
— Eu não vou, querida. Não vou — garantiu. Martina deixou escapar um soluço.
Tomei sua mão na minha e a beijei. Com um sorriso, pedi:
— Agora, você poderia chamar os meus pais?
Desde sempre eu detestava despedidas, principalmente aquelas em que não conseguíamos falar nada por conta das lágrimas e tudo mais. Por isso eu considerava mais importante os momentos precedentes ao momento. Dessa forma, tudo já estava dito.
Fiz isso com meus pais a partir do momento em que descobri a doença, em todo esse tempo eu me despedi cada vez mais deles. Um pouco a cada dia.
Agora, com eles sentados ao meu lado, nos restava conversar como se nada estivesse acontecendo.
Naquela noite meus pais dormiram no meu quarto do hospital e me senti novamente uma criancinha.
Estava um pouco tonta quando acordei na manhã seguinte, de modo que fiquei deitada por horas, às vezes cochilando.
Contudo, eu precisava ficar consciente para mais uma coisa. Queria garantir que o que eu havia planejado daria certo.
Tommaso deu duas batidinhas na porta, ainda que a mesma já estivesse aberta. Abri os olhos com um pouco de dificuldade.
— Olha só você — disse andando até mim. — Está ótima! — brincou.
Uma risada fraca escapou de mim.
— Está achando que foi fácil conseguir essa aparência? — devolvi a brincadeira, fazendo-o gargalhar.
Tommaso segurou minha mão ao se sentar na cadeira disposta ao lado da maca. Apesar de ser brincalhão e descontraído, ele tinha o seu lado sério e preocupado. E lá estava ele. Os olhos perdidos, lábios comprimidos e respiração pesada.
Apertei sua mão para chamar sua atenção.
— O que eu te pedi... — minha voz saiu fraca. — Tommaso, me prometa que vai acontecer...
Suas lágrimas foram tão rápidas, como se estivessem apenas esperando por um motivo para caírem.
Ele assentiu freneticamente.
— Eu prometo, Mila — Tommaso responde, coisa que acalma o meu coração. Até Lorenzo aparecer na porta do quarto.
Tommaso beija minha testa antes de sair para nos deixar sozinhos.
Com o pouco de força que eu ainda possuía, estendi a mão na direção do rapaz loiro que me encarava assustado. Ele deixou de lado os dois copos de café que carregava e veio até mim.
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Mila
RomantikCamila é uma garota alegre, esperançosa e aventureira que possui muitos sonhos, ela viaja para a Itália em busca de realizar um deles, abrir um restaurante e fazê-lo famoso. Ela conhece Lorenzo, que ao contrário dela é realista e busca apenas por co...