Capítulo - 23

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Eu já tinha tudo pronto. Passagem, malas, dinheiro. Agora só me restava esperar.

Giordana, Francesca e Fillipo apareceram na pensão em uma noite de final de semana para saberem como eu estava. O que me levou a contar sobre a minha ida, afinal uma hora ou outra eles saberiam disso.

Os três, tendo conhecimento disso, me tiraram de casa e me arrastaram noite a fora em busca de diversão. Fiquei com receio de que eles ligassem para Jean e acabassem com os meus planos de passar um dia inteiro com ele como despedida. Mas eles não o fizeram.

Eu sentiria falta deles. Sentiria saudade das conversas animadas e bobas, do espírito agitado de Giordana, das brincadeiras e piadas de Fillipo e da delicadeza de Francesca. Aquele laço de amizade eu levaria por toda a vida.

Agora eu ajudava Martina a escolher uma echarpe na feirinha local. O sol brilhava sobre nós trazendo um calor agradável, o clima reconfortante preparava a minha partida com alegria. Despedidas doíam, mas eu faria questão de que aquela fosse a mais festiva e acolhedora possível.

— Acho que roxo ressalta a cor dos seus olhos. — Pus o lenço perto do seu rosto.

— Gosto de roxo, mas também adoro a estampa deste — ela disse estendendo um outro lenço com estampa de flores coloridas. — É bem tropical.

A olhei segurando um sorriso.

— E com tropical você que dizer...

Ela se rendeu, demonstrando que havia dito aquilo de propósito.

— Quero dizer que vou sentir muito a sua falta. — Martina não me olhava, sua atenção era mantida sobre a variação de lenços a nossa frente. Talvez estivesse disfarçando para que eu não visse as lágrimas brotando em seus olhos.

Segurei uma de suas mãos.

— Martina, eu também sentirei a sua falta, deixarei aqui um pedacinho do meu coração — confessei. — Prometo manter contato sempre que possível.

Ela finalmente me olhou, com olhos de carinho e felicidade.

— Quero que prometa apenas que vai se cuidar — pediu.

Levei a mão pomposamente ao coração.

— Eu prometo.

Ela riu e entrelaçou nossos braços para continuarmos nossa caminhada pelo lugar.

Fomos para casa após muita conversa, risadas e compras. Martina fez-me o favor de lembrar dos pedidos da minha mãe, caso contrário ela iria me deserdar se eu esquecesse de levar alguma coisa da Itália para ela.

Assim que entramos na pensão fomos recebidas por uma onda de aromas quentes e maravilhosos. Tal como nos desenhos animados de televisão, fomos seguindo o cheiro até a cozinha.

Lorenzo cozinhava em silêncio, sendo os barulhos da cozinha a sua melodia. Ele se virou na nossa direção quando nos ouviu, seus olhos focando em mim, já que agora Martina se aproximava do fogão para ver o que o neto criava dessa vez. Algumas mechas de seu cabelo dourado grudavam em suas têmporas, as bochechas coradas com o calor e aquela expressão neutra que eu detestava porque não dizia o que ele sentia ou como estava seu humor. Ou até mesmo o que ele não queria dizer.

Quebrei o contato visual me virando e indo para a sala de televisão conferir o que Martina e eu havíamos comprado.

Uma pergunta tomou conta dos meus pensamentos e, por mais que eu tentasse afastá-la, ela permanecia como se quisesse me obrigar a achar uma resposta.

Eu sentiria saudades de Lorenzo?




Eu estava há um dia de ir para casa. A ansiedade me corroía de dentro para fora, tudo o que eu podia fazer era tentar não pensar muito.

Mila Onde histórias criam vida. Descubra agora