Demorei uns instantes para entender o que ele tinha dito.— Como assim já sabia? — ri confusa.
Me levantei do banco meio involuntariamente. Jean fez o mesmo, mas de um jeito muito mais calmo.
— Mila... — começou ele. — Giordana e eu conversamos bastante e desabafamos um com o outro, em um desses momentos ela deixou escapar algo sobre a sua saúde.
Aquilo parecia só piorar.
— Ah, então ela contou? — perguntei um tanto irritada agora.
Jean afastou as mechas de cabelo que caíam em seu rosto, como se estivesse escolhendo que palavras usaria.
— Não, ela não contou. Eu insisti e pressionei ela até que me dissesse o que havia de errado com a sua saúde, então ela não teve opção. — Ele abriu os braços.
Levantei o rosto para a copa das árvores na tentativa de impedir que as lágrimas acumuladas nos meus olhos caíssem.
— Você sabia esse tempo todo? — Minha voz saiu odiosamente fraca.
Ele assentiu, com pesar nos olhos.
— Por que se preocupa com as pessoas saberem disso?
Eu tinha aquela resposta na ponta da língua, então disparei-a.
— Porque eu não quero que as pessoas me olhem e vejam o aneurisma ao invés de eu mesma. Não quero receber olhares que indagam de todas as formas o que será de mim, que enxergam a doença e não a garota. — Enxuguei furiosamente uma lágrima que desceu pela minha bochecha. — Era exatamente por isso que eu não havia dito nada para ninguém.
E quando olhei para ele havia pesar em seus olhos, mas não o tipo de pena da qual eu temia, da qual todos sentiam ao saber da minha condição. Era como se Jean pudesse, de alguma forma, sentir nele tudo o que eu estava sentindo. Como se a minha dor refletisse nele também.
Não recusei quando ele se aproximou e me abraçou forte. Tampouco o afastei quando seu calor e perfume reconfortantes me acolheram de uma forma indescritível, ou quando ele acariciou meu cabelo suavemente.
— Vou levá-la para casa, tudo bem?
— Por favor, não. Não quero voltar para a pensão até que anoiteça — respondi ainda abraçada a ele.
— Então vou te levar para comer alguma coisa, consigo ouvir seu estômago roncar — brincou ele.
Me afastei o suficiente para dar uma batidinha em seu braço, o que o fez rir.
Como prometido, Jean me levou para comer tacos, depois fomos à uma sorveteria e acabamos sentados em uma praça da qual eu não fazia ideia do nome. As horas tinham passado rápido, tal como o dia, e agora o céu ostentava uma lua amarelada acompanhada por estrelas brilhantes.
Eu observava o movimento de pessoas na praça quando Jean disse:
— Se você pudesse mudar algo na sua vida, o que você mudaria? — Aqueles olhos de ônix se voltaram brilhantes para mim, tão profundos e escuros quanto o céu acima de nós dois.
— Algo que me arrependo?
Ele ponderou.
— Acho que se encaixa na pergunta.
Pensei em uma resposta. Não mudaria as viagens que fiz, também não mudaria os trabalhos que experimentei. Pensei rapidamente que seria vir para a Itália, mas se eu não tivesse vindo não teria conhecido algumas pessoas e nem tido algumas das experiências que tive.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Mila
RomanceCamila é uma garota alegre, esperançosa e aventureira que possui muitos sonhos, ela viaja para a Itália em busca de realizar um deles, abrir um restaurante e fazê-lo famoso. Ela conhece Lorenzo, que ao contrário dela é realista e busca apenas por co...