Capítulo - 20

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Demorei uns instantes para entender o que ele tinha dito.

— Como assim já sabia? — ri confusa.

Me levantei do banco meio involuntariamente. Jean fez o mesmo, mas de um jeito muito mais calmo.

— Mila... — começou ele. — Giordana e eu conversamos bastante e desabafamos um com o outro, em um desses momentos ela deixou escapar algo sobre a sua saúde.

Aquilo parecia só piorar.

— Ah, então ela contou? — perguntei um tanto irritada agora.

Jean afastou as mechas de cabelo que caíam em seu rosto, como se estivesse escolhendo que palavras usaria.

— Não, ela não contou. Eu insisti e pressionei ela até que me dissesse o que havia de errado com a sua saúde, então ela não teve opção. — Ele abriu os braços.

Levantei o rosto para a copa das árvores na tentativa de impedir que as lágrimas acumuladas nos meus olhos caíssem.

— Você sabia esse tempo todo? — Minha voz saiu odiosamente fraca.

Ele assentiu, com pesar nos olhos.

— Por que se preocupa com as pessoas saberem disso?

Eu tinha aquela resposta na ponta da língua, então disparei-a.

— Porque eu não quero que as pessoas me olhem e vejam o aneurisma ao invés de eu mesma. Não quero receber olhares que indagam de todas as formas o que será de mim, que enxergam a doença e não a garota. — Enxuguei furiosamente uma lágrima que desceu pela minha bochecha. — Era exatamente por isso que eu não havia dito nada para ninguém.

E quando olhei para ele havia pesar em seus olhos, mas não o tipo de pena da qual eu temia, da qual todos sentiam ao saber da minha condição. Era como se Jean pudesse, de alguma forma, sentir nele tudo o que eu estava sentindo. Como se a minha dor refletisse nele também.

Não recusei quando ele se aproximou e me abraçou forte. Tampouco o afastei quando seu calor e perfume reconfortantes me acolheram de uma forma indescritível, ou quando ele acariciou meu cabelo suavemente.

— Vou levá-la para casa, tudo bem?

— Por favor, não. Não quero voltar para a pensão até que anoiteça — respondi ainda abraçada a ele.

— Então vou te levar para comer alguma coisa, consigo ouvir seu estômago roncar — brincou ele.

Me afastei o suficiente para dar uma batidinha em seu braço, o que o fez rir.

Como prometido, Jean me levou para comer tacos, depois fomos à uma sorveteria e acabamos sentados em uma praça da qual eu não fazia ideia do nome. As horas tinham passado rápido, tal como o dia, e agora o céu ostentava uma lua amarelada acompanhada por estrelas brilhantes.

Eu observava o movimento de pessoas na praça quando Jean disse:

— Se você pudesse mudar algo na sua vida, o que você mudaria? — Aqueles olhos de ônix se voltaram brilhantes para mim, tão profundos e escuros quanto o céu acima de nós dois.

— Algo que me arrependo?

Ele ponderou.

— Acho que se encaixa na pergunta.

Pensei em uma resposta. Não mudaria as viagens que fiz, também não mudaria os trabalhos que experimentei. Pensei rapidamente que seria vir para a Itália, mas se eu não tivesse vindo não teria conhecido algumas pessoas e nem tido algumas das experiências que tive.

Mila Onde histórias criam vida. Descubra agora