Capítulo - 16

81 18 146
                                    


Depois do despertar de Lorenzo as coisas aconteceram rápido. Martina chegou num instante ao hospital e ficou horas e mais horas ao lado do neto.

Lorenzo fez uma bateria de exames que constaram que ele estava bem e que não havia mais nenhuma bactéria em seu coração. Mas ele ainda precisaria ficar em observação por uns dias e só então receberia alta.

Eu estava no corredor, sentada no banco gelado enquanto balançava a perna em uma compulsão descontrolada. Praticamente saltei de onde eu estava quando Martina apareceu na minha frente.

— Como ele está? Posso vê-lo ou...

Ela deu aquele sorriso que deixava seus olhos enrugados.

— Ele está bem sim, está descansando do alvoroço todo de exames — respondeu ela. — Acho que você também precisa descansar um pouco, afinal, de todos nós, você foi a que mais se esforçou.

— Mas... eu queria entrar.

— E você vai, depois de tomar um banho, comer e dormir um pouco. Porque agora é você que precisa de cuidados — ela disse num tom de sabedoria. — Além disso, ele está dormindo, não podemos falar com ele ainda.

Algo dentro de mim temeu que ele não acordasse novamente, porque havia sido assim da última vez.

Apesar de não querer, obedeci. Peguei um táxi para a pensão e quando desci na frente do casarão me deparei com Jean.

Ele estava apoiado no portão de ferro, o cabelo amarrado com algumas mechas escapando sobre seu rosto. Segurava um embrulho de papel marrom e deu um sorriso gentil quando me viu.

— Espero que esteja com fome — foi seu cumprimento.

— Você não imagina o quanto — respondi ajeitando minha bolsa sobre o ombro.

Ele estreitou os olhos ao dizer:

— Pensei que cozinheiros não se permitiam ficar com fome, já que são incrivelmente habilidosos nas refeições.

Empurrei seu braço com o meu.

— Sabe que isso não tem fundamento, não é? — rebati abrindo o portão antigo.

Entramos na pensão juntos, sendo recebidos pelo aroma de lavanda e hortelã que ela tinha.

— Pensei em marcar nosso cinema para amanhã à noite — disse enquanto colocava o embrulho sobre a mesa da sala de jantar. — Se você quiser, é claro.

Eu já não sabia o que eu queria há alguns dias.

Além do mais, as palavras de Giordana rondavam minha mente a cada vez que eu olhava para Jean. Eles eram amigos de infância, então naturalmente contavam tudo um ao outro. O que me levava a pensar se o que ela disse foi contado por ele ou deduzido por ela.

— Mila? — A voz dele me tirou do torpor do qual entrei. — Está tudo bem?

— Sim! — disparei. — Eu só estou... um pouco cansada.

— Se quiser eu posso ir embora, não quero atrapalhar seu descanso — respondeu.

Balancei a cabeça em negação.

— Não, fique. Gosto da sua companhia. — Quando me dei conta do que disse já era tarde demais.

Jean, que tinha os olhos fixos em mim, deu um sorriso bobo.

— Eu também gosto da sua companhia.

Senti meu rosto corar e deixei meus cachos cobrirem um pouco das minhas bochechas para disfarçar.

Mila Onde histórias criam vida. Descubra agora