01

114K 4.3K 4.1K
                                    

Lucas Coutinho.
11 anos atrás.

Senti um soco no meu rosto e eu olhei pra ele, o cara mais alto que eu duas vezes mais, os amigos deles riam de mim como se eu fosse maior palhaço naquele meio. Tentei chutar ele, mas ele me segurou e me puxou, me fazendo bater a cabeça no chão, me segurei pra não chorar ali, no meio de tanta gente.

— Corre cara, o teu coroa tá procurando por tu e tá bolado.- Alguém gritou, e ele correu dali, fazendo geral sair também. E eu tentei me levantar, mas meu corpo doía.

Me arrastei encostando na parede e vi a Bianca correndo na minha direção, virei o rosto evitando encarar ela, e ela agachou na minha frente, segurando meu rosto.

Bianca: Você nunca vai parar de se meter em confusão, não é? - Falou me olhando, e tirou a mochila das coisas.

Lucas: Qual foi, nem fiz nada! Eu só fui pedir pra jogar.- Falei passando a mão na boca, senti o gosto de sangue e ela colocou a mão em cima da minha.

Bianca: Quantas vezes você vai apanhar pra aprender que não é nem pra chegar perto deles? - Falou segurando minha mão.

Lucas: Ah pô, pelo menos tu passa tempo comigo assim.- Gastei, e ela revirou os olhos.

Ela tirou da bolsa um pano e molhou com água, assim que ela colocou na minha boca doeu porque ela apertou, mas meti serinho e fingi que nem senti nada, ela soltou uma risada fraca e limpou meu rosto e meu braço, que estavam machucado.

Sara: Bia.- Entrou no pátio correndo.- Seu pai tá louco atrás de você, ele tá bravo porque você não tava esperando ele, o Felipinho tá aí também!

Bianca: Droga, que saco.- Falou colocando as coisas na bolsa rápido.- Preciso ir.

Ela se levantou e arrastou as coisas correndo, a Sara me olhou e saiu correndo atrás dela. Eu olhei pro pano dela que tava sujo com meu sangue e peguei, colocando na bolsa pra lavar e devolver pra ela.

Me levantei pegando minha mochila e fui andando pra fora do pátio. Não queria ir pra casa, não queria saber o que iria acontecer se meu pai me visse depois de apanhar, eu sabia o que iria acontecer.

Fiquei andando pela rua com medo de subir o morro, me sentei na calçada perto da escola depois de ficar andando e coloquei as mãos no rosto, suspirando.

Foguete: Ou, moleque.- Olhei pra ele, que segurava um fuzil quase maior que ele.- Teu pai tá boladão de procurando, mete o pé.

Eu respirei fundo me levantando e passei por ele. Foguete era meu amigo de infância, ele só era dois anos mais velho que eu, tinha 12 anos, e com 10 largou a escola pra entrar no tráfico. Ele falou que a mãe dele passava fome, e só quis ajudar.

As vezes eu ficava pensando, e se eu preciso fazer isso, pra meus pais pararem de brigar e a gente ficar feliz? Vai que o nosso problema seja a falta de dinheiro...

Quando cheguei em casa, abri a porta sentindo o fedor da rua, coloquei a cabeça pra dentro vendo que não tinha ninguém, fechei a porta em silêncio, e quando tava indo pro quarto, senti o cinto passando na minha perna. Cai sentado, mas mordi a boca, eu não podia gritar de dor.

Marcelo: Seu filho da puta, onde tu tava? - Me bateu com o cinto novamente, na barriga.- Qual bagulho aconteceu com teu rosto?

Réus. Onde histórias criam vida. Descubra agora