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Playboy.

Uma semana que eu vi o Cabeça entrando nesse inferno, mas ficou até em ala separada, até hoje a gente não se trombou. Depois que eu descobri os bagulhos tinha ficado bolado pra caralho, principalmente com a Bianca que não me mandou o papo!

Tava ficando maluco da cabeça já, não aguentava ficar aqui sabendo do meu menor lá fora, que não tinha ninguém pra tá dando proteção a eles. Eu que deveria tá lá, acompanhando cada bagulho do meu filho.

— Os vagabundos aí, quero indo pro pátio, limpeza geral agora.- O guarda falou abrindo a cela e eu levantei a cabeça.

Playboy: Todas as alas? - Falei encarando ele que confirmou com a cabeça.

Fui o primeiro a sair no ódio, tava batendo em geral pra sair da frente e os menor tudo reclamando. Quando eu tava entrando no pátio o Moreno parou na minha frente me empurrando.

Moreno: Tu vai pegar mais anos, se liga porra! Teu filho tá esperando, tu vai deixar levar por esse filho da puta? - Apontou.- Com dez anos teu filho nunca vai ter encostado em tu, é isso que tu quer?

Playboy: Eu fujo, faço qualquer bagulho! Mas eu vou matar esse filho da puta.- Sai passando por ele.

O pátio tava cheio, não conseguia ver ninguém. Andei até os bagulhos de plantação que os cara fazia e subi em cima, era alto, me dava uma visão dahora. Quando eu rodei o olho, encontrei o Cabeça no canto fumando, ele me encarou na merma hora.

Quando desci o moreno colou do meu lado e eu fui indo no ódio na duração deles, os moleques me olhavam sem entender e só saiam da frente, quando eu parei na frente dele ele se levantou, me peitando.

Olhei nos olhos dele e ele fez a mesma coisa, quando ia falar algum bagulho, senti ele enfiando uma faca na minha barriga. Não sabia de onde ele tinha arrumado isso, mas sabia que ele tava pra conseguir qualquer bagulho aqui dentro.

Tirei a faca que não tinha entrado direito e deu um soco na cara dele, ele foi pra trás e tentou pegar a faca, eu desviei e senti alguém me puxando.

Moreno: Ninguém se mete nessa porra.- Empurrou o moleque que tentou me segurar.

Os outros fizeram uma roda em volta de nós e eu tava cego pelo ódio, enfiei a faca no braço dele e puxei, ele me segurou socando minha barriga e eu segurei a faca com meu ódio todo ali e enfiei na barriga dele. Ele parou de fazer força e eu enfiei mais fundo.

Mermo que a faca tivesse entrado, ele ia continuar lutando contra mim, mas ele só parou e se entregou, ficando sem força no meu braço e se apoiou em mim, tirei a faca enfiando de novo e encarei ele, que me olhou chorando, com o mermo olhar perdido que eu me via muitas vezes atrás.

Das vezes que eu implorava ajuda, das vezes que ele arrependia por ser um merda e tentava ser melhor, de quando eu pensava em mudar.

Playboy: Minha mulher e meu filho é papo de maluco, tu sempre soube disso! - Falei quando ele caiu no chão.- Tu me colocou aqui, eu tava suave contigo, tu me enfiou nos piores bagulhos possíveis e eu sempre te dei chance. Tu mexeu no único bagulho imperdoável pra mim, tu vai queimar no fogo do inferno junto com aquele filho da puta.

Ele não falou nada, só tava me olhando enquanto o sangue descia, me levantei e fiquei ali, e só saí dali quando tive a certeza que ele tava morto.

Moreno me puxou dali e eu saí tendo o olhar de geral ali, alguns me olhavam com respeito e outros negando. Escutei uns falando alguma coisa e ignorei, passei direito até o canteiro onde os cara plantava, minha mão tava suja de sangue e era como se não fosse nada.

Como se ele não fosse porra nenhuma pra mim.

Moreno negou com a cabeça e começou a cavar, fiquei olhando pros lados sentindo o sol bater no meu rosto por um tempo. Olhei de lado e vi o Moreno pegando a semente pra colocar no buraco, comecei a ajudar ele boladão sujando os bagulhos tudo de terra.

Ele parou o que tava fazendo, me olhou e sorriu.

Desde que ele tinha colado comigo, insistia pra caralho pra eu fazer alguma coisa aqui, segundo ele falava que trazia paz, que era como se eu tivesse me resolvendo com os meus problemas. Sempre achei papo de otario, de velho que não tem o que fazer.

Mas me acalmou, foi como se eu tivesse enterrando a única parte boa do Douglas ali, porque me fez relaxar, me fez sentir que eu fiz o bagulho certo pra minha família!

Réus. Onde histórias criam vida. Descubra agora