Bianca.
Segurei a foto da minha tia desabando em lágrimas, ela havia sido mais mãe do que a que me colocou no mundo. Ela lutou por mim até quando podia, lutou até pelo Lucas e o Douglas, mesmo mal tendo condição de cuidar só dela mesmo.
Era uma sensação de vazio que ecoava no peito, uma sensação de cansaço e de dor. Como se uma faca estivesse posicionado no meu peito, e a qualquer passo que eu dava, me machucava mais e mais. Nunca curava, a dor nunca passava.
Eu tremia chorando, eu não tinha nem se quer ar. Andei pela casa nervosa, minhas pernas mal me deixavam ficar em pé, peguei o copo e água e coloquei o notebook em cima da mesa, olhando a tela, "Clínicas de aborto."
Eu descia aquela tela com atenção, enquanto tentava beber um pouco de água, mas não conseguia nada disso. A porta abriu, Lucas entrou com sua blusa branca suja de sangue, ele me encarou fechando a porta e eu me sentei, colocando a mão no rosto.
Toda vez que ele fumava, ou na maioria das vezes, ele começava a tossir sangue. Mesmo pesquisando eu não sabia ao certo o que era, mas sabia que era preocupante, pelo menos pra mim, porque ele não se preocupava com isso...
Playboy: Desculpa! - Foi a primeira coisa que eu escutei da boca dele, levantei o rosto pra olhar pra ele e ele me encarava, com a cara fechada, mas só de olhar em seu olho, eu sentia ele com um olhar perdido.- Eu não sei mais o que fazer, papo reto! Eu tento, eu tento pra caralho e sempre caio no erro.
Eu não sabia o que fazer, não sabia o que fazer, só sabia que doía.
Lucas se aproximou e olhou a tela do notebook, ele me encarou e não falou nada, só me abraçou. Eu me joguei em seu colo, fazendo ele cair sentado no chão comigo no colo e me abraçar com força, como se o nosso mundo dependesse daquele toque pra não cair.
Bianca: Acho que eu não aguento mais! - Falei baixo, próximo ao ouvido dele.
Playboy: Manda o papo do que eu tenho que fazer pô, papo reto! Se for pra ficar naquele emprego de merda, recebendo olhar de nojo toda hora, eu fico.- Falou sério e eu soltei uma risada, passando a mão no meu rosto.
Bianca: Você durou quantas horas? - Minha voz saiu falha e eu me afastei.
Playboy: Quatro.- Murmurou bolado e eu soltei uma risada, abraçando meu próprio corpo.- Eu queria pra caralho te deixar feliz me garantindo nesse trampo, mas não rola...
Bianca: Eu sei que você tentou.- Ele me encarou.- O que vamos fazer agora?
Playboy: Vou trocar uma ideia com o Fogueteiro.- Falou sério.- Arrumar algum corre.
Bianca: Eu quero voltar a estudar.- Falei desviando o olhar.- Só falta o último ano pra eu terminar, posso aproveitar que ainda estamos em março e correr pra me matricular.
O silêncio ecoou na sala. Eu não havia terminado os estudos porque no último ano da escola eu perdi a minha tia, então eu fiquei sem motivação, largada e nem aí pra isso. O Playboy havia terminado os estudos dele, por ele ser mais velho e eu sempre ficar no pé, mas se não fosse por isso, ele tinha largado desde o 8º ano.
Playboy: A gente procura uma escola de patricinha maneira.- Eu revirei os olhos.
Bianca: Vai ser aqui na daqui mesmo.- Falei sabendo que ele não estava brincando, realmente estaria disposto a pagar uma escola particular pra mim.
Playboy: Tem certeza? - Confirmei.- Jae então.
Estendi a mão pro Lucas e ele cerrou o punho encostando na minha mão, olhei pra cima vendo o computador ainda ligado e apertei a blusa por cima da barriga.
Playboy: Essa ideia aí, é séria? - Apontou com a cabeça e eu neguei.
Bianca: Eu vou estudar...- Me levantei do chão.- Eu vou me formar, eu vou correr atrás e vou ser a melhor mãe que essa criança poderia ter, eu não vou deixa faltar nada pra ela!
Playboy: Tô contigo em qualquer decisão.- Mal terminou de falar e o telefone dele tocou, ele se levantou indo tirar da bolsa e eu fechei o notebook.
Fui até a pia jogando água no rosto e o Lucas saiu de casa, indo falar na rua. Mas se tinha coisa que eu nunca cheguei a me preocupar, foi com traição, esse realmente não era um problema pra gente. Absolutamente nunca tive motivos ou desconfianças, de certa forma o Lucas é completamente apaixonado por mim e faz questão de deixar isso bem claro a todos, sendo assim, não me dando motivos nenhum pra desconfiar...
Playboy: Douglas arrumou um corre.- Falou entrando em casa de novo.- E vai render uma grana da hora.
Bianca: Pra render boa grana, é arriscado.- Encarei ele.
Playboy: Bagulho fácil, matar um cara aí.- Falou abrindo a mochila e eu passei mão no rosto.- Vou descer na boca.
Bianca: Você acha legal mesmo ir? - Ele tirou uma sacola da bolsa e eu me perdi total no assunto anterior.- Você não pode ficar gastando dinheiro com besteira.
Playboy: Caô, num é besteira.- Falou me entregando e eu soltei um sorriso.
Eu amava receber presentes de qualquer tipo, de um chocolate até uma coisa caríssima. Então perdia qualquer postura quando eu era mimada.
Playboy: É proteção, pra tu sempre lembrar que eu tô contigo.- Eu abri a sacola vendo uma caixinha com uma pulseira.
Sorri vendo que era linda e ainda tinha um anel como conjunto, e além, tinha uma pulseira de bebê. Lucas colocou a pulseira em mim e beijou por cima dela, eu abracei ele beijando sua bochecha e agradeci, guardando a pulseira do nosso bebê e vendo ele saindo de casa, atrás desse tal corre...
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Réus.
RomanceDe que vale o amor, sem passar pelo processo da dor?! Na verdade, pra sentir a paz, a calmaria e o amor, é necessário sentir tanta dor?! Talvez o processo seja longo, difícil e quase impossível, mas a busca pelo final feliz nunca pode acabar...