CAPÍTULO 5

218 39 22
                                    



No início, Davi encontrara nos amigos gays o apoio para se manter a partir dali. Morava de favores, morava em repúblicas, trabalhava firme e incansavelmente  para nunca precisar pedir ajuda ao avô.

Quando anunciaram a morte de Alceu,  anos depois, Davi não ficou surpreso por não sentir nada, afinal, ele não o considerava mais o seu avô e o avô não mais o considerava o seu neto.

_Se eu fosse você, apareceria no enterro. Sei lá...quem sabe ele se arrependeu e deixou algo pra você?_dissera Fábio esperançoso.

Davi falou ainda magoado:

_Ele não me considerava mais como neto dele, você sabe disso, Fábio. Pra mim, não passa da morte de um desconhecido, pois não sei quem é este homem que me julgou feito um lixo por eu ser homossexual e ainda provocou a doença da minha mãe

_Orgulho não paga as suas contas, Davi...dívidas, muito menos.

Davi estava irredutível:

_Já lhe disse que não irei vender a minha alma ao diabo, Fábio. Não duvido que ele iria  exigir, num possível testamento a meu favor, que eu me casasse com uma mulher  e trouxesse ao mundo  bisnetos Moura Álvares para perpetuar o sobrenome que ele se orgulhava de carregar!

_Mas vai que o velho se arrependeu no fim da vida e deixou algo pra você?_insistiu Fábio._Já vi isso acontecer! Não custa nada ir lá, participar do velório...do enterro...marcar presença...

_O dinheiro dele não viria pra minhas mãos, mesmo depois da morte dele, pode ter certeza. Minha mãe dizia que ele já havia arranjado outra família, mal esperando a minha avó esfriar no túmulo. Certamente ele deu o sobrenome dele para os novos filhos e eles sim herdarão a fortuna do meu avô._concluiu Davi encerrando o assunto.

Por tudo isso, Davi não pode acreditar quando recebeu a visita do advogado dizendo que o avô contemplara ele,  o único neto  no testamento.

Tudo foi revelado ali mesmo, do lado de fora da porta do apartamento, pois Davi não permitira que o homem entrasse, já que era um desconhecido muito suspeito, na opinião dele.

Davi teve certeza de que aquilo era uma mentira...teve certeza de que aquilo só podia ser um golpe. Não era raro ele ficar sabendo de pessoas que eram enganadas e caíam  em golpes cada vez mais diversos. Certamente deveria haver também um golpe da falsa herança e era aquele que estavam aplicando!

O advogado estava muito bem arrumado, dirigia um carro caro e tinha um discurso realmente convincente, Davi reconheceu. Não fosse Alceu quem era e Davi pensaria na possibilidade daquilo ser remotamente verdade.

_Seu avô me alertou que seria difícil te convencer de que eu falo a verdade._o homem falou firme e muito sério._Sei que a relação entre vocês dois não era boa. Mas acho que você é capaz de reconhecer um documento oficial, não é?

Davi mais uma vez acreditou que ele mentia...carimbos, crachás, documentos de identidade falsos...o que não se conseguia nos dias atuais? Certamente era tudo falso...assim como o discurso dele também. 

O aproveitador, Davi acreditou, vira a reportagem sobre a morte do empresário, cruzara os dados, descobrira o grau de parentesco entre os dois e correra para lhe aplicar o golpe...ignorando certamente que ele não tinha nada para ser roubado!

Davi estava em casa sozinho e julgou que o homem devia ter sido esperto para aparecer ali justamente por isso. Estivesse Fábio ali com ele e os dois poderiam colocar o homem para correr!

_Olha, cara, não sei onde você ficou sabendo sobre mim, mas pode ter certeza de que eu não sou  trouxa pra cair em golpes. Meu avô nunca deixaria qualquer coisa pra mim, deveria ter verificado isso nas suas fontes de informações. Ele me odiava e certamente me deserdou._falou impaciente._ Dinheiro eu não tenho, como pode ver. Ou acha que é por rebeldia que divido esta caixinha de fósforos com um amigo? E agora o senhor me dê licença porque eu tenho muito serviço e...

NINGUÉM FOGE DO PRÓPRIO DESTINO!-Armando Scoth Lee-romance espírita gayOnde histórias criam vida. Descubra agora