CAPÍTULO 9

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Davi estava cada dia mais estressado com toda aquela situação!

Sua decisão já havia sido tomada e o  advogado já sabia que ele decidira  vender a empresa e tudo o que o avô havia deixado pra ele. Isso o deixava mais aliviado, pois não precisaria se preocupar em administrar uma grande empresa sem experiência alguma.

Davi já fazia planos de ligar para antigos colegas de sua confiança que haviam trabalhado junto com ele no abrigo de cães e designá-los para  dirigirem, junto com ele,  instituições que abrigariam os animais que ele tanto queria proteger.

Davi não pretendia, até então, ao menos se encontrar com os enteados de Alceu, pois temia sentir o quanto eles deviam odiá-lo por não terem sido contemplados no testamento com a empresa.

O herdeiro de Alceu  pedira alguns dias para o advogado, antes de ir tomar posse de seus bens, pois precisava de tempo para se acostumar com a ideia de agora ser um milionário.

À noite, ele se revirava na cama lembrando-se da casa onde havia passado a sua infância ao lado da mãe e do avô quando ele  ainda o amava e lhe prometia o mundo.

Triste aquilo tudo...ele e Alceu se davam tão bem...se amavam tanto...o avô o cobria de carinho e o neto retribuía com a mesma intensidade. 

Por que o fato dele preferir se relacionar  com homens havia tido todo aquele poder de destruir algo tão sagrado quanto o amor e o respeito entre o avô e o neto? Tinham sido anos maravilhosos e inesquecíveis aqueles em que ambos ainda eram amigos.

Davi tinha certeza de que assim que vendesse a empresa, nunca mais teria acesso àquela casa, as suas memórias...ao seu passado...um passado em que ele havia sido tão feliz, em que ele se sentira tão amado, tão protegido, tão seguro.

O herdeiro de Alceu lembrava-se, com riqueza de detalhes, de uma vez em que o avô dele decidira  mandar fazer uma sala de recreação para o neto. Haveria cesta de basquete, mesa de jogos, cama elástica, piscina de bolinhas...tudo o que uma criança amaria ter dentro de casa.

Um dia, Davi fora com a mãe visitar a obra e a mãe tivera a ideia de deixar registrada  a passagem dos dois por  ali. 

Num cantinho escondido da sala enorme, num lugar que seria o esconderijo secreto dos dois, mãe e filho haviam sujado a mão de tinta e registrado ali a sua passagem. Num cantinho, atrás de uma pilastra e bem perto do chão,  haviam deixado a marca das duas mãos lado a lado e tinham certeza de que naquela localização, ninguém veria as marcas deixadas...Ele tinha  cinco anos de idade e a mãe ainda era  jovem e cheia de vida.

Davi sentiu um desejo quase doentio de ir à casa do avô mais uma vez só para saber se aquela lembrança gostosa de dias felizes  ainda estava lá...se as marcas das duas mãos ainda existiam não apenas em sua memória, mas também naquele esconderijo criado por mãe e filho. 

A dúvida o invadiu...por que o avô não teria mandado reformar aquele lugar? Por que o avô não dera ordens de apagar da casa a passagem do neto por  quem ele passara a sentir  vergonha e nojo? Certamente aquele lugar não mais existia...talvez tivessem feito lá uma garagem...um depósito...Davi não sabia. Sala de jogos certamente não seria mais.

O herdeiro de Alceu pensou várias vezes  que aquilo era uma besteira...uma coisa boba...sem importância...mas logo a necessidade de voltar à casa do avô vinha urgente quase o deixando febril! Sabia que havia a possibilidade de  as marcas ainda estarem lá, pois estavam bem escondidas! Seria bom tocar naquela lembrança  deixada por sua mãe...Davi suspirou saudoso.

Ligou rapidamente para o advogado, esperando que talvez ainda tivesse tempo de adiar o anúncio de que ele venderia a empresa, o que não o deixaria numa posição tão delicada de pedir permissão para entrar mais uma vez naquela casa.

NINGUÉM FOGE DO PRÓPRIO DESTINO!-Armando Scoth Lee-romance espírita gayOnde histórias criam vida. Descubra agora