CAPÍTULO 8

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Eliane sabia que não conseguiria dizer não para o irmão, pois se ele lhe desse as costas, ela não teria mais ninguém na vida! 

Ela já sofrera a perda do pai...da mãe...do padrasto que amava...não suportaria perder também o irmão querido que, até então, demonstrara ter tanto carinho por ela!

Ela sabia que Roberto merecia sim ter tudo que a vida pudesse oferecer de melhor, pois era um irmão maravilhoso! Porém, por que ele tinha que ser tão ambicioso a ponto de não medir esforços para colocar a mão na herança de Alceu?

Ela era o oposto do irmão...não apenas na aparência física, como também na personalidade...Se fosse ela no lugar de Roberto, ficaria chateada com o padrasto, mas colocaria acima de tudo o respeito ao último desejo dele. Mesmo que esse desejo viesse a lhe prejudicar. Sabia que a mãe também iria querer satisfazer o último desejo de Alceu: se ele queria deixar a sua herança para o seu único neto...que ela ficasse para o neto do empresário então!

_Você já viu que quando uma  mulher quer dar uma reviravolta na vida, a primeira coisa que ela faz é cortar os cabelos?_escutara certa vez no salão  de beleza que frequentava._Pedem o divórcio, cortam os cabelos...arranjam um amante, cortam os cabelos...assumem-se lésbicas, cortam os cabelos...

Lembrando-se daquele comentário, Eliane soltou os longos cabelos louros e macios e deixou que eles caíssem sobre os seus ombros. Eles quase chegavam-lhe à cintura e ela brincou de fazer vários penteados com os cabelos para se despedir.

Ela sentia necessidade de mudar radicalmente a imagem refletida no espelho, pois aquela imagem era da antiga Eliane.

Uma vez, uma colega havia feito um comentário maldoso com ela:

_Existem  mulheres que têm a Síndrome de Rapunzel! Acham que os cabelos longos poderão atrair o seu príncipe encantado! Por acaso você também acredita nisso, Eliane?

Todas as pessoas que estavam em volta haviam caído na gargalhada, fazendo Eliane ficar vermelha de vergonha. O episódio, porém,   não a fizera  cortar os cabelos na época, pois a mãe amava os cabelos dela assim...Alceu também...mas eles não estavam ali mais...muito menos o príncipe encantado que supostamente viria atrás dos seus longos cabelos.

Inicialmente, o cabeleireiro assustou-se com a decisão dela, mas depois  ficou satisfeito por Eliane permitir que ele guardasse os cabelos para vender depois. Ele sabia que teria um bom lucro com eles. Diante daquilo, não mais opinou, apenas fez o corte que ela pediu.

Já no espelho de casa, Eliane  ficou satisfeita por perceber que o novo corte valorizava o seu rosto. A pele clara, aveludada e sem manchas emoldurada pelos cabelos curtíssimos lhe dera um ar mais leve. Reconheceu que estava  um pouco pálida e abatida  pelos sustos que a vida estava lhe pregando ultimamente...mas ainda estava bonita.

Os traços femininos e delicados...os olhos claros, meigos e sinceros...A mãe dizia que ela era linda...o irmão dizia que ela era linda...por que os homens não se apaixonavam por ela? O que havia de errado com ela que não permitia que eles viessem até ela com boas intenções? Quantos sonhos de ser esposa, ser mãe, constituir sua própria família haviam se perdido no tempo...Ela só queria ser feliz ao lado de alguém que a amasse de verdade!

Talvez porque ela era uma tola, acreditou, não havia tido sorte no amor. Talvez porque os homens queriam uma mulher forte, decidida e não uma beldade frágil que ainda tinha na memória o perfil da donzela presa numa torre à espera de alguém que viesse salvá-la. 

Ninguém viria salvá-la, ela sabia...especialmente agora que aceitara participar do plano sórdido de Roberto e engravidar do neto do seu padrasto apenas para satisfazer a cobiça do irmão mais velho. Ela era fraca, admitiu, pois poderia ter protestado e assumido as consequências!

NINGUÉM FOGE DO PRÓPRIO DESTINO!-Armando Scoth Lee-romance espírita gayOnde histórias criam vida. Descubra agora