CAPÍTULO 24

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Cácio assustou-se quando, ao atender a porta de casa, deu de cara com Davi visivelmente em choque!

_Davi? O que aconteceu?_perguntou aflito.

O herdeiro de Alceu demorou alguns segundos para conseguir falar, pois ainda estava sem fôlego:

_Cácio, me desculpe chegar assim sem avisar, mas eu preciso muito falar com você!

_Tudo bem, meu amigo...não tem problema. Por favor, entre._disse o dono da casa dando espaço para o outro passar.

Davi entrou e foi sentar-se no sofá confortável sem mesmo esperar um convite.

De repente, ele começou a chorar, assustando Cácio que apenas ficou ali, sem dizer nada.

Davi chorou um choro sentido...um choro sofrido...um choro que parecia estar ali preso há anos e que só naquele momento ele tivera permissão para botar pra fora!

_Davi, o que aconteceu? Chegou aqui pálido...assustado...e  agora este choro todo! Meu Deus...me diga alguma coisa!_Cácio estava cada vez mais agoniado._Aconteceu alguma coisa com a Eliane?

Sem conseguir continuar sentado, Davi levantou-se inquieto. Começou a andar de um lado a outro da sala como e fosse um animal enjaulado.

Quando Davi começou a falar, foi como se não suportasse mais aquele silêncio...como se precisasse colocar tudo pra fora, senão explodiria!

_Eu não quero isso pra mim, Cácio!

Cácio olhou para Davi sem entender o quê ele queria dizer com aquilo, mas não teve tempo de perguntar nada, pois ele continuou:

 _Agora...vendo a enrascada em que eu me meti... eu vejo o quanto eu   gostava da minha antiga vida! Éramos  eu, os  meus cachorros, os  meus amigos...Sem herança pra administrar...matando um leão por dia pra sobrevivermos, confesso, mas pelo menos eu sabia o que queria da vida!_falou Davi num fôlego só._ Eu tinha mais paz, mais sossego...As coisas eram mais previsíveis! Eu sabia que queria um futuro em que estivessem presentes os meus cães...o meu melhor amigo Fábio...Vivia numa rotina, sem grandes mudanças...Eu já havia me conformado em não ter nada do meu avô...Aí, de repente,  veio isso tudo...todo este patrimônio...todo este dinheiro e aí...olha só...em menos de um mês...Minha vida parece ter virado de cabeça pra baixo!

_Calma, rapaz! Me diga o que aconteceu pra você ficar assim, Davi!_Cácio estava confuso.

_A gente foi na empresa que era do meu avô...a Eliane e eu...A gente só queria pegar algumas peças que o meu avô deixou pra mim...digo...obras de arte...Pensávamos  em vender num leilão via internet...eu te falei...preciso de dinheiro....para os cachorros...

_Eu sei, eu sei..._Cácio fez um gesto para que ele continuasse, pois via que ele parecia engasgado com algo que acontecera e que o deixara alterado daquele jeito.

Haviam se visto apenas uma vez, mas Cácio tinha certeza de que Davi realmente não estava no seu normal. Assim como acontecera com Eliane, tinha a impressão de que conhecia Davi há anos!

_E aí a Eliane saiu...foi para outro lugar...e eu fiquei lá..._Davi retirou os óculos e enxugou as lágrimas que teimavam em cair descontroladas._Não sei o que deu em mim, Cácio...uma ausência, sei lá...Era como se a minha mente estivesse bem longe dali, cara...como se tivesse fugido pra outro lugar, entende? 

_Sei bem como é isso, Davi._disse Cácio muito sério e atento._E esta ausência durou muito tempo?

_Não durou...sei lá..._Davi deu de ombros parecendo extremamente vulnerável, frágil._Não pareceu durar muito tempo...Só sei que foi muito estranho, Cácio!

NINGUÉM FOGE DO PRÓPRIO DESTINO!-Armando Scoth Lee-romance espírita gayOnde histórias criam vida. Descubra agora