NINGUÉM FOGE DO PRÓPRIO DESTINO!-Armando Scoth Lee-romance espírita gay

CAPÍTULO 54

Dona Mariana havia conversado com os dois, antes que Roberto fosse embora. Ela explicara que não apenas Adriano e Márcio, mas também as amizades que eles haviam feito no umbral, de onde eles sempre escapavam, estavam desejosas de permanecerem no plano carnal.

Ao ouvir aquilo, Roberto e Davi entreolharam-se sentindo um arrepio pelo corpo. Simultaneamente, os dois examinaram  em volta, como se procurassem divisar todos aqueles espíritos sem luz de plantão apenas esperando o momento em  que os dois iriam lhes alimentar com  energia sexual.

_Ah, dona Mariana, não fale uma coisa dessas!_disse Roberto agoniado._Então estamos enfrentando é uma legião de demônios, isso sim! O que aconteceu? Esqueceram de fechar as portas do inferno e agora pegam a mim e ao Davi para Cristo?

A médium olhou pra ele com a expressão severa, como uma mãe cuidadosa que repreende o filho por algum erro cometido:

_Você não deve falar assim, meu filho! São comentários como este que dão forças para os espíritos sem luz, Roberto! Isso sem falar que eles se identificarão com a sua vibração ruim e cada vez mais se aproximarão de você! Aproxime-se das coisas boas, da luz e não das trevas!

_Desculpe-me._ele falou arrependido, afinal, estava na casa dela e tinha certeza de que aquela mulher de paz não ousaria se referir a qualquer desencarnado daquela maneira._Peço que releve, pois tudo isso pra mim é muito novo e me deixa bem apreensivo, dona Mariana. Perdão por ter falado nestes termos dentro da sua casa.

Davi sentiu o quanto Roberto parecia mais humilde. Talvez, avaliou, o mundo espiritual tivesse permitido que ele passasse por aquela provação justamente para que ele se tornasse menos materialista e mais focado no espírito. 

Dona Mariana tocou maternalmente o ombro do empresário e ele sentiu o quanto aquela mulher era capaz de transmitir paz e doçura com um simples toque.

_Eu quero que vocês dois se coloquem no lugar destes irmãos desencarnados e tão desorientados, meus filhos._a idosa falou muito séria._ Certamente vocês dois gostam de viver, de comer coisas gostosas, de fazer sexo, de aproveitar a vida. De repente, como foi o caso dos dois, isso tudo cessa! Eles praticamente foram retirados do corpo físico  em segundos, pelo que você descreveu, Roberto! Não estavam preparados para aceitarem  a morte do corpo físico e se revoltam contra esta condição até hoje, mais de dez anos depois! Não desencarnaram após  uma doença cheia de sofrimentos que se arrastou por meses, fazendo com que eles desejassem o desencarne para se livrarem das dores físicas...Vocês estão me entendendo, meus filhos? Adriano e Márcio ainda sofrem muito e precisam de nossa ajuda, da nossa compaixão.

_Os dois estavam vendendo saúde quando morreram, isso sim._Roberto não se conteve._E viviam cheios de planos para o futuro. Como todo jovem, acreditavam certamente que seriam eternos!

_E foram obrigados a abandonarem os corpos que habitavam de maneira tão trágica._completou Davi sentindo o peito apertado só em  pensar em dois jovens sendo arrancados de seus corpos num acidente tão violento quanto aquele parecia ter sido.

Davi, mais sensível e mais experiente, sentiu uma agonia tomar conta de seu corpo e conteve uma lágrima que teimava em rolar pelo seu rosto. No momento seguinte, sentiu pena daqueles que não mais podiam sentir prazer ao fazer amor com o homem que tanto desejavam e que pareciam tanto amar. Realmente era uma situação difícil para os dois desencarnados aceitarem, avaliou Davi compadecido.

Roberto, por sua vez, ainda estava preso na ira e mais uma vez não se conteve:

_Dona Mariana, eles têm que entender que eu não tive culpa por aquele acidente! Ainda se eu fosse  o motorista daquele ônibus, eles poderiam até ficar irados comigo imaginando que eu pudesse ter feito algo de errado! Eu e os outros só não morremos por milagre mesmo! Não estivessem os dois procurando se aproveitar da carne e talvez até estivessem desejando que eu tivesse morrido junto com eles!