Os dias que vieram a seguir foram cinzas para Alfonso. Estava completamente isolado de tudo e de todos, seu apartamento ainda tinha todos os móveis cobertos e cheirava como se tivesse algo estragado por ali.
Vivia de delivery, mal tinha roupas para se vestir, não que isso importasse, já que na maior parte do tempo ficava apenas com seu moletom. Não tinha tempo nem ânimo para sair, em vez disso, depositava todo o tempo que tinha em remoer o que aconteceu.
Ainda não conseguia digerir a forma rápida com que tudo chegou ao fim.
— Oh, enfim eu te achei — Ele sorriu de canto, dando passagem a Martha ao vê-la agarrada a alça de sua bolsa — Uau! Tem algo cheirando estragado aqui — Franziu o nariz, se aproximando para cheirá-lo — É você?
Alfonso: Claro que não — Riu de leve, negando — Ainda não cheguei na fase onde não tomo banho — Puxou o moletom para se sentar, dando espaço para ela — Apesar de acreditar que estou bem próximo disso.
Martha: Oh, querido... — Segurou o queixo dele, olhando-o atentamente — Não preciso nem mesmo perguntar como está com tudo isso, não é mesmo? — Ele deu de ombros, suspirando.
Alfonso: Como sabe o que aconteceu? — Arqueou uma sobrancelha, e ela sorriu.
Martha: Eu sempre sei de tudo — Piscou, orgulhosa — Mas Alicia esteve em casa ontem — O rosto de Alfonso se iluminou ao ouvir o nome da filha — E claro, não tinha como não perceber o quanto estava abalada. Miguel a seguia como um verdadeiro cão de guarda, e ai, uma coisa levou a outra... e ela acabou falando da viagem da mãe — Ele apertou a ponte do nariz, meneando a cabeça.
Alfonso: Como está Alicia? — Martha encolheu seus ombros e ele riu sem humor — Isso tudo é culpa minha.
Martha: Querido, já sabíamos que isso acabaria acontecendo, mais cedo ou mais tarde — Ele assentiu, quieto — Mas você não pode continuar nesse estado lastimável, olhe só pra você! — Alfonso se olhou, dando de ombros em seguida — Parece que não tira esse moletom a uma semana! E essa barba! — Segurou o rosto dele com uma careta de reprovação — Você envelheceu dez anos em dez dias!
Alfonso: Foi isso o que aconteceu com a minha alma — Se jogou com os braços abertos, e ela riu com o drama.
Martha: Oh, querido! — Bateu a mão sobre o peito dele que se deitou em seu colo — Não seja exagerado — O olhou, divertida — A sua alma já era velha — Ele sorriu, com o nariz franzido.
Alfonso: Obrigado por isso, dona Martha — Colocou a mão em seu peito — Era tudo o que precisava para acelerar essa morte lenta — Ele suspirou com o fundo de verdade naquela frase — É isso o que está parecendo, mãe. Eu estou morrendo aos poucos.
Martha: Ninguém morre por amor, Alfonso — Passou as mãos pelos cabelos dele — Eu imagino o quanto deve estar doendo, mas esse sofrimento vai fazer seu coração ainda mais forte.
Alfonso: E se ela esperar mais dezesseis anos para voltar? — A olhou, receoso — Ou pior, e se ela nunca mais voltar, mãe? O que vai ser da minha vida?
Martha: Filho, você está vendo isso da perspectiva errada — Pontuou, recebendo a atenção dele — A vida dela está aqui, a família dela está aqui, a filha dela está aqui. E vocês ainda estão casado! — O lembrou, e ele instintivamente tocou a aliança em sua mão — Ela vai voltar. Ela só precisa desse tempo para se reorganizar, para respirar. Mas ela vai voltar — Alfonso assentiu, o fio de esperança fazendo seus olhos acenderem — A pergunta que não quer calar é: o que você tem feito nesse tempo, para organizar a bagunça que fez? Porque ela precisa voltar e encontrar a casa organizada, para poder ver que você ao menos tentou reparar tudo o que fez — Ele franziu o cenho, considerando.
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Segunda vez amor
Fanfiction"Nem todos os amores são como nos contos de fadas. Nem todos os amores nasceram para dar certo, ao menos não na primeira vez. Uma história mal contada, um passado conturbado e um futuro feliz? Talvez! Da vingança ao amor é apenas um passo."