— Quer saber? Deixa isso pra lá — Desconversou, gesticulando com as mãos — Pra falar a verdade, eu não sei de nada, isso tudo é suposição.
Anahí: Você falou com certeza demais para quem estava apenas supondo alguma coisa — O olhou desconfiada — O que você sabe, Christopher?
Christopher: Eu realmente não sei de nada — Encolheu seus ombros com um sorriso sem vida — Mas todos os dias que olho para esse lugar, me pergunto como um acidente pode ter causado um estrago tão grande — Ela olhou para a imensidão cinza, suspirando — Não fique encanada com isso, ok? Eu apenas comentei com você sobre algo que desconfio.
Anahí: Eu realmente espero que esteja errado — Admitiu, negando com o rosto — Eu amava esse lugar, era tudo o que meu pai tinha de sua família. Eu não sei como reagiria, caso descobrisse ser proposital. Tem que ser uma pessoa podre e baixa demais, para fazer tamanha crueldade.
Christopher: Não fique com isso na cabeça, o que está feito, está feito — Colocou a mão no ombro dela — Infelizmente, não temos como mudar. Agora é bola pra frente.
Anahí: Você tem razão, mas sei que no fundo, você sabe que não é bem assim — Bateu o dedo indicador no peito dele — Por mais que dizemos "o que passou, passou", o peito grita, porque o que passou, também deixa marcas. E nem sempre elas podem ser apagadas.
Christopher: E você sabe disso melhor do que ninguém — Anahí assentiu com um sorriso de canto — Espero que tenha conseguido reconstruir sua vida, da maneira que você merece.
Anahí: Oh, não tenho como reclamar da minha vida de hoje — Passou as mãos por seus braços — Eu tenho uma filha de dezesseis anos, sabia? Ela é incrível! — Contou, surpreendendo-o — Trabalho em um dos melhores hospitais do país, tenho um cargo excelente e me casei com o homem que sempre amei — Suspirou ao encerrar — Não tenho como reclamar de nada do que me aconteceu.
Christopher: Espera — Pediu, gesticulando — Você se casou com o Herrera? — Anahí assentiu com um sorriso orgulhoso, como se tivesse ganhado um prêmio — Isso é sério? Uau! Quem diria...
Anahí: Ninguém mais acreditava que isso era possível, nem mesmo nós — Fechou os olhos brevemente ao se lembrar dele — Mas o tempo foi justo com nós dois, e hoje... estamos mais felizes do que nunca.
Christopher: Eu fico feliz por você — Passou a mão pelo braço dela — Escuta, eu realmente preciso ir, mas quero te fazer um convite — Bateu as mãos em seus bolsos, até encontrar sua carteira — Tome, esse é o meu cartão. Se for continuar na cidade por mais algum tempo, me ligue. Gostaria que fosse conhecer o hospital onde trabalho — Anahí arqueou as sobrancelhas ao ler a especialidade dele no cartão — Te conhecendo como conheço, tenho certeza absoluta de que vai gostar de nos visitar.
Anahí: Pediatria? — Ele assentiu com um sorriso imenso, sentindo verdadeiro orgulho por sua escolha — Por essa eu não esperava.
Christopher: Vai se surpreender ainda mais, se aceitar nos visitar — Piscou para ela, se despedindo com um abraço — Foi muito bom te ver, Ana. Nós sentimos sua falta por aqui.
Anahí: Eu também senti falta desse lugar — Acenou em seguida, guardando o cartão em seu bolso — Até mais.
Se virou novamente para as cinzas que um dia foi de sua casa, suspirando. E em silencio, andou em meio a ela, ignorando a sujeira em seu sapato claro. Era como se ainda pudesse se lembrar, exatamente o lugar de cada coisa por ali.
Mesmo com o pesar, apenas agradeceu. Mesmo tendo perdido tudo, ninguém perdeu a vida, e isso já era uma grande conquista.
Se abaixou próximo de onde era a sala de sua casa, pegando um pouco das cinzas em sua mão. Fechou os olhos brevemente, sorrindo ao se lembrar do dia em que ganhou de seu pai o patins que tanto pediu e amou. Caiu muito por ali, ralou, chorou e se levantou. Várias e várias vezes. Até aprender a seguir em frente.
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Segunda vez amor
Hayran Kurgu"Nem todos os amores são como nos contos de fadas. Nem todos os amores nasceram para dar certo, ao menos não na primeira vez. Uma história mal contada, um passado conturbado e um futuro feliz? Talvez! Da vingança ao amor é apenas um passo."