Capítulo 4

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ALYSSA

Dante passou a metade do voo acordado querendo andar para todos os lados do avião e a outra metade no peito. Ainda bem que ele ainda mama - apesar de ter dois anos de idade - porque não sei de qual outra forma eu conseguiria acalmá-lo.

Recebi olhares de compreensão e outros olhos de reprovação, porque meu filho de dois anos de idade não estava se comportando como um adulto em um voo de mais de 15 horas. Sem contar a viagem que fizemos para Lituânia para despistar Augusto e minha família.

Ao chegarmos em Marseille tive que pegar um ônibus para a gare – estação de trem. Em seguida um trem para Saint Tropez e depois mais um ônibus até o local do endereço que Amanda me entregou.

Alguns anos atrás, Ximera, uma amiga de Amanda teve que fugir pois tinha sido jurada de morte por umas das pequenas gangs de Bucaramanga. Ela veio para a França, primeiro ficou em Paris. Conheceu uma família rica que tinha casas no Sul da França. Uma de suas casas era o chalé para o qual estou indo agora.

A senhora rica, cujo nome eu não ainda sei, ajudou muito Ximena. Ela a deixou morar nesse pequeno chalé durante dois anos, pois ela não o usava. Quando Ximera se casou com um francês e finalmente foi embora do chalé, três anos atrás, o local ficou vazio.

A rua é vazia, não tem muitas casas. O ponto de ônibus mais próximo fica há 15 minutos ou mais daqui, pois já fazem 15 minutos que estou andando e ainda não cheguei. Ando um pouco mais, olho de um lado para o outro e não vejo chalé nenhum. Somente uma casa gigantesca. Tiro o celular do bolso e digito o número que Amanda me deu.

Não pude trazer muitas coisas comigo da Colômbia. Assim que cheguei no aeroporto de Marseille, comprei um celular novo, um computador e um chip francês pós-pago. Eu não podia trazer cartão ou eletrônicos que pudessem me rastrear. Também não podia entrar em outro país com uma soma muito grande de dinheiro em liquido dentro da bolsa, eles me fariam muitas perguntas. Cheguei na França com 3mil euros líquidos. Por enquanto me restam 2mil euros, mas sei que com as coisas que precisarei comprar, não vai me sobrar muito.

O celular começa a chamar. Uma, duas, três vezes. Na terceira vez uma voz me responde.

- Allo, bonjour. – Me saúda uma voz feminina.

Eu aprendi francês e inglês na escola, apesar de ter um sotaque bem carregado, posso me comunicar sem problema algum.

- Oui, bonjour. C'est Al- Me interrompo, me lembrando que troquei de nome. – C'est Kaia. – É a Kaia, me corrijo rapidamente.

- Ah oui! Já estou chegando, querida. Não demoro muito. Dez minutos e já estou aí.

Ela desliga rapidamente, não tenho tempo de explicar que eu provavelmente estava no lugar errado, por não tem chalé nenhum por aqui.

Minhas costas doem, por ter carregado o peso morto de um Dante dormindo no colo desde o ponto de ônibus e ainda tendo que carregar nossa mala. Não trouxe muitas coisas, a única mala que eu trouxe estão com minhas coisas e as coisas de Dante dentro, então não deixa de estar pesada.

Não existe exatamente uma calçada na rua onde estou, então não posso me sentar e descansar. Fico em pé, esperando pela senhora que foi muito gentil no celular. Não sabia que podia-se caber 15 horas dentro de 10 minutos. A cada minuto que se passava, parecia que era um minuto a mais sendo adicionado para a conta.

Escuto um barulho e um carro passa, fico ansiosa esperando por minha salvação, mas o carro passa direto. Respiro fundo, frustrada.

Ficar ociosa, me faz pensar em como estão as coisas na Colômbia. Já faz um dia que desapareci sem deixar rastro nenhum para trás. Me pergunto se Augusto está revoltado ou arrependido. Me pergunto se meus pais estão arrependidos de não terem me ajudado ou se pensam que foi Augusto quem me matou e escondeu meu corpo.

Porto seguro (Dinastia Schneider)Onde histórias criam vida. Descubra agora