ALYSSA
Faz duas semanas que estou trabalhando e ainda choro todas as manhãs quando chego em casa no final do meu turno. Estou exausta e não durmo mais do que 3 horas seguida durante o dia quando Dante faz seu cochilo da tarde.
As vezes sinto que meu corpo está cansado demais. Fisicamente, mentalmente e emocionalmente. Quero ceder, mas não posso. Dante salvou minha vida e agora preciso salvar a dele. Não posso abandoná-lo nesse mundo terrível com pessoas terríveis sem o único porto seguro que ele conhece. Eu.
Dante tem passado todas as noites em que trabalho na casa dos Vidal, assim pago um pouco menos a babá, já que estamos dividindo as horas. De manhã, quando chegamos em casa, eu tento fazê-lo gastar o máximo de energia que consigo, para que ele possa dormir bastante tempo a tarde e eu também.
Ontem e anteontem tive meus dois dias de folga da semana e não consigo dormir muito a noite, pois já me acostumei a passar a madrugada acordada. Durmo no máximo duas ou três horas, mas para quem não dorme nada, isso me parece o suficiente.
São 17h e preciso ir me arrumar e levar Dante para os Vidal. Saio da piscina e Dante chora, pois queria brincar mais.
- A gente volta amanhã, cariño! – Dou um beijo em seus longos cabelos molhados e tento acalmá-lo dizendo que vamos brincar com a água do chuveiro. Problema de crianças sul-americanas: elas adoram tomar banho e brincar com a água.
Quando chego na casa dos Vidal, Dorothy está sozinha e parecendo bem estressada. Florian já tinha ido para a boate. Deixo Dante e entramos no carro.
- O que aconteceu? – Ela olha para mim, mas não diz nada.
- Nada.
- Por que está mentindo?
Ela respira fundo e passa a palma da mão ao redor do volante, tentando manter suas mãos ocupadas, em seguida coloca os cabelos louros atrás da orelha.
- Não posso contar, não podemos confiar em você totalmente, Kaia.
Preciso dizer, eu não esperava por aquilo. Sua palavra veio a mim, como um tapa em meu rosto, me acordando para a vida. Apesar de serem boas pessoas e terem me acolhido, eles me veem como a clandestina, a imigrante. Não faço parte da família.
Sinto um aperto no peito. Eu não pertencia ao lado de minha família ou meu marido na Colômbia, mas também não pertenço aqui. Onde é o meu porto seguro? Quem é o meu porto seguro?
Apesar de tentar conter minha tristeza, deixo transparecer meus sentimentos mais do que eu gostaria.
- Não fica chateada, Kaia. Confiança se ganha e por enquanto você tem ganhado a nossa, mas não podemos confiar em você com os olhos fechados, entende?
Afirmo que sim e passo o restante da viagem quieta. Dorothy tampouco tenta quebrar o silêncio. Apesar de nossa conversa o clima não é pesado entre nós, mas posso sentir tensão exalar de Dodo. Sei que algo aconteceu e me parece grave.
Para as pessoas de dentro do clube, tudo parecia um caos. As dançarinas estavam nervosas, tinham mais seguranças espalhados por todo canto, todos pareciam estressados e tensos. Para os clientes tudo parecia normal. Eles não viam o que as pessoas de dentro viam.
Entro no vestiário e algumas meninas estão conversando e trocando de roupa, mas tudo se silencia assim que entro. Aquilo me irrita.
- Sabe – começo a dizer, olhando dentro do meu armário. -, achei que fossemos uma família aqui. Claramente vocês são a família e eu sou... hmm... Não sei... a forasteira?
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Porto seguro (Dinastia Schneider)
RomancePorto Seguro, primeiro livro da trilogia Dinastia Schneider. Alyssa e seu filho fogem de seu país natal para a França, com a intenção de se esconderem de sua família mafiosa e seu marido abusivo. Sem visto, Alyssa aceita o trabalho de stripper em u...