Capítulo 58

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Church

Apesar de ter tratado Alyssa bem, isso não quer dizer que eu não esteja magoado, mesmo que algo dentro de mim queira perdoá-la. Pude ver diversas vezes, o quanto ela ficou triste por eu tê-la tratado bem, como se aquilo a lembrasse de algo que ela perdeu. Os piores gatilhos, são os felizes que te lembram de uma felicidade que você nunca teve ou que foi perdida.

No restaurante, quando ela voltou do banheiro, com os olhos inchados e vermelhos, eu tive que controlar tudo em mim para não a tomar em meus braços e confortá-la. Mas então eu me lembrei, confortá-la por quê? Por ela ter transado com meu irmão? Por ela ter destruído a porra do meu coração e ter feito criar fraquezas em mim que eu nunca tive antes?

Talvez todas as possibilidades anteriores.

Posso ver que está assustada por saber que estávamos sendo seguidos. Senti seu corpo ficar tenso ao lado do meu, quando estávamos dentro do carro. Mesmo dentro do elevador, ela estava nos ouvindo, mas não estava nos escutando.

Seu olhar mudou. Outrora ela parecia triste, um pouco culpada. Quando seu cérebro se deixava ir e nossa conversa nos embalava, nos fazendo esquecer do que aconteceu quase duas semanas atrás, ela até parecia feliz. Mas agora? Agora ela parece em completo desespero e pânico, como se a ideia de ter Augusto perto dela novamente a assombrasse.

Não a culpo. Ela não me contou muitas coisas sobre seu relacionamento com Augusto. Para dizer a verdade, Alyssa é bastante otimista, pois sempre o descrevia como "um bom pai para Dante".

Eu sei que ele já bateu nela ao ponto de arrancar sangue seu e deixar cicatrizes em seu corpo, mas ela sempre falava "ele fez tal coisa, mas ele era um bom pai para Dante" e me doía a cada vez que ela dizia isso. Minimizando a monstruosidade que ele era e todas as coisas ruim que fez.

Alyssa nunca esteve apaixonada por Augusto, ela nunca o amou, mas mesmo assim ela se sente na obrigação de defendê-lo como seu marido. Talvez seja seu carisma e o fato de sempre ver o bem nas pessoas. Ou talvez, seja algo parecido com uma síndrome de Estocolmo, onde a prisioneira acredita que seu sequestrador é uma pessoa boa como um mecanismo de defesa do cérebro para sobreviver.

Alyssa hesita milésimos de segundos quando a deixo sozinha na sala. Por uma fração de segundos, achei que ela fosse me segurar pelo braço e me impedir de deixá-la sozinha, mas ela não fez nada.

Deito Dante na cama e quando estou prestes a sair, ele se agarra a minha camisa, me obrigando a me deitar ao seu lado. Tento me levantar mais uma vez, mas Dante resmunga. Finalmente sinto seu corpo começar a ficar mole novamente, ele cedendo ao sono.

Meu celular começa a vibrar em meu bolso e o barulho faz com que Dante se agarre a minha camisa novamente. Merda! O celular continua vibrando com diversas ligações e mensagens chegando.

Tiro o celular do bolso rapidamente, pois temo que seja sobre Augusto. Entretanto, quando a próxima mensagem chega e o display se ilumina, me dou conta de que o celular não é meu e sim o de Alyssa. Acabamos trocando de celular ao sair do restaurante e não nos demos conta.

Mais uma mensagem chega e meus olhos são rápidos demais ao absorver a informação recebida nas mensagens.

Dani: vai querer o visto no nome de Alyssa ou Kaia?

Dani: resp rápido estou com o cara

Dani: Alyssa!!!!

Dani: Peguei um novo passaporte com o nome de Alyssa e um visto em cada um dos passaportes

Dani: Pra quando eu compro a passagem?

Dani: ALYSSA!!! RESP

Meu coração começa a bater mais rápido no peito. Alyssa está planejando ir embora e o traíra do meu irmão a está ajudando.

Porto seguro (Dinastia Schneider)Onde histórias criam vida. Descubra agora