Capítulo 68

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Church

Meu coração se contorce um milhão de vezes quando vejo Augusto puxando a calcinha de Alyssa para baixo e a tocando contra sua vontade. Eu já tive pessoas forçando-me a fazer coisas com meu corpo das quais eu não estava com vontade e sei como isso nos faz sentir como lixo.

Tudo o que temos nesse mundo é nós mesmos. Nosso corpo é o único que não deveria nos trair. É o único em quem podemos confiar, porque cabe a nós mesmo tomar decisões sobre ele.

Mas então, quando alguém te força a fazer algo que você não quer, tirando o controle de você, tirando tudo aquilo que você crê conhecer, arrancando suas escolhas... É algo muito difícil de se viver.

Quando a escolha é arrancada de nós, nossa vida se esvai com ela. É como um tiro. Um segundo. Duas vidas.

Uma estragada e danificada. Destruída para sempre. E a outra também. Ele só não sabe disso ainda.

Enquanto tentava me soltar, uma lasca da cadeira cedeu com meu peso. Essa era a minha chance para cortar a corda. No começo, eu estava sendo delicado, tentando me soltar cuidadosamente, um, para não me machucar e dois, para evitar que Augusto se desse conta de que ele estava a poucos minutos de sua morte.

Todavia, porém, entretanto. Mais ele encostava seus dedos na pele da minha mulher, mais meu autocontrole ia por água abaixo. Mas tudo piorou quando ele deixou claro que a violentaria novamente.

O homem é completamente lunático e desequilibrado.

Eu realmente achei que não fosse conseguir me soltar. Me senti incapaz quando vi seus dedos puxarem a calcinha de Alyssa para baixo e quase morri quando o choro de Alyssa cortou o ar, ao sentir seus dedos tocarem a intimidade dela.

O desespero e o pânico em sua voz, sabendo que estava prestes a passar por aquilo de novo.

Ter a escolha tirada de si.

Ter o autocontrole do seu corpo arrancado.

Ter sua carne violada.

Ter seu próprio corpo a traindo.

Pude ver o pedido de desculpas em seus olhos, quando o olhar de Alyssa brevemente cruzou os meus, antes de fechar seus olhos. Eu vi quando ela desistiu de lutar. E o que mais me doeu foi seu olhar, como se eu fosse sofrer mais do que a vítima, por ver aquilo.

Ela estava mais preocupada comigo do que com ela. Provavelmente revivendo o momento em que se entregou a Daniel, como se aquilo pudesse ser comparado ao terror que ela está revivendo com Augusto entre suas pernas.

Esfrego o braço desesperadamente contra a lasca solta. Sinto farpas entrarem em minha carne, mas se está doendo, é porque estou vivo. E se ainda estou vivo, é porque o universo me deu a oportunidade de tirar minha mulher dessa. Esfrego mais forte e sinto quando meu braço se solta.

Augusto está cego pelo seu desejo de machucar a mim e a Alyssa. Ele perdeu o controle. E foi quando ele perdeu o controle que eu reganhei o meu.

Me jogo no chão, a cadeira se quebrando com meu peso. Puxo-a para cima com tanta raiva que ela vem sem dificuldade alguma. Os pés da cadeira são mais finos onde meu tornozelo está preso.

As cordas se afrouxam ao redor do meu tornozelo, mas continuam lá. Olho ao redor e pego a primeira coisa que vejo à minha frente. E não perco tempo antes de bater com o ferro da lareira contra a têmpora de Augusto, fazendo com que seu peso caia sobre Alyssa.

— Não. Encosta. Na. Minha. Mulher. — Digo pausadamente, e a cada pausa, bato com o ferro em qualquer parte de seu corpo que esteja ao meu alcance.

Sangue escorre dos lábios entreabertos de Augusto e ele tem dificuldades para respirar, mas não estou preocupado com ele, ele não vai durar muito. Precisamos sair daqui. Precisamos buscar Dante e ter certeza de que nada aconteceu com Daniel.

Porto seguro (Dinastia Schneider)Onde histórias criam vida. Descubra agora