Capítulo Quatorze

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  Abigail já havia esquecido sua sopa de cebola, e pensava no melhor modo de recusar o convite ao baile, sem ofender a sogra.


  - Realmente preciso de alguns vestidos novos, pois em Bedfordshire não temos costureiras como aqui, mas vestidos de baile acredito que não sejam necessários - sorriu tímida - O que gostaria mesmo era passar alguns dias na casa de meus pais antes de voltar ao campo - olhou de esguelha para Ezra, esse pedido ele não poderia negar. Notou que o marido trincava a mandíbula, sua mão estava a meio caminho da boca levando uma colher. Ele abaixou o objeto até o prato e a encarou.


  - Minha senhora ficara aqui - apertou as mãos em punhos para conter a raiva - Pode visitar sua família o quanto quiser, mas claro sempre acompanhada de sua dama de companhia ou a Duquesa Viúva e Madelaine - enfatizou - E sobre o baile - apontou para Modesty - Minha mãe já confirmou nossa presença pelos próximos quinze dias pelo menos, não poderemos não comparecer.


  - Se esse é o caso - ruborizou olhando culpada para sogra - Então amanhã vamos a modista, só precisarei passar na casa de Sally, pois prometi que faríamos compras juntas, e ela vai adorar conhecer vocês.


  O restante do jantar se passou sem maiores problemas, Abigail tentava ser cordial com o Duque perante sua família, não poderia tratar mal pessoas que sempre a estimaram tanto. Assim que o jantar terminou, as mulheres foram para a sala de visitas e Ezra as acompanhou. Era um aposento muito romântico, duas poltronas em frente a lareira, um dois sofás logo atras com uma mesa para o chá no meio. Havia também um piano pequeno somente para entretenimento da família, as janelas davam para o jardim. Assim que Abigail entrou foi se sentar diante do fogo, precisava de alguma distância do Duque, ele estava a todo momento a tocando, ou olhando de forma estranha, e isso a deixou tensa o jantar todo.


  Ao se sentar percebeu que tinha um livro na mesinha ao seu lado, pegou e verificou o título, Romeu e Julieta de Shakespeare, uma de suas histórias favoritas, sempre chorava ao ler, pensando no amor daqueles jovens. Abriu em uma página qualquer e passou seus olhos pelas linhas tentando identificar onde estava. Não percebeu que alguém se sentava ao seu lado, sempre que lia saia do mundo real, mais nada a volta lhe chamava qualquer atenção. Só notou que falavam com ela quando tocaram de leve seu braço, ela levantou de súbito a cabeça assustada. Olhou para a pessoa que a tinha despertado de seu sonho literário, e viu um par de olhos negros brilhando de divertimento, aquela boca com um sorriso aberto e franco.


  - Você sempre se perde quando lê? Ou somente Shakespeare tem esse privilégio? - falou Ezra. Ela piscou aturdida, estava perdida demais em seu sorriso para responder de forma rápida


  - Bom, ehhhh... - suspirou e desviou o olhar - Eu sempre fui uma leitora ávida, sou uma romântica por natureza - sorriu se lembrando da juventude - Li todos os livros que pude, minha mãe ficava muito irritada, pois queria que eu fosse como minha irmã - ela deu de ombros - Mas sempre fui muito tímida - voltou seu olhar para ele. Parecia muito amistoso naquele momento, será que poderia ter uma convivência pacífica com aquele homem?


  - Sobre o baile de amanhã, sei que está nervosa pelas fofocas - ele segurou sua mão que estava apoiada no encosto da cadeira, Aby olhou nervosa pela sala e percebeu que a sogra e a cunhada estavam absortas em uma conversa, folheando uma revista de moda, aparentemente estavam decidindo quais cores e modelos se adequavam para ela, seu coração derreteu um pouco pelo gesto de carinho, e voltou seu olhar para ele - Estarei ao seu lado a todo momento, não se preocupe - fez círculos com o polegar pelo pulso dela - Não quero que se sinta intimidada, você é uma Duquesa, e ninguém poderá lhe tratar com indiferença - ela baixou a cabeça, olhando para os seus pés que se mexiam com nervosismo, ele passou seu dedo indicador da mão livre pelo queixo dela e levantou suavemente, até seu olhar se encontrar com o dele - Acredite em mim Abigail, não tenha medo - ela ruborizou pelo ato de intimidade, aquilo parecia mais íntimo que o beijo que trocaram.


  - Passei muito tempo afastada da sociedade, me preocupa como podem me ver, e mais importante como enxergarão meu regresso, isso vai gerar especulações - balançou a cabeça em negativa fechando os olhos - Eu sou muito tímida Ezra - abriu novamente os olhos, ele notou que existia uma tristeza no fundo deles - Nunca soube me comportar apropriadamente em ambientes formais, sempre me escondi no fundo dos salões, e quando estava no campo participei de pequenos bailes regionais, nada muito grande ou com muitas pessoas importantes.


  Ele ficou deliciado ao notar seu nome de batismo saindo dos lábios dela, com aquela voz naturalmente rouca e melodiosa, acreditou que perdida nas palavras nem percebeu como o chamou, sorriu, iria tornar a noite seguinte especial para ela.


  - E como eram os bailes e a comunidade de Bedfordshire? - Ezra perguntou, mudando de assunto para que ela se sentisse mais à vontade em sua companhia, notava que quando falava sobre outros assuntos, quando tirava o foco de si ela se tornava muito mais relaxada. Ela soltou sua mão da dele e se recostou no assento com o livro esquecido em seu colo.


  - É uma comunidade muito agradável - ela sorriu se lembrando de algo - Você tem um vizinho, o Sr. Longman - ela o fitou com o olhar travesso - Ele tem um pequeno pomar, Sally e eu nos entediamos muito fácil, e acidentalmente sempre paramos naquele local - ela segurava a gargalhada - A governanta do Sr. Longman fingia não nos ver, mas teve um dia que ele estava passeando ao redor e nos flagrou comendo algumas maças - ele estava se divertindo ouvindo a história, não sabia que sua esposa era tão espirituosa - Sally tinha feito seu vestido de cesta, e tinha no mínimo umas seis frutas, quando vimos o homem ela jogou tudo no chão e começou a correr gritando "FOGO!" - agora ela gargalhava cobrindo a boca - Eu estava de costas, quando a vi correndo e me virei o Sr. Longman parou ao meu lado e simplesmente falou - ela imitou a voz de um velho - "Se vai tirar minhas maças do pé, pelo menos as leve e faça uma torta, e da próxima vez peça a Srta. Sally para não correr dessa maneira, ou vão pensar que há assombração nas minhas terras" - ela o olhou divertida - Então ele virou as costas resmungando algo sobre mulheres e loucura, e depois desse dia ele nos encontrava sempre no pomar para conversar.


  - Parece que perdi muito do divertimento durante esses anos - ele olhando para o perfil da esposa, ela parecia uma obra de arte, nariz levemente arrebitado, lábios carnudos e um queixo pequeno. Ele tinha vontade de seguir seu perfil com o dedo, tocar para saber se era realmente real aquela visão, então ela o olhou e sorriu, e ele simplesmente sentiu seu coração perder uma batida. Aby continuou contando sobre as pessoas na pequena comunidade que passou seus últimos cinco anos, e ele lhe falou como era o parlamento, sobre o que estavam discutindo no momento. Foi uma conversa muito agradável, não imaginava que a esposa fosse uma mulher tão inteligente e sagaz.


  Aby deu um pequeno bocejo e olhou para o relógio, ja tinha passado do seu horario habitual de dormir.


  - Ohhh já esta tarde, preciso me deitar ou então não conseguiremos fazer nada do que programamos - olhou ao redor e percebeu que estavam sozinhos - Acho que elas já foram se deitar - se levantou e sorriu tímida para o Duque - Irei me retirar também Vossa Graça, tenha uma boa noite.


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NOTA DA AUTORA: Obrigada por continuar lendo a obra. Se você tiver intenção de acompanhar a história, ficarei muito feliz e ansiosa para ler suas opiniões. Deixe um comentário sobre os seus sentimentos, positivos ou negativos, é um incentivo para que eu continue escrevendo.

Mais uma vez obrigada por ter chegado até aqui. Espero que tenham apreciado a leitura!!!

Capítulos irão sair toda terça e quinta-feira!

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