| CAPÍTULO 03 |

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P.O.V JADE LANCELLOTTI:
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  Minha cabeça é um emaranhado de confusão e lembranças atrapalhadas do último dia em que estive acordada, e de vozes. Vozes dele, o Mattia, falando de coisas aleatórias e pessoas que não conheço por vários e vários minutos durante vários dias.

    Estava com medo de dormir de novo, por dois motivos: sentia que se eu dormisse, poderia voltar para o coma e demorar ainda mais que um mês para acordar. Ou que se eu dormisse as lembranças do dia em que fui violentada viriam em forma de pesadelo.

    O coma é uma sensação estranha e assustadora. Eu o ouvia, ouvia ele conversar e queria abrir os olhos para ver quem era o dono da voz. Queria falar. Queria. Mas nada saia, nenhuma reação, nenhum xiado da minha garganta. Nada. Ouvia todo mundo conversar e sabia que até mesmo tocavam em mim, trocavam meu soro, mas eu não sentia nada, nada, além de ouvir vozes e enxergar um vazio constante.

    Estava ouvindo a voz dele quando algo se acendeu no meu cérebro e eu consegui me mover, senti meus movimentos, meus pelos se arrepiando sob o toque do estranho tagarelando ao meu lado.

    Consegui abrir os olhos também, e a luz penetrou em mim como um farol de carro a cinco centímetros de distância, como se eu fosse um bebê vendo a luz do dia pela primeira vez.

    Minha garganta doeu muito quando tentei conversar, e senti um gosto horrível. Já meu corpo parecia jogado em cima de uma cama de pregos pontiagudos, de tantas fincadas que senti. Contudo, a pior das sensações que senti ao acordar, foi o pavor que percorreu pelos meus ossos, como se alguma ameaça iminente estivesse à espreita, então, no primeiro momento julguei que a ameaça era ele.

    Mattia tem um sorriso felino que vi pela primeira vez essa manhã, quando ele caçoou do seu segurança chamado Luca — ou meu, considerando que ele fica parado em frente a minha porta — e o seu humor é sarcástico, pude perceber quando conversamos.

    Sua caminhada é leve e a postura largada, embora classuda e fina; ele não emana perigo, mas sim, cautela. Ele parece ser o tipo de pessoa argilosa e traiçoeira.

    Seus olhos são indecifráveis demais. E lindos, diga-se de passagem, eles tem um tom de azul magnífico e intenso, azul piscina, brilhantes como jóias. O olhar diz muito sobre as pessoas, mas o dele entrega pouca coisa. Para mim, entregou algo sombrio e, além disso, nada mais que mistério.

    Não confiei nele de início. Mas ele tratou minhas perguntas com muita naturalidade e, ainda que eu não seja vidente ou tão sensitiva quanto gostaria, senti a sinceridade em suas palavras aguçadas.

    Iria pra casa dele, decidi. Se estou mesmo em perigo, se tem mesmo pessoas da máfia russa à minha procura e meu pai está mesmo desaparecido (o que está tirando mais que tudo a minha paz) ficarei mais segura ao lado do homem que me salvou da morte.

    Deduzi o que aconteceu comigo quando o médico deu as pistas; o instinto primitivo que percorre meus ossos sempre que algum homem se aproxima de mim e meu corpo manda eu me afastar. Dói saber o que aconteceu e também dói não me lembrar, mesmo ciente de que doeria da mesma forma ou ainda pior, caso eu me lembrasse.

    Nada obstante, ontem a noite, quando dormi a primeira vez achando que teria uma noite de sono tranquila, após ser bombardeada com tantas notícias de uma vez, fui acordada tendo um pesadelo com a lembrança do dia que fui tirada de casa e resultou em mim aqui, e o meu corpo me levou ao dele, me levou a abraçá-lo.

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