| CAPÍTULO 12 |

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JADE LANCELLOTTI:
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    Antes de dormir ajudei o Mattia a trocar o curativo do machucado e ele logo pegou no sono no próprio quarto, já eu fiquei no ateliê fazendo bom uso da minha insônia, já que o que está escrito naquela carta não sai da minha cabeça. Estou curiosa, de fato, mas sinto que devo respeitar a vontade do meu pai.

    Chega a ser clichê a exigência para que eu abrisse a carta apenas quando completasse dezoito anos, como se a partir do momento que se alcança a maioridade, o jovem está preparado para ouvir e entender e fazer qualquer coisa, como se uma semana, um mês ou um ano a menos o deixasse incapaz. Mas aqui estou eu, órfã de mãe e pai, sequestrada e estuprada por uma organização criminosa russa. Viva e suportando o peso da situação como se fosse parte da minha rotina normal.

    No dia seguinte o Mattia ainda dormia, já que tomou remédios para dor e, para um mafioso, é um pouco fresco demais. Então eu deixei o café da manhã pronto e desci para a academia para encontrar o Giovanni e treinarmos. Assim que entrei, ele estava aquecendo, vestindo uma regata e um short de malhar, em uma luta particular com o saco de pancadas.

    — Cadê o bastardo? — perguntou ele ao notar minha presença, sem nem se virar para me ver.

    — Tomou um tiro por mim — falei levantando os braços, com pouca animação. Não sei porquê, mas repetir isso em voz alta fez meus olhos encherem de lágrimas.

    — Um tiro? — Giovanni parou de bater no saco de pancadas para me encarar. — Como?

    — Foi de raspão e o médico da família de vocês cuidou de tudo, chegou em casa junto com ele. Mas… ainda assim é um tiro — peguei pesinhos para me aquecer e Giovanni tombou a cabeça para o lado com os olhos em meu rosto, como se estivesse procurando algo.

    — Sabe que não precisa se preocupar com ele, não é? Não é o primeiro tiro que recebe, nem vai ser o último — Giovanni revirou os olhos com tédio e observei seu ombro, que também carrega um curativo e eu já tinha visto dias atrás.

    — Não é preocupação… é só que… tenho medo de até onde ele é capaz de ir por mim, entende? — fui sincera. Afinal, carrego um sentimento de que devo algo ao Mattia por ele ter salvado minha vida, e as demais coisas só triplicam essa sensação.

    — Até o inferno, ragazza — Giovanni falou com seriedade e eu franzi as sobrancelhas. Ele voltou a socar o saco de pancadas, mas continuou: — Durante um mês que você ficou no hospital, ele ia lá todos os dias e passava horas… eu não vou mentir para você, não sou disso. Achava uma idiotice e perda de tempo, nem sequer sabíamos se você ia acordar e estávamos comprando uma nova briga com a Bratva com poucos meses de distância… — ele pausou para tomar fôlego e novamente me encarou. — Mas quando o meu fratello quer alguma coisa, ele não costuma desistir… e quando é obrigado a isso, ele se transforma. E ao menos que você o obrigue a desistir de você, ele não vai fazer.

    — Então eu tenho que simplesmente aceitar o seu irmão movendo céus e terras por mim só pra mostrar que me quer? Bom, eu já percebi isso — bufei de agonia. Tudo para eles é baseado nisso? Controle e poder?

    — Você devia conversar com ele, impor limites… eu não quero meu irmão morto — Giovanni abriu um sorriso de canto e voltou a treinar.

    — O saco de pancadas te fez alguma coisa? — enruguei o nariz observando a sua agressividade. Mais alguns socos e o plástico vai estourar.

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