| CAPÍTULO 08 |

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MATTIA CASSANO:
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        — Acho que quando a Melanie me fez escolher esse vestido, ela já estava imaginando que eu teria que enterrar alguém — vi ela passar a mão no vestido justo na cor preta.

    — Todos temos que enterrar alguém um dia, Jade — passei atrás dela ajeitando a gravata e ela me encarou pelo espelho. Abri um sorriso amarelo. — O que muda é quando. Vamos?

    — Você sabe mesmo como confortar alguém de luto, hein. — Ela revirou os olhos e me acompanhou.

    Resolvi enterrar o pai da bambina no cemitério da minha famiglia. Ele pode não ser um familiar ou amigo próximo, mas éramos clientes dele a alguns anos.

    A Jade chegou do treino com o Giovanni com os olhos vermelhos, mas não me revelou sobre o que conversaram. Ele também não, afinal, o que o Giovanni mais zela é a confiança e ele não quer perder a dela logo de início.

    Ela é muito boa em esconder as coisas, mas diga-se de passagem, eu sou muito bom em desvendá-las. A questão é que sei que ela está reprimindo os próprios sentimentos tentando se fazer forte — no entanto, uma pessoa forte é a que enfrenta as dores e não considera desistir como opção, e não a que esconde as dores e corre o risco de cair do pedestal.

    Entramos no meu carro e a bambina ficou brincando com os dedos das mãos enquanto eu dirigia sobre a estrada íngreme que leva ao cemitério. Deixei entrar na montanha e convidei para o enterro apenas aqueles mais próximos do homem (obviamente, apenas os que são nossos aliados).

    Parei para refletir sobre essa questão; o Gavino tinha muitos clientes, entre eles, muitos não eram aliados. Será que alguém se rebelou contra o homem por ele fornecer armamento para todos, e não só para máfias aliadas? É uma possibilidade.

    — O que você tanto pensa? — sondou Jade me encarando de soslaio.

    — O que você tanto pensa? — rebati.

    — Bom, daqui alguns minutos eu vou enterrar o meu pai — ela deu os ombros. — É algo a se pensar, não acha? — ironizou.

    — De fato — encarei ela prendendo os lábios entre os dentes.

    Ficamos em silêncio o resto do caminho. Fomos os últimos a chegar no local, contando com o meu casal predileto que já estava lá intimidando os outros mafiosos. Temos um serviço funerário que cuidou de tudo para mim, flores, caixão e essas coisas que usam para dar um enterro digno a alguém.

    Abri a porta do carro para a Jade e segurei em sua mão lhe auxiliando a sair. Não a soltei para caminhar, temendo sua reação quando batesse os olhos no caixão. No momento em que isso aconteceu, ela freou os passos e apertou minha mão com força. Sua testa se franziu e seus lábios estremeceram como se ela segurasse o choro.

    — Não desabe — sussurrei, acariciando as costas da sua mão. Jade levantou a cabeça e respirou fundo.

    — Não vou. — Afirmou, seguindo em passos firmes depois, à frente.

    Todos fizeram silêncio quando ela se aproximou do caixão. Jade soltou minha mão e parou em frente a ele, acariciando a superfície, encarando o rosto do pai embaixo do vidro. Observei seus dedos trêmulos e uma lágrima que molhou sua bochecha.

    Com a vida que eu tinha e tenho, não houve tempo de viver o luto da minha mãe, e a morte do meu pai foi um verdadeiro alívio. Não sei se o luto qual tive que lidar é comparado a morte de um pai (quando se o ama), todavia, consigo enxergar a dor dela e perceber o quanto está se esforçando para não fraquejar.

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