| CAPÍTULO 07 |

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JADE LANCELLOTTI:
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    Morto.

    Não sumido, ou foragido, ou escondido.

    Meu pai estava morto durante todo esse tempo.

    Mattia ficou me encarando com uma preocupação palpável no olhar, temendo pela minha reação, que talvez tenha lhe chocado um pouco quando viu que nem uma só lágrima escapou dos meus olhos. Eu franzi os lábios e desviei meu olhar de volta para o alvo, terminando de descarregar o pente na cabeça do boneco e ouvindo o som oco dos tiros invadindo a minha cabeça e causando uma dor latejante.

    — Acho que… devemos ir para casa. — Travei a arma e lhe entreguei.

    — Você ouviu o que eu falei? — Mattia insiste, com as sobrancelhas juntas demonstrando confusão.

    — Ouvi, e só quero ir para casa, ok? — o encarei ríspida e ele assentiu, me acompanhando calado enquanto eu tentava controlar o tremor das mãos.

    Ele permaneceu me encarando e guardou a arma na cintura à medida que avançamos.

    — Você não tem perguntas? Você pelo menos entendeu que…

    — Que o meu pai está morto. Eu ouvi e entendi. — Fechei os punhos ao lado do corpo. — Sabe quem o matou? — perguntei, tentando não deixar que aquele desespero contido em meu peito tomasse forma, tomasse conta de mim por inteira.

    — Não… os investigadores cuidarão da viagem do corpo para cá e depois voltarão a investigar. Prometo contar assim que souber de algo — ele jogou os fios pretos do cabelo suado para trás. — Eu sinto muito, Jade. Sei que o amava. — Mattia tentou me tocar no ombro, mas não permiti, me afastando.
    — Sim, o amava. — Confirmei com uma frieza fingida. — E ele está morto. — Agreguei, fechando os olhos rapidamente.

    O silêncio inclemente seguiu pelo resto do caminho até a casa do Mattia, que fiquei alheia aos detalhes que pareciam nunca acabar a cada momento que eu entrava e saia do prédio desde que cheguei.

    — Vou para o quarto. — Falei antes de ir. — Obrigada por me falar. — Ele assentiu angustiado e se jogou no sofá respirando fundo, enquanto eu segui pelo corredor até o cômodo.

    Não estava conseguindo pensar, digerir como deveria. Será que talvez, por conta de tudo que passei, toda a dor e o coma, eu tenha me tornado alguém tão vazia a ponto de não conseguir sentir a dor do luto?

    Não, acho que não. Pois quando me sentei na cama, fraca demais para ir até o banheiro me banhar, sem me incomodar com o corpo grudento de suor, consegui sentir a dor  que deveria ter sentido assim que a revelação do Mattia entrou em meus ouvidos, consegui sentir a ponta do que sei que ainda sentiria quando a verdadeira ficha caísse.

    Engoli o choro, e as lágrimas escorreram pela minha têmpora molhando meu cabelo e minha orelha. Puxei a minha blusa com força, pressionando a barriga para manter o choro entalado na garganta, engolindo a dor, a emoção, a angústia, a destruição que a perda pode causar.

    E eu já tinha perdido muitas coisas nos últimos dias, no entanto, percebi que uma casa e uma virgindade sendo tirada a força não é nada comparada a dor de perder um pai.

    Chorei muito e em silêncio, molhando todo o lençol debaixo da minha cabeça, até ser só um emaranhado confuso de sentimentos, dor e exaustão. Exaustão por ter tentado evitar sentir tudo que deveria desde que acordei e ter mantido no peito a esperança de abraçar o meu pai, de senti-lo e ouvi-lo dizer a mim que ia ficar tudo bem. A esperança que se foi junto com sua vida.

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