| CAPÍTULO 33 |

1.6K 216 41
                                    

╠┈┉┈┉┈┉┈┉┈┉❲✿❳┉┈┉┈┉┈┉┈┉┈╣
P.O.V JADE LANCELLOTTI:
╠┈┉┈┉┈┉┈┉┈┉❲✿❳┉┈┉┈┉┈┉┈┉┈╣


Dois meses e alguns dias depois…

    Vejo o Damien matando o Mattia, depois vejo o meu pai matando o Mattia, depois vejo a minha mãe atravessando uma bala no peito dele. Então estou em seu velório, estou chorando sozinha em seu velório e o céu está cinza. Ouço um farfalhar de folhas e quando viro-me para trás, lá está ele, pálido, coberto de sangue e furos de bala no paletó, com uma expressão de puro desgosto e arrependimento no rosto, ódio gélido e amargo.

    — Foi culpa sua, Jade, foi tudo culpa sua…

    E eu acordo, ofegante, suada, chorando com toda a força dos meus pulmões. Encolho os joelhos, escondendo o rosto no meio deles, continuando a chorar me esquecendo que posso acordar a Mirella.

    Me lembro disso tarde demais, pois quando ouço a porta ser aberta, levanto o rosto e lá está ela, vestindo sua camisolinha de elefantes e com o rosto coberto de preocupação escondido no meio dos cabelos assanhados.

    — Mamãe, você tá bem? — ela pergunta.

    Eu não consigo responder, balanço a cabeça dizendo que não e ela fecha a porta e vem até mim, subindo na cama e me abraçando com os pequenos bracinhos que nem me cercam por inteira.

    — O papai vai acodar, mamãe, ele disse pra mim, ele disse no sonho… — ela fala, adivinhando o motivo do meu choro.

    Eu levanto os olhos surpresa. Ela sabe que sempre que estou mal, tem haver com o sono do Mattia que nunca acaba, mas ela nunca disse que sonhou com ele. A presença da pequena sempre me acalma, o abraço dela, não preciso de frases de consolo, mas essa, me deixa intrigada.

    — Ele disse? No-no sonho? — insisto. Ela balança a cabeça em concordância e me solta, se sentando com as perninhas cruzadas uma na outra.

    — Sim, a gente tava num jadim cheeeio de gilassóis e ele disse que ia voltar para ser meu papai e ficar com a gente — ela gesticula com as mãozinhas.

    — Você sonhou isso hoje? — questiono, limpando as lágrimas que já cessaram.

    — Agolinha, aí ouvi você cholar e acodei poquê não gosto de ver você cholar… — ela justifica, e a minha única reação é puxá-la para meu colo e abraçá-la.

    — Espero que você esteja certa… — beijo os cabelos dela, abraçando-a com força.

    — A gente vai nele hoje? — ela sonda, se desvencilhando do abraço.

    — Depois da escola. Mas ainda são quatro da manhã, temos mais duas horas de sono. Quer ficar aqui comigo, quer? — digo, me deitando e puxando o cobertor para ela, que sorri animada.

    — Queloo! — diz, trocando o R pelo L. A fala da Mirella melhorou consideravelmente nesses dois meses na escola, ela só não consegue pronunciar o R das palavras ainda. Mas é uma menina muito inteligente, mais do que deveria para alguém que tem menos de quatro anos.

    Ela estende o bracinho e começa a fazer o carinho habitual no meu queixo, que virou quase uma mania dela antes de dormir. Faço cafuné até vê-la pegar no sono, em seguida, volto a dormir também.

[...]

    — Acoda! Mamãe, acoda! — Mirella me balança, após eu ignorar o despertador. Mas ela é um despertador ambulante.

Paixão Sombria Onde histórias criam vida. Descubra agora