| CAPÍTULO 23 |

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P.O.V JADE LANCELLOTI:
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    Ouço o pib dos meus batimentos cardíacos e não tenho certeza se quero abrir os olhos. Estou presa nas lembranças enquanto os bips soam, estou presa no sangue da Nina em minhas mãos, estou presa no impactante fato de que eu matei a minha mãe biológica. Nós duas nunca vamos conseguir viver ao mesmo tempo. Foi o que ela disse para mim. E ela estava certa. Não conseguimos. E eu não sinto nada. Não sinto remorso, nem arrependimento. Ela estava morta desde que eu nasci. Vê-la em minha frente e apertar o gatilho da arma que a matou, não mudou isso. Ela sempre esteve morta para mim.

    Ouço pés irritados batendo no chão e sei que é Mattia. Ele é a prova de que o olhar é capaz de nos dizer coisas que às vezes não expressamos com palavras. Eu acompanhei o seu olhar de soslaio enquanto brigava com a Nina, o seu olhar insano, que me mostrava que ele mataria a Nina sem hesitar se fosse necessário, o seu olhar de choque quando ouviu o disparo, pude sentir o seu desespero, o seu medo, e por último, o seu olhar de alívio. O seu olhar que mostrou que finalmente ele se permitiu respirar, porque eu estava bem.

    Abro os olhos. Não tenho tempo de piscar até que o Mattia já esteja em pé ao meu lado, ele me encara com um misto de cautela e preocupação, hesita em pegar em minha mão por não saber se deve e eu finalmente abro a boca.

    — Eu não vou quebrar se você tocar em mim — a provocação sai num tom cansado, minha garganta está seca. Ele abre bem os olhos, animando-se.

    — Eu posso? — pergunta, como uma criança prestes a segurar um pirulito gigante. Eu reviro os olhos quase que inevitavelmente, e seguro em sua mão, entrelaçando nossos dedos. Ele aperta, bebendo do meu toque, da minha temperatura, Mattia fecha os olhos, levanta a cabeça e suspira.

    — Você estava lá — começo. — Você sempre está, demorou um pouco, mas foi até lá por mim, de novo — prendo os lábios entre os dentes tomando fôlego.

    — É o que quero, estar sempre lá pra você… quando eu fui até o hotel pedir desculpa e não lhe achei, eu… eu estraguei tudo, eu… — ele passa a mão livre pelo cabelo, exasperado.

    Solto sua mão para me sentar na cama, ele me ajuda a colocar os travesseiros como apoio nas costas e volta a segurar a minha mão assim que vê que estou confortável.

    — Eu não vou voltar. — Informo. Os seus olhos me encaram surpresos, ele abre a boca para retrucar, mas desiste. — Eu perdoo você, mas não vou voltar. Quero ir com calma, por enquanto, quero que você entenda o que significa esse relacionamento e quero aprender a me cuidar… sozinha — engulo em seco.

    — Mas o irmão do seu pai, ele ainda… — Mattia tenta argumentar. Eu suspiro, tentando escolher as melhores palavras para fazê-lo entender.

    — Eu preciso de um tempo. — Balanço a cabeça, só então me dou conta de que o corte realmente precisou de pontos.

    — Eu preciso de você comigo… meu rubi… — Mattia está com os olhos arregalados e marejados e minhas palavras parecem apunhalá-lo no peito.

    — Qual a chance de sermos legítimos, e não uma mentira que contamos a nós mesmos porquê temos medo de morrer sozinhos? Porque sabe, é exatamente assim que todos morremos: sozinhos. — Aponto, batendo o dedo indicador nas minhas próprias coxas. Mattia suspira, duas lágrimas molham a sua bochecha e ele olha para cima.

    Sem insanidade, sem sarcasmo, apenas uma explosão de sentimentos em seus olhos azuis piscina, vermelhos de lágrimas. Ele toma fôlego, seu peito infla e ele solta o ar em seguida, voltando a me encarar.

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