Capítulo 64🦋

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Marcela.

Assim que deu 11:30 fomos pra casa da minha mãe. O Matheus não perde uma oportunidade de mandar cantada pra minha coroa, tá pior que o Miguel. As pessoas mostram bastante respeito a minha mãe, por onde passamos todos falam, agradecem por algo, já alguns apenas baixam a cabeça.

-Tá perto?- perguntei pela segunda vez.

-Quero saber quantas vezes você vai perguntar isso hoje- a minha mãe murmurou impaciente.

-Tô perguntando mesmo, porque não chega nunca- tentei me justificar.

-Já mandei ter paciência, estamos perto já- revirou os olhos sem paciência.

Fiquei calada, porque se for rebater acaba em uma discussão por bobeira, é muito complicado lidar com alguém que tem o mesmo gênio que você. Até que tem uns vapor gatinhos aqui, se o Pipa pega um pensamento desses, me mata Haha.

-Chegamos- a minha mãe avisou.

-Finalmente- murmurei baixinho.

A casa está bem irreconhecível já que visivelmente fizeram uma reforma das grandes, mas lembro que era a casa do coringa, não sei como ela consegue continuar morando em um local que teve vários momentos ruins.

-Podem entrar, fiquem avontade.- mandou.

Entrei tentando ignorar as lembranças que não foram boas. Me sentei no sofá enquanto a minha mãe foi apresentar a casa pra Michelli e o Matheus. Liguei a TV, me sinto em casa mesmo, não tenho nem vergonha. Ouvi baterem na porta e tive que levantar pra abrir.

-Oxe, cadê a patroa- um homem alto e todo tatuado perguntou me fitando.

-Mãe, tem um cara aqui na porta, acho que quer falar com você- dei um grito.

-Como assim ela tem filha?- ele perguntou boqueaberto.

Nem respondi, ser filha de alguém como ela deve correr perigo. Deixei o cara na porta e voltei pro sofá como se nada tivesse acontecido. Logo a minha mãe apareceu na sala, encarou o homem e saiu pra fora, talvez seja mais um de seus namorados.

-Até que a casa é bem grande- Michelli comentou se sentando ao meu lado.

-É sim, eu até gostava daqui, mas tenho muitas lembranças ruins que acabam mudando meus sentimentos de uma hora pra outra- admiti.

-Esquece tudo, você tem que viver o agora, deixa os pensamentos ruins de lado- Michelli argumentou.

-Por incrível que pareça, você tem razão- concordei com ela que deu um sorriso toda convencida.

-Voltei, era só um vapor me trazendo novidades. Se quiserem ficar aí... vou fazer logo o almoço porque tá ficando tarde- a minha mãe comentou.

-Então enquanto isso, vou fazer algo pra sobremesa- argumentei.

Ela concordou sem pensar duas vezes. Deixei o Matheus e a Michelli na sala e fui pra cozinha com a minha mãe. Acho que aquele cara disse algo realmente importante pra ela, a mulher mudou o semblante totalmente.

-Quando vocês pretendem voltar pro Rio de Janeiro?- ela perguntou enquanto eu pegava os ingredientes no armário.

-Amanhã cedo, compramos passagem de ida e volta lá no Rio mesmo- comentei.

-Poxa, achei mesmo que vocês iriam me fazer companhia por ao menos uma semana- admitiu tristonha.

-Relaxa mãe, agora que eu sei onde você está, posso vim mais vezes te visitar, qualquer dia te apresento ao seu genro- argumentei e ela engoliu em seco.

-Quem conseguiu te prender em um relacionamento serio?- ela perguntou chocada me fazendo rir.

-Credo mãe, até parece que eu iria ficar na putaria pro resto da vida né- murmurei ofendida.

-Desculpa Marcela, mas eu achava que você iria ficar por mais um certo tempo solteira- admitiu.

-É, eu também- confessei e ela riu.

É minha mãe, me conhece muito bem. Coloquei todos os ingredientes na panela, liguei o fogão e comecei a mecher.

-Você não disse pra ele que era a minha filha né?- ela perguntou do nada se referindo ao homem que veio aqui.

-Ele perguntou, mas eu nem disse nada, por que?- perguntei sem entender nada.

-Não quero que você se meta em coisa ruim por minha causa, espero que aquele boca aberta não comente com ninguém- ela murmurou apreensiva.

-Não confia nos seus vapor?- perguntei e ela negou.

Não sei como alguém consegue trabalhar ao lado de pessoas que nem ao menos confia, eu jamais faria isso, é muita burrice. Nem vou dizer nada, vai que ela não gosta da minha opinião. Espero que no fim das contas não dê em nada.

Michelli.

Já que a Marcela e sua mãe foi pra cozinha, só me restou assistir, mecher no celular e ouvir o Matheus falar sobre assuntos super aleatórios perto de mim. O Gui me enche de mensagens falando que está com saudades a cada cinco minutos, nem parece aquele marrento que eu conheci.

É só ficar longe por um tempinho que eles sentem a sua falta. Os meus pais também estão pedindo pra mim voltar logo, já disse mil vezes que amanhã mesmo eu chego lá. Tenho que tomar um rumo na minha vida, decidir o que realmente quero ser e fazer daqui pra frente.

Até a Marcela já vai começar a trabalhar, enquanto eu continuo parada no mesmo lugar a tempos. Quero evoluir, seja no morro ou fora dele. É uma dúvida diária, "trabalhar em um emprego comum" ou "ter um cargo no morro do meu pai" tenho medo de não dá conta e decepcionar o legado do meu pai.

O clima aqui está super frio, ainda bem que eu nem trouxe roupas curtas, já a Marcela só trouxe uma roupa de frio, e olha que ela conhece aqui bem mais do que eu.

-A mãe da Marcela é uma gata né- Matheus comentou um tanto malicioso.

-É sim, mas não é pro teu bico, então vê se sucega- repreendi ele que murchou.

Deu até vontade de rir quando seu semblante foi de 100 a 0 em segundos. Quem manda ser assanhado... deixei ele lá com sua cara de c* e fui até a cozinha fazer companhia as meninas.

-Vim ficar com vocês, ninguém merece ouvir o MT a cada 5 minutos- comentei me sentando na cadeira.

-Tadinho do moleque- a mãe da Marcela riu.

-Não para de falar em você, deve ter se apaixonado- comentei.

-Emocionado em- ela fez careta.

-Eu tô escutando em- Matheus gritou da sala.

Fiquei rindo sozinha. A gente não sabe nem disfarçar que está falando dos outros...

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60 estrelinhas e 30 comentários para o próximo capítulo. 💛

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