9-Leonor Almeida

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Finalmente o meu pai tirou aquela maldita ligadura do seu ombro. Toda a vez que olhava para ela me lembrava do que tinha acontecido, onde quase podia ter perdido o meu pai.

Eu não o posso perder, ele é a minha única família e a única pessoa em quem confio neste mundo miserável.

Tinham passado dois dias que ele tirara a ligadura e dois dias que eu sentia um clima tenso entre ele e Constança. Eles estas últimas semanas tem andado muito juntos, demasiado juntos para o meu gosto, mas desde há dois dias atrás que não os vi mais juntos.

-Bom dia-falei assim que me sentei à mesa junto de Gustavo e Constança-o meu pai ainda não desceu?

-O teu pai já saiu-Gustavo falou sem me olhar.

-Saiu?-olhei confusa-saiu para onde?

-Se queres assim tanto saber, liga-lhe e pergunta-lhe-Gustavo bufou.

-Tu és sempre assim tão estúpido e desagradável?-bufei olhando para ele.

-E tu és sempre assim tão chata e mimada?-ele riu sínico.

-Eu odeio-te-levantei-me chateada-perdi a fome.

-Isso, foge e corre como um bebé chorão-ele provocou.

-Bebé chorão é?-ri sínica também-vais ver quem é o bebé chorão agora.

Aproximei-me da mesa em passos largos e peguei na jarra do café que ainda estava um pouco quente, não muito, e despejei na sua cabeça sujando-o todo.

-Meninos-Constança olhou para nós.

-Tu não acabaste de fazer isso...-Gustavo levantou-se apressado e agarrou no meu braço com alguma força.

-Estás a magoar-me-olhei nos seus olhos que pareciam estar mais verdes agora.

-Não sabes do que eu sou capaz...

-E vais fazer o quê?-desafiei-o.

-Parem imediatamente-Constança falou, mas nós continuamos a encarar-nos totalmente chateados-agora meninos.

Constança meteu-se no nosso meio fazendo aquele estúpido me largar e, então, olhou para ambos.

-Vocês parecem duas crianças a tentar ver quem recebe primeiro o brinquedo-Constança estava realmente chateada-Gustavo não foi assim que eu e o teu pai te educamos, nem parece que tens 22 anos. E tu Leonor? O que te passou pela cabeça para fazeres uma coisa dessas?

-Estou cansada de tudo isto-senti as minhas lágrimas descerem pelo meu rosto-cansada das criaturas, cansada de fugir e cansada de vocês também-eu falava descontroladamente-eu só quero ir embora com o meu pai e esquecer tudo isto e...

-Cansada de nós?-Gustavo olhou para mim-nós acolhemos-te a ti e ao teu pai e é assim que nos agradeces? Para a próxima deixamo-vos na rua com as "criaturas" à solta e com cede de sangue sua ingrata mimada-ele cuspiu as palavras-a tua mãe não te deu educação?

-Gustavo-a minha mãe falou.

Não me consegui segurar e dei-lhe um estalo na cara.

-A minha mãe morreu por causa desses monstros que andam aí à solta seu estúpido-chorei ainda mais-se eu pudesse matava todas as criaturas que encontrasse e conhecesse-cuspi as palavras e saí dali em largos passos.

Estúpido estúpido estúpido.

Porque ele tinha de falar na minha mãe?

Eu odeio-o.

Otário.

Percorri todo aquele jardim até chegar aos grandes portões daquela casa e saí dali o mais rápido que pude.

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