12-Leonor Almeida

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Faziam algumas horas que eu estava no meu quarto quando bateram à porta, mas eu ignorei.

Eu estava sentada no sofá da varanda do meu quarto a olhar para a lua lá no alto, quando senti uma presença ao meu lado e quando olhei vi que era o meu pai.

-Alguém me disse que ficaste o dia todo sem comer, por isso ela preparou um chá para aqueceres o teu estômago.

O meu pai sentou-se ao meu lado com o chá num tabuleiro, mas eu continuei calada.

-Queres contar-me o que aconteceu para te deixar assim?-ele perguntou e eu neguei com a cabeça.

Senti algumas lágrimas pelo meu rosto e funguei.

O meu pai pousou o tabuleiro do chá em cima da pequena mesinha e acolheu-me nos seus braços onde eu pude pousar a cabeça e descansar um pouco.

O meu pai esteve ali comigo até de madrugada, nunca saiu do meu lado.

Saí dos seus braços e olhei para ele que estava a olhar para mim à espera do meu próximo passo.

-Tu gostas assim tanto dela?-olhei para ele que sorriu com a minha pergunta.

-Eu amo a Constança filha-ele falou realmente apaixonado, eu via nos seus olhos.

Ele falava de Constança da mesma maneira de quando falava da minha mãe e aquilo era estranho para mim.

-Mesmo que ela seja um...lobo?-respirei fundo.

-Mesmo ela sendo um lobo-ele concordou ainda sorrindo.

-Mas foram eles que mataram a mãe-sussurrei deixando algumas lágrimas descerem pelo meu rosto.

-Foram lobos que levaram a mãe de nós, não a Constança-o meu pai pegou na minha mão e olhou nos meus olhos-e podes não concordar comigo, mas a Constança adora-te muito.

-Eu magoei-a-senti mais lágrimas no meu rosto-eu não queria, mas foi tudo tão rápido.

-Eu sei o que aconteceu-o meu pai afirmou.

-Sabes?-olhei surpresa para ele.

-A Constança estava estranha quando cheguei, eu perguntei e ela contou-o meu pai falou, mas não parecia estar chateado comigo-já para não falar no corte no seu rosto.

Baixei a cabeça dececionada comigo mesma.

-Não estás desiludido comigo?-perguntei ainda de cabeça baixa.

-Não-ele negou-acho que isso só serviu para que aprendesses a não magoar as pessoas quando estás com a cabeça quente, certo?-ele olhou nos meus olhos-sabes que erraste Leonor e assumiste o teu erro e isso já é um grande passo para uma pessoa arrependida.

-Entendi-concordei-como ela está?

-Porque não falas com ela amanhã com mais calma?-ele falou.

-Eu não sei se já estou preparada para conversar com ela-admito-ainda não quero falar com a Constança, tudo ainda é muito recente e tudo está confuso na minha cabeça.

-Eu entendo-o meu pai falou-mas não demores para falar com ela-o meu pai levantou-se-não esperes até ser tarde de mais-ele beijou a minha testa e sorriu-boa noite filha-e saiu do meu quarto deixando-me sozinha com os meus próprios pensamentos.

Olhei para o chá esquecido em cima da mesinha que Constança fizera para mim e sorri fraca. Peguei nele, mas ele já estava frio depois de horas ali, por isso resolvi ir à cozinha aquecer um pouco.

Saí do quarto e caminhei pelos corredores até chegar às escadas e descer até à cozinha. Reparei que a porta estava aberta e olhei para dentro quando vi uma pequena luzinha acesa e Constança estava sentada na bancada a beber algo numa caneca.

Suspirei.

Em pequenos passos entrei na cozinha e ela logo levantou a cabeça olhando na minha direção. Ela não esboçou nenhuma reação, era como se já soubesse que eu estava ali e voltou a baixar o seu olhar para a caneca nas suas mãos.

Senti uma coisa estranha quando ela não esboçou o seu sorriso habitual para mim, era como se me faltasse algo.

Terminei de aquecer o meu chá e sentei-me de frente para ela, mas ela nem me olhou.

Vi o seu corpo se levantar e colocar a sua caneca para lavar e virar costas para sair dali, mas eu não deixei.

-Constança...-chamei-a e ela olhou para trás na minha direção.

Eu queria tanto pedir-lhe desculpa pelo que aconteceu, mas sempre que olhava para ela eu via a imagem da minha mãe e aí eu desistia.

-Esquece...-falei e ela saiu-merda...-comecei a chorar.

Bebi o chá e andei pela casa até encontrar a parte da casa que eles não usavam. Era um corredor com algumas portas e, então, como não tinha sono fui explorar um pouco a casa.

Enquanto andava pelos corredores eu olhava para alguns quadros pendurados nas paredes e parei num que me fez sorrir.

-Constança...-sorri.

Tirei o quadro da parede e sorri quando nele vi a Constança uns anos mais nova e olhem que ela nem mudou assim tanto. Ela era linda e continua linda para a sua idade de 40 anos.

Caminhei mais um pouco com o quadro na mão até parar em frente a uma porta que era diferente de todas as outras. Olhei para a porta e coloquei a mão na maçaneta abrindo-a devagar. Quando a abri e entrei para o outro lado olhei tudo à minha volta com os olhos arregalados.

-Nossa...-os meus olhos brilharam com tudo aquilo.

Numa das paredes daquela grande sala estava revestida dos mais variados livros, na parede do lado tinham algumas armas de prata incluindo um lindo arco e flecha dos mais antigos e raros, ele era branco com alguns pormenores em dourado. Ele era enorme, muito maior que o meu e as flechas ao seu lado eram de outro mundo. Elas eram enormes e com as pontas bem afiadas.

Pousei o quadro de Constança e peguei numa flecha sentindo o seu material bem feito e preparado, muito superior ao meu sem dúvida.

Voltei a colocá-la no sítio e continuei a observar outras armas que ali estavam como algumas facas de vários tamanhos, armas com balas de prata, outros arcos e flechas e alguns pares de luvas.

Olhei tudo aquilo com muita atenção e, então, logo passei para a próxima parede onde continham alguns objetos que pareciam muito caros, pareciam objetos de família passados de geração em geração.

Olhei lá no alto e sorri quando vi uma tiara de pequeninos diamantes.

-Uau...-falei totalmente surpresa.

Olhei à minha volta e encontrei uma cadeira. Fui buscá-la e usei-a para alcançar a tiara e assim que peguei nela, ela brilhou, mas não um brilhar de luz a refletir, mas sim um brilhar que mais parecia com magia.

Eu juro que não estou a ficar louca.

Sorri olhando para cada pormenor dela e por fim voltar a colocá-la no seu lugar.
Olhei para o lado e vi um colar tão lindo e delicado que me fez apaixonar por ele no mesmo instante. Tirei o colar da minha mãe do meu pescoço e peguei naquele colar colocando-o no meu pescoço. Sorri quando vi que me ficava bem, mas aquilo era demasiado caro para eu estar a brincar com ele. Voltei a tirá-lo e devolvi ao seu lugar e fiquei com a sensação de que me esqueci de alguma coisa, mas encolhi os ombros e continuei a observar aquela sala.

Olhei para um canto daquela sala e vi algo tapado com um lençol por cima. Aproximei-me daquilo, retirei o lençol e vi uma pintura de um casal e no meio lá estava Constança. Os três sorriam e notei que Constança na pintura devia de ter uns 17 anos e era muito parecida com aquela mulher ao seu lado, tirando os seus olhos castanhos que eram iguais aos do senhor. Talvez aqueles fossem os seus pais.

Será que eles já morreram?

Constança nunca mencionou os seus pais.

Continuei ali por mais alguns minutos até começar a ficar com sono.

Bocejei.

Olhei para o primeiro quadro de Constança e peguei nele sentando-me numa poltrona que lá havia e alguns segundos depois adormeci agarrada àquele quadro de Constança.

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