1-Leonor Almeida

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-Estás pronta?-o meu pai entrou no meu quarto.

-Temos mesmo de ir?-fechei a grande mala à minha frente e olhei para ele.

-É para nossa segurança-vi o meu pai suspirar cansado.

Eu apenas assenti e peguei na minha mala olhando para o meu quarto e, então, saí ao lado do meu pai. Descemos as escadas até ao andar de baixo e quando saímos olhei para trás vendo a nossa casa sendo deixada para trás.

Senti uma lágrima descer pelo meu rosto e baixei a cabeça.

-Temos muitas memórias boas nesta casa-o meu pai colocou o seu braço por cima dos meus ombros.

-Vou sentir saudades da nossa casa, das memórias e...de tudo o que lembra a mãe-outra lágrima.

Olhei para o meu pai que sorriu olhando para mim com uma lágrima no seu rosto também.

-Ela estará sempre connosco-ele abraçou-me-agora temos de partir.

O meu pai ajudou-me a colocar a mala no carro e entramos no mesmo dando partida até à cidade em que iríamos viver.

Toquei no colar que eu usava e sorri encostando a cabeça na janela do carro. Aquele colar era a única recordação que eu tinha da minha mãe depois que ela morreu por causa...deles.

Aquela pequena cidade já não era segura para ninguém e por isso o meu pai resolveu que deveríamos partir para nos protegermos.

Há cerca de seis anos atrás criaturas misteriosas começaram a invadir algumas cidades muito lentamente e a nossa cidade foi uma delas. O problema é que essas criaturas começaram a viver como nós humanos. Elas começaram a infiltrar-se nas cidades, nos empregos, nos círculos de amigos e até nas vizinhanças e já ninguém confiava em ninguém. De conhecidos passamos a ser uns completos desconhecidos. Começamos a ter medo de sair de casa, as pessoas começaram a ter medo das outras pessoas e já não havia vida social como antes.

A nossa cidade não foi exceção, já estava praticamente toda dominada por essas criaturas e os poucos humanos que ainda lá viviam acabavam por abandonar as suas casas e os seus amigos e iam embora, tal como eu e o meu pai estamos a fazer neste exato momento.

Ainda não sei ao certo para onde o meu pai nos vai levar nem para onde vamos viver, mas eu confio nele.

Levantei a cabeça da janela e olhei para o meu pai que olhou para mim e ambos sorrimos.

(...)

Faziam algumas horas que estávamos dentro daquele carro, já era de noite e eu já não conseguia arranjar posição para estar sentada ali.

-Acho que estamos a precisar de esticar um pouco as pernas-o meu pai falou parando o carro junto a um restaurante para podermos comer alguma coisa.

Entramos no restaurante e logo nos sentamos numa mesa onde fizemos os nossos pedidos e fomos conversando sobre coisas completamente aleatórias.

Os nossos pedidos chegaram e, então, começamos a comer quando olhei lá para fora e senti um arrepio por todo o meu corpo. Estava com a sensação que estávamos a ser vigiados, era como se alguém nos observasse, mas eu não via ninguém.

Olhei para todas as pessoas ali no restaurante e comecei a sentir um peso no peito. Pareciam todas suspeitas. Para mim eram todos inimigos.

-Já comi-falei pousando os talheres no prato-já podemos ir embora?-olhei para o meu pai que me olhou surpreso.

-Nossa, estás com tanta pressa assim?-ele sorriu um pouco.

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