8-Davi Almeida

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Faziam algumas semanas que eu e a minha filha estávamos em casa da família Paganni e eu até estava a gostar de cá estar, mas haviam certas atitudes que eram um pouco estranhas e suspeitas. Era como se eles estivessem a esconder algo de nós, mas eu iria descobrir.

A cada dia que passa tenho conhecido melhor a Constança. Ela é uma mulher incrível e temos algumas coisas em comum.

Quando ela chegava a casa do trabalho, que era o mesmo hospital  em que eu fui cuidado, ficávamos até à hora de jantar a conversar.

As nossas conversas eram sempre agradáveis e tínhamos sempre o que falar, o que era maravilhoso.

Adorava ouvir a sua voz e todas as novidades que ela tinha para contar ao final de um dia de trabalho.

Mas por outro lado tinha a minha filha que não parecia muito contente quando nos via aos dois juntos e falando na Leonor falo no Gustavo que também não parecia ir muito com a minha cara, mas fazer o quê? Este é o mundo em que vivemos atualmente, todos desconfiamos de todos com medo que algum se transforme em uma daquelas criaturas.

-Davi...?Davi...?-saí dos meus pensamentos quando ouvi a voz doce de Constança.

-Entra-dei permissão para que ela entrasse no meu quarto-estava distraído.

-Eu percebi-ela sorriu sentando-se na cama ao meu lado com uma maleta de médico.

Hoje finalmente eu iria tirar aquela maldita ligadura do meu ombro e poder andar mais à vontade.
Constança ofereceu-se para tirar em casa visto que ela é médica e sabe fazer essas coisas.

Tirei a minha camisola e olhei para Constança que engoliu em seco, o que me fez sorrir um pouco.
Eu sei que já tenho 47 anos, mas ainda mantenho o meu corpinho de quando tinha 20 anos, o que não passou despercebido à Constança. Podemos até nos conhecer há pouco tempo, mas eu sinto que Constança não se sente indiferente a mim, tal como eu não me sinto indiferente em relação a ela.

Pode ainda nem ser amor, mas eu sinto atração por Constança desde o dia que a vida entrar pela porta do quarto de hospital. Foi como se houvesse uma conexão mal os nossos olhos se cruzaram.

-Está tudo bem?-ela olhou para mim.

-Tudo ótimo-assenti.

Constança aproximou-se de mim e começou por tirar toda aquela ligadura do meu ombro esquerdo com cuidado.

Sorri com todo o seu cuidado e profissionalismo.

A seguir, ela cuidou do meu ferimento e colocou um penso em cima dele e sorriu assim que terminou tudo.

-Prontinho-ela fechou a sua mala médica-mas ainda precisas de muito descanso antes de voltares a fazer asneiras-ela riu.

-E o que te leva a pensar que eu vou voltar a fazer asneiras?-saí da cama e aproximei-me dela.

-Porque já te conheço minimamente bem para saber disso-ela recuou um passo atrapalhada.

-Hummm...-coloquei a mão no queixo e observei-a melhor.

Ela definitivamente esconde alguma coisa.

-O que foi?-ela perguntou.

-Tu não és quem dizes ser Constança-falei e ela arregalou os olhos surpresa com as minhas palavras.

-Porque...porque dizes isso?-ela engoliu em seco outra vez.

-Acabaste de o admitir-falei e ela olhou para mim ainda mais confusa-essa tua aversão às armas que a minha filha insiste em que uses, a tua confiança com toda esta situação das criaturas e sempre gaguejas quando te faço perguntas mais pessoais-coloquei a mão no queixo e observei-a melhor.

-Porque haveria de esconder algo?-olhou para mim.

-Não sei diz-me tu-encolhi os ombros.

-Eu não escondo nada-ela olhou para todo o lado menos para mim.

Aquilo era um sinal de que ela está a mentir.

-Posso dizer-te algo sobre mim que ainda não sabes?-olhei nos seus olhos.

-Si...sim...-ela gaguejou.

-Eu sou psicólogo e o que eu mais sei fazer é ler o comportamento das pessoas e tu estás claramente a mentir e a esconder alguma coisa

Ela suspirou visivelmente cansada e olhou nos meus olhos.

-Eu...-ela ía falar, mas eu interrompi.

-Não precisas de me dizer nada-falei-não és obrigada a falar sobre a tua vida a um completo desconhecido.

-Tu não és um desconhecido Davi-ela pousou a sua mala e aproximou-se de mim-eu só...só não estou pronta para falar sobre isso-ela olhou bem nos meus olhos.

-Diz-me só uma coisa Constança-fui até uma gaveta e retirei de lá uma das fotografias que encontrei no andar de baixo onde estava Constança e um homem a sorrir.

-O que...-ela olhou para a foto e eu vi os seus olhos se encherem de água-onde encontraste isto?-ela pegou na foto.

-Encontrei lá embaixo e sabes...?-pensei antes de falar-no início eu pensava que conhecia o teu filho Gustavo, mas agora eu percebo porque o confundi, na verdade eu já vi o teu marido.

Fiquei preocupado quando vi algumas lágrimas no seu rosto, mas eu precisava que ela me dissesse, que me contasse toda a verdade, tudo o que ela esconde.

-Eu...-ela tocou a foto e sorriu entre lágrimas e sentou-se na cama-eu amava tanto o Alex.

-O que lhe aconteceu?-sentei-me ao seu lado.

-Ele...ele morreu-ela respirou fundo e eu automaticamente segurei a sua mão.

-Foram as criaturas?-olhei para ela que mordeu o lábio inferior e suspirou.

-Sim, foram as...criaturas-falou.

-Eu também perdi a minha mulher por causa das criaturas-desabafei com ela que me olhou surpresa e preocupada-eu amava-a muito-sorri ao me lembrar da minha mulher.

-A morte do Alex ainda é muito recente-ela falou pousando a fotografia em cima da cama-seis meses apenas.

-A minha mulher morreu faz cinco anos-viajei no tempo.

-Como consegues suportar toda essa dor que nos corrói dentro do peito?-ela olhou para mim a chorar.

-Um dia de cada vez e com o pensamento de que a nossa vida tem de continuar, não nos podemos agarrar ao passado, mas sim ao futuro-acariciei o seu rosto-agarrar-nos sempre às boas memórias e, sobretudo, às futuras memórias, às novas amizades e aos novos amores-sorri fazendo-a sorrir também.

-Falando assim até parece fácil-ela falou.

-As pessoas é que complicam-encolhi os ombros.

Olhamos nos olhos um do outro e eu contornei os seus lábios com o meu polegar fazendo-a sorrir corada.

Aproximei os meus lábios dos seus e beijei o seu nariz fazendo-a rir baixinho.

-Posso te beijar?-acariciei o seu rosto.

-Deves-ela falou.

Aproximei o meu rosto do seu e beijei os seus macios e doces lábios. Aprofundei um pouco mais o nosso beijo e sorri quando as nossas línguas se tocaram e dançaram as duas numa dança lenta e sensual.

Senti as mãos de Constança no meu pescoço, mas também senti a sua temperatura aumentar como se ela começasse a ter febre. Ela afastou-se de mim de repente e virou costas.

-O que se passa?-levantei-me e aproximei-me dela, mas ela não me deixou tocar nela.

-Eu preciso ir-ela pegou na sua mala sem me encarar.

-Constança o que se passa contigo?-perguntei preocupado.

-Nada-ela respondeu e simplesmente saiu do meu quarto deixando-me ali a olhar para a porta.

Sorri.

Eu sabia exatamente o que lhe estava a acontecer, mas só queria que ela me contasse toda a verdade, apesar de eu já a saber.

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