Estávamos sentados a alguns minutos e ainda nenhum de nós tinha dito nada, estávamos perdidos nos nossos próprios pensamentos sem nada dizer.
A minha mãe estava devastada, só chorava. Ela estava com medo, eu sentia.
Coloquei o meu braço por cima dos seus ombros e ela encostou a sua cabeça no meu peito. Senti as suas lágrimas molharem a minha camisa, mas nada falei. Já Davi estava com uma cara mais leve, era como se ele já soubesse de tudo, mas se ele realmente já sabia, porque não nos denunciou?
Davi olhou para a minha mãe e suspirou passando as mãos na cabeça. E por fim Leonor, essa estava em choque, eu podia ver na sua cara. Ela chorava em silêncio e de vez em quando olhava para a minha mãe e para mim com raiva.
Para mim pouco me importava se ela está com raiva, mas a minha mãe gosta de Leonor e ver que ela já não confia mais em si era devastador para ela.
-Porque nos mentiram?-todos saímos dos nossos próprios pensamentos quando ouvimos a voz de Davi.
A minha mãe levantou a sua cabeça do meu ombro e olhou para mim que assenti.
-Vocês iam aceitar-nos como somos?-a minha mãe olhou para Davi chorosa.
-Bem, vocês ajudaram-nos não foi?-Davi começou-já percebemos que existem criaturas boas e más e definitivamente vocês não são as más-Davi falou como se fosse óbvio-se nos tivessem explicado a situação logo desde início nós iríamos compreender-Davi olhou nos olhos da minha mãe.
Olhei para uma Leonor muito sossegada e aquilo não era normal. Ela sempre foi muito expressiva e muito rebelde e ela neste momento nem se mexia.
Aquilo estava a deixar-me muito desconfortável.
-O que são vocês?-Davi perguntou.
-Somos lobos-falei sem hesitar-eu sou o Alpha,chefe da alcateia desta cidade e a minha mãe é a Luna-falei atento às reações dele-quando encontrar a minha companheira ela passará a ser a Luna, mas enquanto não a encontrar a minha mãe continuará a ser Luna.
Davi apenas assentiu pensativo.
-E porque estão a atacar os humanos?-ele perguntou.
-Não somos nós-falei chateado por nos confundirem sempre com os exilados-nós somos lobos, mas quando fazemos algo que comprometa a nossa espécie somos exilados e os lobos que estão a atacar os humanos são os exilados.
-Porquê?
-Porque eles não se conformam em terem sido expulsos da alcateia e querem retornar contra a minha vontade, porque se acham no direito de continuarem cá, então, começaram a atacar humanos por vingança.
Davi voltou a olhar para a minha mãe e observou-a durante uns segundos e baixou a cabeça pensativo.
-Não podem deixar que eles sacrifiquem mais humanos-Davi falou-muitas famílias estão a ser destruídas por causa deles.
-Estamos a tratar disso-falei bufando-já coloquei os meus homens de vigia às cidades que ainda não foram atacadas e a retirarem todos os humanos que ainda estão presentes nas cidades que já foram quase dominadas pelos lobos, mas tudo tem o seu tempo.
-Eu quero ajudar-Davi falou determinado.
-Davi...-a minha mãe olhou para ele assustada-não podes fazer isso, é perigoso.
-Perigoso? Eu já fiz coisas mais perigosas Constança-eles olharam-se nos olhos um do outro.
-És humano e podes morrer-vi uma lágrima descer pelo rosto da minha mãe.
-Quero vingar a morte da minha mulher-Davi falou visivelmente chateado.
A minha mãe não disse mais nada, só o observou.
Voltei a olhar para Leonor que ainda se mantinha quieta, demasiado quieta. A única coisa que se movia eram as lágrimas que desciam pelo seu rosto.
Suspirei.
Eu não sabia que ela tinha perdido a sua mãe, principalmente por causa dos lobos. Saber disso deixou-me um pouco desconfortável e incomodado.
Apesar de não nos darmos muito bem, ela não merecia ter perdido a mãe dessa forma tão trágica.
Eu sei do que falo, pois perdi o meu pai dessa mesma forma cruel.Respirei fundo.
-Mostrem-se...-todos olhamos na direção de Leonor quando ela falou pela primeira vez.
Vi os seus olhos na nossa direção e eu encarei a minha mãe que me olhou preocupada também.
-Filha...-Davi aproximou-se da filha, mas ela rapidamente se afastou dele sempre nos encarando.
-Mostrem o que realmente são...-ela falou com tanto ódio.
Eu não hesitei e transformei-me em lobo. Os meus pêlos eram grandes e da cor cinza, os meus olhos eram amarelos e as minhas presas enormes.
Voltei à minha forma humana e olhei para Leonor e Davi que me olhavam surpresos.Leonor olhou para a minha mãe e logo Davi fez o mesmo.
A minha mãe olhou para Davi com lágrimas nos olhos e suspirou.-Davi...-ela aproximou-se dele, mas Leonor meteu-se entre os dois.
-Não te aproximes do meu pai-Leonor olhou com raiva para a minha mãe.
A minha mãe olhou nos olhos de Davi e recuou dois passos.
-Não precisas de o fazer Constança-Davi falou.
-Fá-lo...-Leonor ordenou-ou eu vou denunciar-vos.
-Não podes fazer isso-dei um passo à frente e olhei nos seus olhos.
-Não posso?-ela riu-experimentem.
Antes que mais alguém dissesse alguma coisa a minha mãe transformou-se no seu lobo de pêlos brancos, olhos amarelos e grandes presas também.
-É disto que tu gostas pai?-Leonor apontou para a minha mãe que já estava na sua forma humana-diz-me pai, gostas de criaturas que mataram a mãe?
-Não fomos nós que a matamos-a minha mãe falou a chorar-foram os exilados.
Leonor aproximou-se da minha mãe e olhou-a nos olhos.
-Para mim são todos iguais-cuspiu as suas palavras saindo dali.
Ficamos somente nós os três na sala a encarar-nos uns aos outros.
-Tu já sabias Davi?-a minha mãe perguntou.
-Sim-ele assentiu.
-Como?-a minha mãe perguntou aproximando-se dele.
-O teu medo quando vias algum objeto de prata praticamente te denunciou-ele olhou nos seus olhos-e depois eu vi a fotografia do teu marido e eu reconheci-o como um dos lobos num dos ataques. Eu vi-o transformar-se e soube logo que a vossa família eram tudo menos humanos.
-Porque não nos denunciaste?-a minha mãe aproximou-se mais dele-tu tinhas todas as provas, porque não o fizeste,
-Eu sei reconhecer quando as pessoas são boas e nos ajudam independentemente de qualquer outra coisa...-ele aproximou-se da minha mãe e acariciou o seu rosto.
Olhei para os dois e arregalei os olhos. Não pode ser, não pode ser.
A minha mãe não pode ter esquecido o meu pai, não pode.
Ela sofreu tanto com a sua morte que...Aff.
Ela está apaixonada?
Por um humano?
-E porque somos amigos,certo?-Davi falou.
-Amigos?-a minha mãe sorriu-certo.
Davi abraçou a minha mãe e eu saí dali.
Saí de casa e entrei na grande floresta e corri, corri até onde as minhas patas me levaram e até me cansar.

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Our Love
FantasyDois jovens completamente diferentes, mas com uma única coisa em comum: a dor e o sofrimento de terem perdido pessoas importantes das suas vidas. Leonor era uma menina de apenas 17 anos que lutava contra a dor da morte da sua mãe durante seis longos...