1. Um completo estranho

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Passado

P.o.v João

Jão: — Droga! — Gritei comigo mesmo quando o celular apagou na minha mão. — Telefone inútil, sempre me deixa na mão quando eu mais preciso!

Era só o que me faltava, quase dez da noite, em uma cidade nova, e com o celular descarregado, e eu só queria achar uma loja de eletrônicos, pra comprar justamente um carregador novo.

Jão: — Com licença, — Parei uma pessoa pra perguntar.

— Boa noite? — Ele me olhou, meio desconfiado.

Jão: — Ah, boa noite, desculpa te incomodar, mas você sabe onde eu acho uma loja de eletrônicos por aqui?

— Uma loja aberta a esse horário é complicado, mas eu sei a onde tem uma, quer que eu te leve lá?

Jão: — Se você puder.

Ele fez sinal pra que eu o seguisse, até o que parecia um shopping popular ou coisa assim.

— Aí está.

Jão: — Obrigado, obrigado mesmo, você não sabe o quanto me ajudou.

Ele começou a rir.

Jão: — Tá rindo do que?

— Você não é daqui, né?

Jão: — Ah, não, como você...

— E é do interior, certo?

Jão: — Certeiro. — Ri, desconcertado. — Mas como você adivinhou, eu tenho algum tipo de sotaque?

— Antes fosse. — Ele riu mais. — Você é muito inocente.

Jão:— Conta outra, eu não sou inocente!

— Talvez ingênuo seja a palavra.

Jão: — Você nem me conhece!

— E você acabou de confiar em um completo estranho, em uma cidade que você não conhece e às nove e quarenta da noite. — Riu, mais ainda. — Eu podia ter te sequestrado ou sei lá.

Jão: — Você não parece o tipo de pessoa que me sequestraria. — Retruquei.

— E sequestrador tem cara?

Jão: — Você vai me sequestrar?

— Não.

Jão: — E você me oferece algum perigo? Tem algum motivo pra eu não poder confiar em você?

— Não tem, eu não faria mal a uma mosca.

Jão: — Então pronto.

— Tá vendo?

Jão: — O que?

— Você fez de novo.

Bufei e ele riu mais ainda.

— Pra deixarmos de ser completos estranhos, — ele estendeu a mão. — Prazer, me chamo Pedro.

Jão: — Prazer, Pedro. — Aperto a mão dele.

Pedro: — E você é...?

Jão: — João, — Respondo as pressas. — João Vitor. Pode me chamar de Jão também.

Pedro: — Então, Jão, de onde você é?

Jão: — De uma cidade de trinta mil habitantes.

Pedro: — Isso é uma charada?

Jão:— Américo Brasiliense!

Pedro: — Nunca ouvi falar.

Jão: — Eu sei.

Pedro: — O que você quer em uma loja de eletrônicos a essa hora da noite?

Jão: — Preciso de um carregador novo pro meu celular.

Entramos na loja, e com a melhor iluminação eu pude reparar no rosto dele, e tenho que admitir, Pedro até que era bonito, ok, quem eu estou tentando enganar? Ele era lindo.

Pedro: — E o que você veio fazer aqui? Faculdade? — Me tira dos meus devaneios.

Jão: — Eu vim... — Hesitei, não ia falar pra ele que na verdade eu queria ser cantor. — Isso, faculdade.

Pedro: — Você hesitou. — Ele se aproximou de mim. — Artista?

Jão: — E você é algum tipo de vidente?

Pedro: — Você é divertido. — Pedro riu mais. A risada dele era gostosa de ouvir, apesar de ele estar debochando da minha cara.

Jão: — E você faz o que da vida?

Pedro: — Faculdade também. E outras coisas.

Jão: — Vai fazer a linha do misterioso agora?

Pedro: — Eu não entrego tudo sobre mim de bandeja pra qualquer cara bonito que me aborda na rua.

Admito que o "cara bonito" me deixou levemente sem jeito.

Jão: — Ah, claro, esqueci que somos completos estranhos — debochei.

Comprei o que precisava na loja, ainda conversando com Pedro.

Pedro: — Bem, vou chamar um uber pra mim — fala, pegando o celular. — Vai precisar de mais alguma coisa, Joãozinho? — Não consigo decifrar se o tom desse apelido é carinhoso ou pejorativo, talvez os dois.

Jão: — Não preciso de mais nada não, Pedrinho, — devolvo. — Vou de metrô pra casa.

Pedro: — Cuidado pra não se perder.

Jão: — Ta preocupado com o estranho agora?

Pedro: — Se você confiou até em mim, acho perigoso andar por aí sozinho.

Jão: — Do jeito que você fala eu estou ficando com medo de descobrir que você é um chefe de máfia ou coisa assim. — Dou risada.

Pedro: — Tá achando que isso aqui é o quê? Uma fanfic de romance? — Ele ri junto comigo.

Um carro para não muito longe dá gente.

Pedro: — Preciso ir, mas a gente se esbarra por aí.

Jão: — Tudo bem, Pedrinho, e mais uma vez, obrigado pela ajuda. — Sorrio.

Ele sorri de volta e pela primeira vez sinto que não é um sorriso de deboche.

Pedro: — Me passa teu telefone então, Joãozinho.

Jão: — Sem me pagar uma bebida antes? — Zombei e notei ele corar bem de leve. — É brincadeira, anota aí. — Ditei meu telefone.

Pedro: — Até mais, Jão. — Se despediu. — Qualquer dia eu te pago uma bebida. — Sussurou antes de entrar no carro.

Voltei pra casa, ainda pensando naquele "completo estranho".

E Se A Gente...? - PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora