Capítulo 63

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📸 RODOLFFO

— Já tô com fome, Ju. Vamos parar em algum lugar pra comer.

A gente já estava saindo de um parque muito lindo que tem lá. Estávamos em um espaço bem florido e o dia estava bem quente.

Oxente, menino. Tu tomou um café reforçado, com mainha te entupindo de cuscuz e bolo e tu já tá com fome? Benzadeus.

— São os hormônios da gravidez.

— É o que, homi?

— Ah, sabe o que é Ju. Desde que fiquei sabendo que ocê tá grávida eu tô sentindo uns sintomas também — falei meio sem graça.

— Hahahahahaha.

— Ei, não ri não. Eu não tô mentindo. Esses dias mesmo eu tava bem enjoado, tem base?

— Ai, me desculpe, bixinho — falou me dando um selinho — Não quis dizer que é fingimento, só achei engraçado. Dizem que isso pode acontecer mesmo.

— Sério?

— Sim. Isso mostra o quanto tu tá envolvido com a nossa gravidez.

— É, tô bem ansioso mesmo.

— É normal ficar assim e tá tudo bem sentir isso, meu amor. Não precisa ficar envergonhado.

— Obrigado por isso, Ju — falei aconchegando ela em um abraço.

Ficamos ali um tempo, abraçadinhos, vendo o movimento da rua. O cheiro dos cabelos dela me inebriava.

— Porém...

— Porém?

— Tá preparado quando começar a sentir as contrações? — ela perguntou sem se desconectar de mim e na hora, uma ponta de desespero surgiu, fazendo meu corpo tremer.

— Misericórdia, Ju. Nem me lembrei disso.

Ela se soltou de mim, com a cara bem seŕia, mas eu devia estar branco como papel e com os olhos arregalados, porque ela não aguentou um segundo e começou a rir de mim.

— Hahahaha.

Own, para de rir de mim, muié.

— Hahahah. É brincadeira, leso. Só tô mangando de tu.

Olhei pra ela um pouco grilado, mas também aliviado. Apesar de querer todas as delícias e dores desse período com ela, não sei se teria resistência pra dor de parto, não. Credo.

Pegamos o carro antigo dela e seguimos para mais uma etapa do nosso passeio express em Campina Grande.

— Ô Bastiana, agora que eu percebi. Cadê o retrovisor desse carro?

— Caiu — fiz uma careta de preocupação —  Mas não fique com medo, não. Confie na pilota aqui, que vai dar bom, visse.

Não falei nada, só me segurei no banco, fiz o sinal da cruz e rezei um pai nosso alto, com ela me olhando feio.

Depois de dirigir uma meia hora, ela anunciou que chegamos ao ao local que ela queria me apresentar.

— Ô moça, que lugar massa esse, heim.

— Aqui é o Sítio São João, um lugar de Campina Grande cheio de artesanato e comidas típicas. Tu vai gostar.

Entramos no espaço e estava bem cheio, com um povo lotando as barraquinhas de artesanato e as pequenas mesinhas dos restaurantes que tinham ali.

— O que o meu namorado grávido tá com vontade de comer?

Ocê pára de ser paiaça — ela riu e eu bufei — Eu acho que vou querer provar o baião de dois. Pode ser?

- Sim. Boa pedida. Aqui em Campina Grande nós chamamos de rubacão. Mas, a essência é a mesma: arroz, feijão verde, charque, nata e um queijinho coalho por cima. Nham,nham me deu água na boca, visse.

Rensga, deu em mim também.

Fizemos o pedido e nos acomodamos. Aguardamos meia hora e logo chegou o nosso prato.

Oxente, isso tá de comer de joelhos. Ô comidinha boa da piula.

— Verdade. É de comer rezando. Nóóó.

Acabamos de comer e fomos dar uma volta no lugar pra fazer digestão, porque segundo a Ju, ela estava com o "bucho cheio, visse".

Aproveitei a atmosfera do lugar e fui tirando fotos da decoração, das pessoas do artesanato. Quando chegamos próximo de uma ponte, Juli falou em tom de deboche.

Oxi, é melhor a gente não passar ali não, senão tamo lascado.

Uai, por quê? -— perguntei rindo.

Mas logo meu sorriso apagou, quando eu olhei para a placa que tinha ali em cima da ponte. Estava escrito " passou, casou! ". E o que tinha de mal nisso?

— É...melhor, não — disse num tom mais baixo.

Ju continuou rindo, mas percebeu que fiquei meio chateado.

— Ei, eu tarra brincando, seu bobo — ela disse me abraçando de lado.

Eu sei que era só uma brincadeira, mas, meu coração doeu quando, mesmo brincando, ela cogitou a possibilidade de não levar tão à sério nós dois.

Own, eu vou falar procê um negócio aqui: eu tô muito afim de subir o level desse nosso jogo. Un-hum.

Que minha mãe Selma, minha irmã Izadora e minha sobrinha Maluzinha não me ouçam, mas, Juliette se tornou a mulher mais importante da minha vida, e ainda por cima, tá carregando o nosso bolinho de amor na barriga!
Eu quero demais entrelaçar cada vez mais, as nossas vidas.

Resga, eu tô muito emotivo e sensível. Serão sintomas da gravidez também? Credo.

Resolvi deixar esse trem pra lá. Talvez aqui não é o lugar e nem a hora da gente conversar mais sobre isso. Para afastar o assunto, aproveitei que tinha um trio nordestino, tocando uns forrozinhos gostosin, peguei minha morena e dancei com ela ali, no meio do povo.

Oxi, seu safado. Por que não me disse que era bom no forró? —- ela disse surpreendida com a minha desenvoltura, enquanto a gente se embalava na dança.

— Juliette, eu já te disse que sou bom em tudo que eu faço.

— É um inxirido mesmo -— ela falou negando com a cabeça.

Dançamos grudadinhos, uns três forrós, até que ela cansou e pediu pra gente sentar em uns banquinhos que tinha ali perto.

— Humm, tô com uma vontade de azedinho.

— Quer que eu compre um sorvete de limão procê?

— Ah, não sei se quero limão — falou pensativa, mas logo seu rosto se iluminou — Já sei ! Quero sorvete de mangaba.

Uai, onde tem isso muié?

— Em qualquer barraquinha aqui, meu amor. Pega pra mim, pufavô.

— Nem precisava fazer essa cara, minha gravidinha. Eu vou lá — dei um beijo nela e segui para a barraquinha de sorvete.

Fiz o pedido e enquanto aguardava olhei para a direção em que ela estava e não acreditei quando vi aquele estrupício muito perto dela, deixando ela alterada.

Destino ou Acaso ? (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora