Capítulo 77

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⚖️ JULIETTE

— Com licença.

— Pois não, Vitória?

— Er...a Doutora Juliette, a advogada Paula está aí para falar com a senhora.

Eu quase engasguei com a água que eu estava tomando. O que será que essa atravessada quer comigo? 

— Tudo bem, Vitória. Peça para ela me aguardar na sala de reuniões, por gentileza.

— Certo. Já vou encaminhá-la pra lá.

Vitória saiu e eu já fui preparando o meu psicológico para o embate que estava por vir. De certo, a Carolina falou para a Paula sobre a nossa conversa na semana passada.

Aguardei uns minutinhos, dei uma checada na maquiagem, respirei fundo e fui até a sala. Ela estava sentada, com uma cara de poucos amigos, com as pernas cruzadas balançando sem parar. Parecia que estava soltando fumaça pelos ouvidos.


A-han — pigarriei pra chamar atenção — Como vai, doutora? — ela me olhou e me fulminou com o olhar e se levantou brava.


— Eu poderia estar melhor, doutora.

— Poderia?

— Sim. Poderia. Se a senhora não estivesse perseguindo a minha cliente — disse me fazendo cara de braba.

Ah, amiga...duas pessoas podem jogar esse jogo. É cara de brava, que tu quer. Então lá vai.

— Onde a doutora quer chegar? — perguntei cruzando os braços e fazendo a minha maior cara de fera com fome.

Ela me olhou assustada, titubeou, pois achou que eu iria recuar.

— É que...veja bem...  gaguejou e depois respirou fundo — A senhora procurou a minha cliente a fim de ameaçá-la, e isso não é ação de profissionais qualificados.

— Profissionais qualificados?

— Sim. Aliciar o cliente dos outros é bem coisa de advogadazinha paraíba, sem talento.

Ah, rapaz. Se tem duas coisas que me faz acabar completamente com o meu humor é desrespeitar a minha origem e menosprezar a minha capacidade no trabalho.

Como toda mulher nordestina, eu sei o quanto a gente se lasca pra mostrar que é forte, inteligente, que não foge à luta, que respeita as nossas tradições culturais e que vivemos em uma região de mil encantos e paisagens. 

Já sobre o meu trabalho, eu vivi  por muito tempo com o  Alê dizendo que eu não precisava de uma profissão, pois, quando tivessemos nossos filhos eu não teria como conciliar os dois. Quando eu bati o pé e fui em frente com o meu sonho de me tornar advogada, ele sempre fazia questão de me botar pra baixo, dizendo que eu era muito "frágil" para uma profissão que exigia severidade. Ele dizia isso porque ele sabia que esse ponto era o de maior insegurança pra mim.  

Mas agora, não. Eu não aceito que ninguém venha me diminuir por causa das minhas origens e muito menos dizer que eu não sou boa naquilo que eu escolhi pra minha vida profissional.

Destino ou Acaso ? (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora