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— Mee-chan! - a voz doce e suave abriu a porta de uma vez, fazendo-me derrubar alguns papéis no chão.— Yune!
Yun-Hee tinha aparecido de surpresa na ONG no sábado à tarde, enquanto eu ainda estava atolada de serviço. Eu agora ocupava a sua sala, mas ao contrário do passado estava tudo caótico, mal dava conta de cumprir a agenda do dia, quanto mais de organizar. Nós éramos duas coreanas de quase mesma altura, mas totalmente diferentes, ela tinha cabelos pretos extremamente lisos que iam até depois de sua cintura, a boca bem desenhada em uma pele clara extrema e dois olhos grandes de sua descendência americana.
O corpo esbelto, tinha ficado para trás com anos de treino e dieta, seu braço esquerdo era todo tatuado, do punho até o ombro, mas raramente eu a via descoberta. Fazia praticamente um mês que ela tinha deixado a ONG sob meu comando, e apesar dos percalços, eu estava determinada a não deixar as coisas fugirem do controle. Levantei-me de súbito, pulando alguns arquivos pelo chão e a abracei, era a única que eu conseguia ter contato físico ao longo dos anos.
— O que foi? O que houve? - apesar da mulher forte que todos conheciam, eu sabia bem o que ela enfrentava e notei seu semblante entristecido.
— Eu tive uma crise hoje. Depois de tantos anos... - ela falava entre soluços, provavelmente segurando as lágrimas.
Afastei-me, a observando, continuava a mulher mais bonita que eu tinha visto, mas estava notadamente abalada. Sacudiu um pouco a cabeça como se quisesse repudiar o assunto, sorri fraternalmente, ciente de sua personalidade, sabia que precisaria descobrir por mim mesma o que quer que tinha acontecido.
Conviver diretamente com ela ao longo de anos me fez perceber que toda a força que ela tinha, vinha de um extremo controle interno. Ela enfrentava tudo e todos, sempre resolvia os problemas da ONG, chegou até a enfrentar o governo em uma ação judicial de repatriação de alguns norte-coreanos, mas eu sabia que custava muito da suas forças físicas ter tanto controle mental.
E às vezes as pessoas não precisam de palavras, precisam ser acolhidas.
— Como andam as coisas? Minha nossa que caos. - ela falou, enquanto sentava na cadeira, retirando algumas pastas do caminho.
— Tudo bem... conseguimos empregar quase cem refugiados este mês, e temos pedidos à todo tempo, fora os eventos de arrecadação. — falei animada, tentando tirar seu foco da bagunça.
— E como vai a universidade? - ela começou a arrumar os papeis à minha frente em ordem alfabética.
— Nem acredito que acabo este semestre, mas ainda não aceitaram meu tema de conclusão, já não sei mais o que fazer...
— De novo?
— Sim, já é a terceira submissão, a orientadora insiste que eu preciso ter originalidade.
Yun-Hee levou a mão direita ao queixo, e eu já sabia que ela procurava uma solução para os meus problemas. Absolutamente toda vez que ela tinha algum percalço, fazia sua pose característica de Sherlok Holmes, aguardei pacientemente à observando por cima dos meus óculos de leitura.
— Você devia... ter algo mais significativo na sua tese, algo em que você acredita para realmente defender.
— Eu não tenho esperança no ser humano. - disse debochando e ela sorriu sacarsticamente.
— Fazendo psicologia e trabalhando em uma ONG de refugiados? Alyss...
— Ah, não começa, mas vou tentar achar algo inovador. - a cortei de imediato, sabia que jamais venceria uma discussão com ela.
— Bom, você anda com muito trabalho, melhor eu ir logo... - ela se levantou, parecendo mais animada. — Alyss, talvez eu devesse contratar alguém pra ficar aqui com você... - Yun-Hee olhava a bagunça ao redor, com os olhos arregalados.
— Não, não. Eu dou conta. Não precisa se preocupar. - a levei até a porta quase colocando-a para fora. — Você almoça comigo qualquer dia? Também quero saber das suas novidades. - a abracei novamente.
— Sim, você pode ir a HYBE quando quiser e se precisar, me chama pra absolutamente qualquer coisa...
— Não sei como você aguenta todos aqueles idols, argh. - fiz uma cara de nojo enquanto ela sorria. — Desculpe, eu sei que é sua realidade, mas... argh...
— Alguns deles gostam de jazz e de galerias de arte, sabia? No fundo eles são pessoas comuns...
— Ah, não me faça discorrer sobre os personagens e suas interpretações. - curvei a fronte a observando novamente por cima do óculos e ela saiu pelo corredor, rindo da minha perspicácia.
— O que será que aconteceu com você? - pensei alto. — Com certeza foi o tal Eun-woo.
Voltei a me sentar, tentando entender a bagunça que estava sob a mesa, mas meus pensamentos ainda se voltavam para Yun-Hee. Desde que nos conhecemos eu ouvia apenas suas histórias de crises e depressão, mas jamais a tinha visto passar por algo ao vivo, muitas vezes tinha imaginado o que fazer para ajudá-la.
Abri o computador rapidamente, pesquisando seu nome na aba superior. Algumas notícias apareceram de seu retorno à empresa do pai e sete garotos despontaram como maior grupo de k-pop da Coréia logo abaixo. Rolei a página, distraída, e Cha Eun-woo apareceu com sua própria banda em uma matéria sensacionalista.
"EX de herdeira coreana nunca mais teve um relacionamento depois do término."
A foto dele era quase um monumento: cabelo simetricamente arrumado, trajes da Dior impecáveis e um estilo invejável. Colei minha testa na tela, e observei seus olhos pretos entristecidos ao fundo.
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— De que adianta todo esse glamour? Um mero personagem... - um estalo me veio a mente e peguei o meu velho telefone da gaveta que eu usava só para emergências.
— Unnie, Song-Mee, como estás? Tenho uma nova submissão para a tese de conclusão. - falei animada, ainda piscando para o astro na tela do computador.
— Alyss, já é sua terceira tentativa... - ela parecia desacreditada.
— Mas agora eu tenho certeza que vai ser aceita... - respirei fundo. — O que você acha dos idols e suas máscaras?
— Opa. Algo interessante finalmente. Qual linha você quer seguir? - ela agora parecia outra pessoa ao telefone.
— Quero provar que a indústria dos idols apenas cria os personagens e que isso afeta a vida pessoal deles, a ponto deles não saberem quem são. - as palavras de Yun-Hee surgiram de imediato e minha mente.
Algo em que eu acreditasse.
Eu tinha certeza que os maiores idols da Coreia, criados na indústria perniciosa da música e do show business, jamais eram eles mesmos, sempre seus personagens. E com o passar dos anos, não tinham nenhuma ideia original, nenhum hobbie único, tudo era fabricado, inclusive o que se escondia das câmeras. Por isso, eu não consumia nada da indústria popular coreana.
— Mas você vai precisar de um estudo de caso.
Porcaria.
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Hegemony • Taehyung [+18]
Fanfiction┄ ♡ um dominador fora de série e uma virgem inconsequente, perfeição. 🕊 Rankings: - 3° lugar: Army - 13.12.2023; - 1° lugar: Taehyung - 24.01.2024; ┄ Sinopse: Taehyung sofre uma grande decepção pessoal quando encontra Alyss pela primeira ve...