Máscaras

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Por Kim Tae-hyung

"... quando vemos o exterior é muito fácil julgar, ainda mais alguém que se expõe o tempo inteiro, mas paramos para refletir se o que vemos é a realidade? Ponha-se por um segundo no lugar de um ídolo. Você abriria mão da sua família, por anos de ensaios e horas de reuniões? Trocaria um simples prazer frívolo de andar na rua, por meses trancado dentro de casa para produzir algo novo? Qual sensação você teria de ir à um lugar onde todo mundo o reconhece e ao mesmo tempo ninguém sabe nada sobre você?

A verdadeira face de um grande ídolo coreano, se faz no escuro, quando ele deita para dormir e não consegue, por sentir que carrega o peso do mundo, quando cada lugar que ele frequenta precisa ser estudado, preparado, previamente organizado. Em horas de estudos afinco e ensaios sendo observado e criticado em busca da perfeição. Não há uma vida instintiva, muito menos há espontaneidade, então se pergunte o que resta para quem vive preso dentro do seu astronômico alcance e da sua riqueza?

Uma vida de máscaras.

E o tempo passa também para quem vive do sucesso, contabiliza ele as lágrimas sobre os prêmios perdidos, sobre as críticas recebidas ao longos dos anos. Resta então à mente frágil se proteger em suas próprias fantasias, um idol constrói seu mundo paralelo, recuado, solitário, no completo desconhecido. Seja ele com prazeres escuros ou lugares comuns. Seja voltando à casa dos seus pais em segredo, ou vivendo perigosamente o que a sociedade considera proibido. Mas a proteção da mente, o mundo paralelo, a máscara sob a face não é suficiente.

Por trás do que é inventado e planejado, existe uma criança indefesa e amedrontada que não conseguiu crescer, que perdeu sua infância trancada, foi chicoteada pelos haters e destruída pelo lado vil da indústria. Mais uma vez o tempo também passou para a criança indefesa, revelando que a vida adulta chega independente se você conseguiu ou não acompanhá-la, e o idol bem sucedido é ao mesmo tempo solitário, continua carregando o peso do mundo sobre ombros apenas um pouco mais velhos.

E como então essa mente poderia sobreviver em meio ao caos da realidade versus a fantasia? Está aqui o desafio moderno da psicologia, entender as conexões de um ídolo. Alguém que vive realidades conflitantes e paralelas, uma exposta até os ossos da carne e outra obscura que corrói o corpo por dentro. E assim descobrimos que a única maneira de sobrevivência são nos detalhes inviáveis ao popular.

Seja um dia escondido do mundo, horas em um jogo comum anonimamente, noites com novas sensações e descobertas, minutos em meio aos irmãos em situações banais, toques de prazer com pessoas confiáveis, banhos de chuva no meio do campo, lagos gelados tenebrosos e desnudos. Desta maneira a mente se protege, se convence que o menos é suficiente para ser feliz e não o mais. E vivendo de menos mais uma vez o ídolo abdica da sua felicidade em favor dos seus familiares, dos seus amigos, quem sabe até de um grande amor.

E a sua liberdade viria como? Para isso o ídolo precisaria mais uma vez abrir mão de algo. Seu controle em favor de outro alguém adentrar sua vida, sua mente, seu coração, mas talvez nenhum deles esteja preparado para ceder e ainda que estivesse em sua frente, ele reconhecerá o amor que o aceita exatamente como ele é?"

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- O que me define?

Tudo me define.

Da neve que caía sem parar lá fora, aos meus dedos dos pés tentando se aquecer no tapete um a um, eu sentia tudo. Parecia que tudo tinha voltado à mim de uma vez, se eu estivesse afogando podia sentir submergir, se estivesse queimando, podia jurar resfriar. Se estivesse agonizando, o ar me viria a plenos pulmões.

Era o que ela tinha feito por mim.

Yeontan estava tão nervoso comigo aos prantos que começou a respirar sem controle e precisei parar de ler para acalmá-lo. Alyss contava nossa história com detalhes em sua tese e além disso tinha me decifrado por inteiro, meus sonhos, minha vida e meu maior medo: amar alguém a ponto de confiar plenamente e cegamente. Enxuguei minhas lágrimas com a camiseta jogada na poltrona ao meu lado, Yeontan ainda estava em alerta como se quisesse me proteger de algo inanimado, mas só alguém me fazia mal e era eu mesmo.

Joguei-me no chão ainda com o papel da tese úmido das minhas lágrimas na mão esquerda. Desde a perda da minha avó, eu me policiava muito para não extravasar meus sentimentos de maneira negativa, ou toda dor da depressão voltariam novamente, mas foi incontrolável. Chorei copiosamente como uma criança indefesa ali mesmo, sozinho. Chorei de saudades, de solidão, tristeza e culpa. Chorei sem parar até liberar toda angústia e sofrimento que eu ainda tinha em mim, a ida ao desconhecido nos próximos anos, o hiato do grupo que tinha sido minha única vida até ali, a solidão forçada pela vida de ídolo, meus vícios descontrolados que machucaram as pessoas que eu me importava.

Quando finalmente esvaí tudo que eu sentia, me descobri vazio finalmente. Eu não era uma página em branco que estava sendo preenchida, eu mesmo tinha me escrito na reclusão dos meus sentimentos. O cão enxugava minhas lágrimas me lambendo, tentando me consolar, inconscientemente eu segurava a liga, ainda não mão direita à acariciando. Quando levantei do chão, o quarto girou com minha fraqueza súbita, além de vazio por dentro eu tinha esquecido de mim mesmo no decorrer do tempo.

Tentei me recompor com um banho quente e demorado, Yeontan me esperava pacientemente quando saí, parecia não me reconhecer tanto quanto eu mesmo. Fui até a sala depois de trocar de roupa, mal tinha me dado conta mas o Natal se aproximava junto do meu aniversário, Alyss tinha total razão, o tempo passava sempre, independente do que eu fizesse ou não fizesse. Angel e Woo-shik conversavam distraídos quando voltei à cozinha.

— Onde... - minha voz grave falhou um pouco depois do choro intenso. — Onde ela está?

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Hegemony • Taehyung [+18]Onde histórias criam vida. Descubra agora