Hegemony • Taehyung [+18]

Irresponsabilidades

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— Hyung, eu posso acompanhar vocês. Estou de férias por um tempo, até os próximos compromissos do grupo.

— Não precisa, eu levo ela pro hospital e depois a deixo em casa.

Eles resolviam minha vida sem nem me consultar. Me perguntei se faziam isso sempre, mas eu já sabia a resposta. Fiz uma careta mas não reclamei, ter os dois comigo era a melhor sensação de paz e segurança que eu já tinha sentido. Eu sempre desejei uma família e eles eram o mais próximo disso que eu tinha, ainda que me tratassem como uma criança.

— Vocês dois parecem bem cansados, foi bom assim? - Woo-shik fez uma cara debochada, olhando para mim e para Taehyung. 

Eu tomei o copo de café da sua mão e comecei a beber, evitando a resposta. Meu corpo já dava indícios que não aguentaria muito tempo naquele sol escaldante, além disso minha cicatriz agora pulsava sem parar como se estivesse em carne viva, mas eu não queria ser mais uma vez o motivo de encerrar a alegria de todo mundo, então resolvi suportar calada um pouco.

— Foi ótimo, bom... então... - Taehyung engatou o dedo indicador no puxador da minha calça jeans e me puxou pela cintura, grudou o corpo no meu, encostando nossas testas.

Nem parecia se importar que estávamos a céu aberto, em pleno domingo no estacionamento de um prédio popular da cidade, nem ligava se seu melhor amigo assistia nós dois. E se qualquer pessoa o reconhecesse, provavelmente geraria caos por uma década.

— O quê? O quê? - eu mal tive tempo de assimilar o que ele fazia.

— Você promete se comportar? Você precisa descansar... e não esqueça de ver sua mochila. - ele me deu um beijo no topo da cabeça e eu só confirmei, com medo da reação do mais velho.

— Tá, tá, eu cuido dela... - Woo-shik me puxou pelo outro lado mas mesmo assim envolveu o amigo com a mão livre, por sobre seus ombros.

— Ótimo. Podemos jantar amanhã, só nós dois... - Taehyung sussurrou de propósito.

— Rum. - eles ainda se provocavam mesmo abraçados. — Você não tá com calor? Pode tirar essa roupa, tá quase 30 graus hoje. - quando Taehyung deu as costas, Woo-shik voltou os olhos para mim.

— Eu tô bem, tô bem... vou ficar assim mesmo, ainda sinto o clima das montanhas. ‐ eu estava derretendo desde que saí do carro, comecei a andar com pressa no sentido do Audi azul estacionado.

— Alyss, você tá suando que eu tô vendo... - o semblante brincalhão mudou de repente.

Com minha visão periférica eu vi Taehyung parar de caminhar até seu próprio carro, aguardando o desfecho da nossa conversa paralela. Woo-shik observou meu corpo de cima abaixo todo coberto e levantou a sobrancelha esquerda.

— Taehyung! - ele gritou, mas nem precisava, o idol já tinha voltado até nós.

— Deixa ele, oppa... eu tô bem... não tem nada eu ficar com a roupa... - eu tentava puxar Woo-shik pela camiseta no outro sentido, mas ele caminhava de encontro à Taehyung.

— O quê aconteceu? Eu falei pra você, eu não acredito que você fez isso com ela... você me prometeu. - o tom de voz aumentou gradativamente ressoando no estacionamento vazio da ONG.

— Olha, hyung...

— Woo-shik! - gritei o nome dele, além do calor, eu sentia a raiva me consumir, me estressando.

Se Woo-shik descobrisse, além da confusão, era capaz de eu perder tudo que tinha conquistado com Taehyung nos últimos dias, toda a confiança, todo o medo que ele tinha perdido voltariam. Eu não podia perder tudo, não a essa altura.

— Eu estou bem, vamos embora pro hospital. - fui firme, mas assim que terminei a frase senti algo quente escorrer no meu corpo.

— Ah, você tá bem? Vem cá, então... - ele me puxou com força pelo braço esquerdo apertando meu pulso bem na altura do machucado, mordi minha boca para não gritar com a dor. — Deixa eu ver...

— Me solta! - ele tentava levantar minha roupa para ver minha marca mas eu puxava a mão sem conseguir me libertar.

— Solta ela, hyung. - Taehyung também tinha mudado o tom de voz, colocou a mão direita no peito de Woo-shik, o afastando de mim.

E lá estávamos nós três, da pior maneira. Woo-shik me encarava decepcionado com a mão em meu braço e Taehyung o empurrava para trás a ponto de agredi-lo, já eu mal me mantinha em pé no meio da briga que nem devia ter acontecido.

— Vocês acham que eu sou o quê? Idiota? Olha o estado dela. - pelo rosto que Taehyung fez com a acusação, sabia que era perceptível meu mal-estar, para piorar a roupa e o sol estavam me fazendo quase sucumbir.

— Eu estou...

Merda!

— EU VOU MATAR VOCÊ, TAEHYUNG! - ele gritou a bel prazer. Antes que eu pudesse me afastar, sua mão livre puxou minha gola para baixo revelando meu pescoço todo marcado da coleira na noite passada. — SEU IRRESPONSÁVEL, INCONSEQUENTE... VOCÊ VAI MATAR ELA? É ISSO QUE VOCÊ QUER? ELA PRECISA DA PORRA DE UM TRANSPLANTE E VOCÊ COM SUA DOENÇA MENTAL DE DOMINAR AS PESSOAS!

— Ela quis, ela... - Taehyung tentava argumentar, mas as mãos de Woo-shik saíram de mim direto pro pescoço dele e ele começou a engasgar.

— WOO-SHIK, solta ele! SOLTA ELE!

— NÃO, ALYSS! JÁ CHEGA DESSE JOGO DE VOCÊS, ISSO VAI ACABAR HOJE! VOCÊ VAI ENCERRAR ISSO!

— Woo-shik eu tô...

Eu sentia meu próprio sangue escorrer pela minha barriga, sujando minha roupa.

— Alyss? - Taehyung me viu desfalecer e largar o copo de café de uma vez.

Perdi o controle do meu próprio corpo, o calor, o cansaço, as dores, a briga, eles dois se odiando, me venceram e de repente tudo começou a ficar turvo e preto. Os dois me ampararam antes que eu pudesse cair no chão e desmaiar totalmente.

— Não, não... Taehyung liga o carro, a gente precisa levar ela pro hospital... ela tá ardendo em febre! - a voz do mais velho parecia mais uma oração, bem distante de mim. — Alyss! Alyss! Não dorme, por favor... não fecha os olhos.

Ele me pôs nos braços, levando-me até a SUV. Os minutos seguintes misturavam minha imaginação com a realidade. Os dois discutiam sem parar, enquanto eu tentava me manter acordada. Woo-shik encostava a testa na minha para chamar minha atenção enquanto o mais novo dirigia quase descontrolado por Seoul, ainda assim eu sentia sua mão direita pressionar minha barriga tentando parar o sangramento.

— Me perdoem... - foi só o que eu consegui dizer antes de fechar completamente os olhos.

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